A intensa competição por clientes entre instituições tradicionais e fintechs e a maior demanda por empréstimos sinalizam que o rápido aumento no crédito pessoal sem garantias nos últimos quatro anos enfraqueceu o perfil de risco do setor financeiro brasileiro em relação à média histórica, de acordo com análise da agência de classificação de risco Fitch.
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A casa afirma que os dados do Banco Central referentes à quantidade de cartões de crédito ativos no País no final de 2021, ao grau de endividamento das famílias e de inadimplência, em especial entre clientes de classes mais baixas, indicam mais pressões à frente.
“A Fitch espera que o custo de risco se mantenha acima do normal em 2023 dadas as incertezas sobre o ambiente operacional e pressões na qualidade dos ativos”, escreveram Raphael Nascimento, diretor da agência, e Claudio Gallina, diretor sênior, em relatório enviado a clientes.
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De acordo com eles, o número de 408 milhões de cartões de crédito ativos ao final de 2021 (dado mais recente do BC), ante uma população brasileira de cerca de 214 milhões de pessoas, sugerem um “aumento excessivo” na penetração dos cartões entre as famílias brasileiras. A maior competição entre bancos e fintechs e a facilitação na abertura de contas digitais ajudaram a inflar o número, dizem.
Segundo a análise, houve um rápido crescimento na participação dos cartões e de linhas sem garantias na carteira dos bancos desde o final de 2020. Ao mesmo tempo, no primeiro caso, a inadimplência tem atingido patamares recordes.
Na visão da Fitch, empresas monoproduto, com menor diversificação, estão mais vulneráveis a perdas causadas pela inadimplência, enquanto os grandes bancos têm provisões e capital suficientes para absorver o impacto. “As entidades começaram a apertar as políticas de crédito, mas riscos de uma deterioração mais forte na qualidade dos ativos podem aumentar, em especial se os prospectos para o crescimento do PIB pioraram de forma material, ou se a inflação e os juros se mantiverem altos por mais tempo.”
Nascimento e Gallina pontuam, ainda, que diante da persistência da inflação no País e da necessidade de ancorar expectativas, o BC sinalizou que manterá a taxa Selic alta por um período maior, o que tende a encarecer o serviço de dívida e, por consequência, pressionar a inadimplência entre pessoas físicas.
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