O que a inflação dos EUA tem a ver com a alta do bitcoin hoje
Com inflação abaixo do esperado em maio, cresce a aposta em cortes de juros nos EUA já no segundo semestre — cenário que favorece ativos de risco como o Bitcoin
O bitcoin é a maior criptomoeda em valor de mercado (Foto: Adobe Stock)
Nesta quarta-feira (11), foram divulgados os dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos Estados Unidos, que mostraram uma alta de 0,1% na inflação americana em maio ante abril. No acumulado de 12 meses, o índice avançou 2,4%, abaixo das expectativas do mercado — fique por dentro e leia esta reportagem do E-Investidor.
Atualmente, o Federal Reserve (Fed) mantém a taxa de juros dos EUA no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano. No entanto, com a inflação desacelerando de forma consistente, cresce a expectativa de que o banco central americano possa iniciar um ciclo de cortes nas próximas reuniões — o que criaria um ambiente mais favorável para ativos de risco, como as criptomoedas — dentre elas, o Bitcoin.
Isso porque juros mais baixos reduzem a atratividade de investimentosconservadores, como títulos públicos, e incentivam a busca por alternativas com maior potencial de retorno — mesmo que mais voláteis, como o Bitcoin. O mercado, portanto, está cada vez mais atento a sinais de que a inflação está sob controle, condição essencial para que o Fed altere sua postura.
A divulgação do CPI abaixo do esperado reforçou o otimismo dos investidores. Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, destaca que “os três principais indicadores do CPI vieram abaixo do previsto”. Para ele, isso animou os mercados, pressionou o dólar — que chegou a operar na mínima de R$ 5,54 — e aumentou a pressão sobre o Fed. “Lembrando que na próxima quarta-feira [dia 18 de junho] teremos a ‘super quarta’. Esse dado é extremamente importante para quem, como o Trump, pressiona por redução nas taxas”, afirma.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, complementa que os dados da inflação trazem algum alívio quanto à trajetória inflacionária, especialmente por ainda não refletirem os impactos das novas tarifas de importação. Segundo ele, apesar da preocupação com a progressão futura dos preços, o resultado reforça as apostas em um possível início do ciclo de corte de juros já no segundo semestre.
Já John Lloyd, chefe global de Crédito Multissetorial da Janus Henderson, observa que este é o quarto relatório consecutivo com inflação mensal próxima ou abaixo de 0,2%, o que, segundo ele, deve dar ao Fed mais confiança de que está no caminho certo para alcançar a meta de inflação de 2%. “É também um dado relevante porque mostra que a economia está enfrentando os primeiros impactos das políticas comerciais sem pressionar os preços. Isso fortalece a percepção de que partimos de um ponto sólido”, ressalta.
Lloyd acredita que o banco americano ainda deve esperar para entender “os efeitos completos dessas medidas antes de alterar a política de juros, mas o relatório oferece mais conforto quanto à inflação subjacente”, afirma. O chefe global acrescenta ainda que o mercado já precifica pelo menos dois cortes de 25 pontos-base nos juros até o fim do ano, e que este CPI reforça a confiança de que esses cortes devem se concretizar.
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Essa também é a leitura da Oxford Economics, segundo o Broadcast. A consultoria britânica acredita que o dado encoraja o Federal Reserve, mas, ao mesmo tempo, não aumenta significativamente as chances de o banco central americano cortar os juros antes de dezembro. “O Fed quer observar o comportamento da inflação durante o verão, quando os reajustes de tarifas devem ter um impacto mais forte”, afirma.
Esse ambiente mais benigno para a inflação sustenta o movimento de valorização do Bitcoin, que às 10h20 (horário de Brasília) avançava 0,35%, cotado a US$ 109,7 mil, aproximando-se novamente de sua máxima histórica. Mais cedo, o ativo chegou a registrar leve depreciação, refletindo uma correção técnica. Mas, ao longo da semana, ganhou fôlego com as expectativas sobre as negociações comerciais entre Estados Unidos e China, e agora reage positivamente ao alívio inflacionário.
Guilherme Prado, CM da Bitget no Brasil, explica que o movimento do bitcoin é impulsionado por um fluxo institucional consistente, com destaque para aportes em Exchange Traded Funds (ETFs) ligados a gigantes como BlackRock e Fidelity. Ele também observa que o ativo mantém uma estrutura técnica altista, com suporte das médias móveis e aumento de volume. “No curto prazo, o mercado adota uma postura de cautela otimista. Se o suporte em US$ 105 mil se mantiver e os dados de inflação continuarem dentro do esperado, o BTC [Bitcoin] pode buscar a região dos US$ 112 mil a US$ 115 mil. Por outro lado, uma surpresa negativa pode trazer correções mais acentuadas”, avalia.
O cenário, portanto, permanece favorável para o bitcoin, que se beneficia tanto do ambiente macroeconômico externo quanto do aumento do interesse institucional. A combinação entre inflação controlada nos Estados Unidos, possibilidade de corte de juros e apetite por risco cria uma janela de oportunidade para o ativo digital continuar sua trajetória de valorização.
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Ainda assim, especialistas alertam que o mercado deve seguir atento aos próximos movimentos do Fed e aos desdobramentos das políticas comerciais globais, especialmente no que diz respeito à relação entre EUA e China. A chamada “Super Quarta”, marcada para o dia 18 de junho, pode oferecer novas sinalizações sobre os rumos da política monetária americana — e, consequentemente, sobre o fôlego dos criptoativos nos próximos meses.