

Após a notícia de que dois bancos regionais americanos – o Zions Bancorp e o Western Alliance Bancorp – reportaram calotes em hipotecas comerciais nesta quinta (16), os temores de uma nova crise de crédito voltaram a assombrar o mercado.
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Após a notícia de que dois bancos regionais americanos – o Zions Bancorp e o Western Alliance Bancorp – reportaram calotes em hipotecas comerciais nesta quinta (16), os temores de uma nova crise de crédito voltaram a assombrar o mercado.
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Embora a aversão ao risco tenha tomado as bolsas na última quinta-feira, os analistas descartam risco de colapso como o ocorrido na crise do subprime em 2008. Para o investidor, a estratégia é diversificar e equilibrar exposição entre ativos de risco e reservas de valor. Naquela quinta, as bolsas americanas e brasileira recuaram, mas, nesta sexta (17), fecharam em território positivo.
“A postura de um investidor perante esse aumento de volatilidade é justamente manter a calma e não tomar decisões precipitadas”, diz Bruno Yamashita, analista de Alocação e Inteligência da Avenue. “Quando o investidor já tem uma carteira diversificada e alocada de acordo com o perfil de risco, ele já está protegido. Sair em momento de baixa pode não ser a melhor opção”, opina.
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Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, também defende a diversificação como forma de proteger e equilibrar ativos de risco e reservas de valor. “Embora a saúde dos bancos americanos ainda não dê sinais de enfraquecimento, é sempre importante manter uma postura de diversificação com proteção contra riscos domésticos e setoriais”, comenta.
A crise reacendeu a preocupação com solvência de títulos privados. O mercado global havia se acostumado com spreads baixos, mal precificando o risco de crédito, e agora chegou a hora dos ajustes, diz Alexandre Brito, sócio da Finacap. “O aumento da liquidez e a entrada de novos players no mercado de crédito comprimiram os prêmios de risco, tanto nos EUA quanto no Brasil”, diz. Segundo ele, esse fenômeno levou investidores a aceitar retornos cada vez menores para riscos cada vez maiores. “A tensão atual é, em parte, uma correção dessa distorção.”
A compressão dos spreads e o excesso de otimismo com o crédito também ocorreram por aqui. No Brasil o movimento foi impulsionado pelos títulos isentos e pela corrida para a renda fixa em meio aos juros altos. “O crescimento dos FIDCs e de novas empresas tomaram o espaço antes dominado pelos bancos”, comenta Briot da Finacap. Os FIDCs são os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, um tipo de investimento em renda fixa que aplica seu patrimônio em valores que empresas têm a receber (como duplicatas, aluguéis e parcelas de cartão de crédito).
A alta da aversão global ao risco afeta mercados emergentes como o Brasil. Zogbi explica que o contágio via mercado financeiro é chamado de “flight to quality”. Esse vôo para a qualidade acontece quando os investidores globais passam a buscar ativos de proteção e menos voláteis.
Essa movimentação afeta o câmbio, que tende a sofrer pressão de desvalorização por uma eventual fuga de capital. Na bolsa, o risco é o mesmo, com perda de confiança e de apetite por risco que termina afetando primeiro os emergentes.
A nova tensão nos bancos regionais americanos vem do medo de que alguns deles não consigam pagar o que devem (problema de solvência) e de que a qualidade dos empréstimos que eles fizeram esteja piorando. Além disso, há preocupação com empresas que emprestam dinheiro fora do sistema bancário tradicional — o chamado shadow banking — que têm menos regras e supervisão, o que pode aumentar o risco de calote e perdas no mercado.
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A crise atual também reflete a mudança estrutural do mercado de crédito nos EUA, marcada pela entrada de gestoras de crédito privado. “Tanto aqui quanto lá fora houve um crescimento considerável de gestoras especialistas em crédito privado e estruturado”, explica o sócio da Finacap, Alexandre Brito, salientando que as novas estruturas especializadas trouxeram uma redução grande do spread de crédito. Ou seja, o investidor passou a aceitar menos prêmio em títulos privados em relação aos ativos livres de risco, ou seja, os títulos públicos.
No Brasil o fenômeno foi estimulado pelos juros altos, que estimularam a busca por renda fixa e, no mercado de isentos, há até títulos de empresas de alta qualidade pagando spreads negativos em relação aos títulos do Tesouro.
Embora o epicentro nos EUA sejam as novas gestoras que lançam papéis lastreados em crédito, os bancos regionais acabam entrando pois subscreveram esses títulos. “Quando uma dessas empresas quebra, o efeito dominó chega aos bancos que financiaram ou carregavam parte dessas carteiras”, explica o especialista da Finacap.
Para Zogbi, há diferenças para o cenário de 2023, quando houve a quebra do banco regional Sillicon Valley Bank (SVB). Naquele episódio, o problema era de liquidez. “O SVB havia comprado grandes quantidades de títulos de longo prazo a taxas baixas, o que se tornou um problema quando as taxas de juros americanas subiram rapidamente no ciclo de aperto monetário”, relembra Zogby.
O caso agora é de solvência e de qualidade dos ativos, o que deixaria o caso mais parecido com a crise das hipotecas do subprime de 2008. Yamashita, da Avenue, descarta, por equanto, um risco de escalada sistêmica. Ele comenta que a temporada de balanços dos grandes bancos americanos começou na terça-feira (14) com resultados mostrando uma redução na média das provisões. “Isso significa que eles estão vendo um risco de inadimplência menor, demonstra que não é um contágio sistêmico do sistema financeiro americano“, observa.
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Para Brito, da Finacap, a questão agora é de reequilíbrio do mercado. Segundo ele, podem haver outras ‘baratas’, mas isso não significa problema sistêmico. “O movimento de realocação para ativos de maior qualidade já é visível tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Esse comportamento é uma forma de correção natural após anos de liquidez excessiva e spreads comprimidos”, observa Brito em relação ao mercado de crédito privado.
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