O dólar à vista opera em alta nesta quarta-feira (31), dia marcado por decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Às 16h27, a moeda americana sobe 0,71% a R$ 5,658, acumulando ganhos de 16,64% em 2024. Para analistas, a valorização recente da divisa tem explicações internas, relacionadas à crise de confiança na condução da política fiscal pelo governo federal.
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A tendência de alta do dólar pode ser verificada no mercado futuro. Nesta tarde, o contrato de dólar para agosto avança 1,01% a R$ 5,662. Por sua vez, o contrato com vencimento em setembro registra alta de 1,03% a R$ 5,663, enquanto o com vencimento em outubro tem valorização de 1,64% a R$ 5,698. Ao investir no dólar futuro, a pessoa se compromete em comprar ou vender uma determinada quantia da moeda, em uma data futura e conforme um preço acordado no valor presente.
Conforme explicamos nesta reportagem, a trajetória do dólar nos próximos meses dependerá em grande parte das decisões do Federal Reserve (Fed) e das sinalizações do governo brasileiro sobre a política fiscal. Quanto ao Fed, a autoridade monetária optou nesta quarta-feira por manter a taxa de juros americana na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, em linha com as expectativas do mercado.
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O Banco Central americano informou, em comunicado, que qualquer ajuste nos juros levará em consideração uma análise cuidadosa dos dados, da perspectiva econômica e do balanço de riscos. O Fed ainda pontuou que está preparado para ajustar a política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o atingimento das suas metas.
“A nossa perspectiva é de que, se os dados continuarem nessa trajetória positiva, veremos uma mudança de comunicação na reunião de setembro, com uma possível sinalização de um afrouxamento monetário no quarto trimestre deste ano”, destaca Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Reserach.
Riscos fiscais afetam a moeda americana
Um eventual ciclo de queda nos juros americanos pode trazer alívio sobre o dólar a nível global. No entanto, a elevação recente na taxa de câmbio brasileira também reflete os ruídos internos, principalmente fiscais. Em junho, a moeda americana chegou a subir mais de 6%, em meio a declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra a autonomia do Banco Central e o seu dirigente, Roberto Campos Neto.
Em julho, o governo adotou uma linha de comportamento diferente – além das declarações do presidente terem sido “mais comportadas”, foi anunciado um congelamento de R$ 15 bilhões em despesas para tentar atingir as metas do arcabouço fiscal neste ano. Do montante total a ser congelado, serão R$ 11,2 bilhões de bloqueio, pelo aumento de despesas obrigatórias, e R$ 3,8 bilhões de contingenciamento, devido à frustração de receitas, já considerando as pendências no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Senado.
Resta agora saber se as medidas serão suficientes para conter os ânimos do mercado. Em agosto, os investidores devem acompanhar o desenrolar das discussões em torno da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2025. O projeto tem o prazo limite até o dia 31 do mês para ser enviado ao Congresso.
Outras variáveis que mexem com o câmbio
Nos últimos dias, o real também tem sido pressionado por um desmonte de operações de “carry trade”. Essa estratégia de uma pessoa toma emprestado dinheiro em uma moeda com uma taxa de juros baixa, como o iene japonês, e o investe em uma moeda não tão depreciada em uma economia com taxa de juros mais alta, como o real.
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Posições desse tipo foram revertidas em meio às expectativas por um aperto na política monetária japonesa, que veio a ser confirmado nesta quarta-feira. O Banco do Japão (BoJ) decidiu nesta madrugada elevar os juros no país em 15 pontos-base. Com isso, as taxas de depósitos de curto prazo passaram para a faixa entre 0,15% e 0,25%. Vale lembrar que o BoJ abandonou sua política de juros negativos em março, elevando as taxas pela primeira vez em 17 anos.
Com a elevação dos juros no pais asiático, analistas ponderam que a moeda brasileira pode continuar sendo penalizada nos próximos dias, já que investidores devem ajustar suas posições para se alinhar com o novo cenário econômico japonês. Como explicamos nesta reportagem, o cenário no curto prazo deve ser marcado por um fortalecimento do iene e um enfraquecimento relativo do real frente ao dólar.