Da Havaianas à Nike: campanhas polêmicas que derrubaram ações e apagaram bilhões em valor de mercado
Casos envolvendo Havaianas, Swatch, Nike, Bud Light e Cracker Barrel mostram como ruídos de imagem e boicotes podem gerar volatilidade imediata no mercado financeiro
Reações negativas a campanhas publicitárias têm provocado quedas rápidas nas ações e aumentado a volatilidade de empresas listadas na bolsa. (Foto: Adobe Stock)
Campanhas publicitárias criadas para engajar consumidores e reforçar posicionamentos de marca também podem se transformar em gatilhos de volatilidade no mercado financeiro. Quando a mensagem provoca reação negativa, boicotes e ruído político, o impacto não fica restrito à reputação — chega rapidamente ao pregão, derruba ações e apaga bilhões em valor de mercado, como mostram casos recentes envolvendo Havaianas, Swatch, Nike, Bud Light e Cracker Barrel.
No Brasil, um dos episódios mais recentes envolve a Havaianas, principal marca da Alpargatas (ALPA4). A nova campanha de Ano-Novo despertou forte reação política e levou a pedidos de boicote nas redes sociais.
O reflexo foi imediato no mercado: as ações da companhia caíram 2,39% no pregão desta segunda-feira (22), gerando perdas de cerca de R$ 152 milhões em valor de mercado. Durante o dia, os papéis chegaram a bater R$ 11,26, evidenciando a sensibilidade de investidores à repercussão negativa do caso.
Embora analistas tenham ressaltado que os efeitos tendem a ser limitados do ponto de vista dos fundamentos (como geração de caixa, operação e posicionamento competitivo), o episódio reforça como ruídos de imagem podem pressionar os preços no curto prazo.
Em situações como essa, o mercado reage menos a métricas financeiras tradicionais e mais à percepção de risco reputacional e à possibilidade de impacto nas vendas.
Casos internacionais
Em agosto de 2025, a relojoaria suíça Swatch foi alvo de críticas após veicular uma campanha considerada racista, na qual um modelo asiático fazia o gesto conhecido como “olhos puxados”.
A repercussão negativa levou a empresa a retirar o anúncio e pedir desculpas publicamente. Ainda assim, o dano já estava refletido na bolsa. As ações chegaram a cair até 4% em um único dia. Em comunicado, a companhia reconheceu o “prejuízo” causado pela peça publicitária.
Nos Estados Unidos, episódios desse tipo se repetem com frequência, sobretudo quando campanhas tocam em temas identitários ou políticos.
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Em 2018, a Nike viu seus papéis recuarem cerca de 2% após lançar uma campanha estrelada pelo ex-quarterback Colin Kaepernick, figura associada a protestos contra a violência policial e alvo de boicotes por grupos conservadores. Na época, a empresa defendeu a estratégia e manteve o posicionamento, mesmo diante da volatilidade inicial das ações.
Já em 2023, a cervejaria AB InBev enfrentou um desgaste mais prolongado com a marca Bud Light, após uma parceria com uma influenciadora trans gerar reação negativa e preconceituosa, além de boicotes organizados nas redes sociais. O episódio homofóbico por parte dos espectadores afetou as vendas do produto e pressionou a cotação da companhia, que acumulou queda de aproximadamente 3,3% em duas semanas após o início da controvérsia.
Mais recentemente, um caso menos ligado a causas sociais, mas igualmente ilustrativo, envolveu a rede de restaurantes Cracker Barrel.
Um “redesenho” do logotipo provocou críticas intensas nas redes sociais, levando as ações a despencarem quase 6% em um único dia e a acumularem uma perda total de até 16% em um curto período. O episódio mostrou que até mudanças visuais, quando mal recebidas pelo público, podem gerar forte aversão dos investidores.
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Esses casos, no Brasil e no exterior, indicam que campanhas publicitárias ou processos de rebranding podem se traduzir rapidamente em perdas de valor na bolsa. Ainda que, na maioria das vezes, o impacto seja temporário, a reação do mercado evidencia como reputação, percepção pública e estratégia de comunicação passaram a integrar, de forma direta, o cálculo de risco das empresas listadas.