“Sabemos que a qualidade do que é produzido no País é muito boa, então é um reconhecimento e uma satisfação muito grande”, comemorou Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.
O segundo lugar de ambas as categorias foi dominado pela Ágora Investimentos, seguida da GO Associados em terceiro lugar no ranking geral e a Caixa Econômica Federal – também terceira colocada – no ranking básico.
O economista-chefe da Ágora, Dalton Gardimam, apontou que 2024 foi um ano marcado por volatilidade e surpresas no comportamento da inflação, mesmo diante de um ciclo intenso de aperto monetário por parte do Banco Central (BC). “A suposição sempre é de que vai haver alívio na inflação, porque a política monetária sempre funciona, a questão é saber como e quando. No Brasil, parece que as defasagens longas são ainda mais imprevisíveis. Isso tem sido uma pedra no sapato dos economistas”, afirma.
Apesar disso, Gardimam se disse honrado com o reconhecimento recebido. “Sabemos que alguns números têm um certo grau de aleatoriedade, mas é preciso ter na cabeça um bom cenário”, diz.
Já para Gesner Oliveira, da GO Associados, o maior desafio ao longo do ano foi a imprevisibilidade do câmbio. “É um indicador que desafia todo mundo, porque são muitos fatores e choques de natureza diversa que o influenciam”, detalha.
De fato, o dólar foi protagonista de uma trajetória inesperada em 2024. A moeda norte-americana começou o ano cotada a R$ 4,91 e, segundo o primeiro boletim Focus daquele ano, a expectativa era de que terminasse próximo dos R$ 4,90. No entanto, a moeda disparou ao longo dos meses, ultrapassando R$ 6,20 em dezembro e encerrando o ano a R$ 6,17.
O economista Hélcio Takeda, da Pezco, que ficou em quarto lugar no ranking Básico e quinto no Geral, atribuiu o bom desempenho da casa à leitura antecipada de deteriorações no quadro fiscal brasileiro. “Conseguimos identificar que alguns eventos que aconteceram em abril, como a mudança de meta dos resultados primários, poderiam gerar uma preocupação maior e interromper o ciclo de queda da Selic. Ficamos mais cautelosos”, relembra Takeda.
Esse movimento foi, de fato, antecipado por alguns analistas. A taxa Selic, que vinha sendo reduzida desde agosto de 2023, teve seu ciclo de corte interrompido em maio de 2024, quando estacionou em 10,5%. Já em setembro, o BC voltou a subir os juros, e a Selic terminou o ano em 11,25%.
Para Alexandre Ferreira, gerente nacional e economista-chefe da Caixa, o cenário de 2024 foi especialmente desafiador em razão das múltiplas fontes de incerteza — tanto externas quanto domésticas. “O desempenho da atividade econômica e do mercado de trabalho levou a reavaliações frequentes do hiato do produto”, comenta.
Ferreira também destacou o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul, ocorridas em maio, como um fator adicional de instabilidade. “Além dos impactos humanitários, o evento trouxe prejuízos econômicos relevantes, ampliando a dispersão dos cenários de inflação e de atividade, o que demandou novas estratégias”, diz. “Foi um ano que exigiu novos métodos, agilidade na leitura dos dados e disciplina na atualização de hipóteses”, emenda o economista.
Como funciona a premiação?
As instituições que enviam regularmente suas projeções econômicas ao Broadcast | Agência Estado são avaliadas com base em dois rankings: o Top 10 Geral e o Top 10 Básico.
A primeira categoria considera a precisão das estimativas para sete indicadores-chave da economia brasileira: IPCA, IGP-M, taxa Selic, câmbio, saldo da balança comercial, relação entre dívida líquida e PIB, e o próprio PIB. Já o Top 10 Básico foca em apenas quatro desses indicadores — IPCA, IGP-M, Selic e câmbio —, sendo uma categoria mais enxuta, mas ainda relevante.
O Broadcast divulga apenas as classificações das 10 instituições com melhor desempenho em cada categoria. Ou seja, apenas essas aparecem publicamente no ranking. As demais instituições, embora tenham suas projeções consideradas no cálculo das medianas apresentadas no boletim Focus, não têm seus nomes, nem posições divulgadas. Isso garante que a comparação entre as melhores seja transparente, ao mesmo tempo em que preserva a confidencialidade das demais.
Ainda assim, todas as instituições participantes recebem e-mails periódicos com a lista das dez melhores classificadas em cada categoria. E, caso alguma instituição queira saber em que posição ficou, mesmo fora do Top 10, pode solicitar diretamente ao Banco Central, que informará a colocação de forma sigilosa, por e-mail. Essa dinâmica visa estimular a melhoria contínua na qualidade das projeções, mantendo o equilíbrio entre reconhecimento público e respeito à privacidade dos participantes.
Quem pode concorrer?
Podem participar bancos, corretoras, consultorias, assets, instituições de ensino e outras que façam, periodicamente, projeções de indicadores econômicos.
Como funciona a avaliação?
A cada 3 meses (ou seja, quatro vezes por ano), as instituições participantes devem enviar suas projeções para os 6 trimestres seguintes (um ano e meio à frente) e também para o ano fechado (isto é, o total anual dos indicadores).
Essas previsões precisam ser entregues até o dia 10 dos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro — que marcam o fim de cada trimestre. Caso o dia 10 caia em um fim de semana ou feriado, as instituições têm a opção de enviar os dados no primeiro dia útil seguinte, sem prejuízo à participação no ranking.