O dólar recuou pela terceira sessão consecutiva nesta segunda-feira, a uma mínima desde o início de março de 2020, em novo dia de força para moedas de países exportadores de commodities, enquanto o patamar alto dos juros básicos brasileiros continuava impulsionando o real, líder global de desempenho no acumulado de 2022.
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Após chegar a tocar 4,6045 reais na menor cotação do dia, a moeda norte-americana à vista fechou em queda de 1,27%, a 4,6075 na venda, mínima para encerramento desde 4 de março de 2020 (4,5806) e aprofundando suas perdas no ano para 17,33%.
Na B3, às 17:13 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,08%, a 4,6410 reais.
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Parte dos mercados associou o recuo do dólar na sessão a sua fraqueza internacional contra divisas de países exportadores de commodities, que têm se beneficiado de temores de restrição da oferta de produtos, do petróleo ao milho, gerados pela guerra na Ucrânia.
Com nova disparada dos contratos futuros desse tipo de insumo nesta segunda-feira, em meio à perspectiva de imposição de novas sanções contra a Rússia, os pesos colombiano, chileno e mexicano, bem como sol peruano e rand sul-africano, se valorizaram na sessão, ampliando seus ganhos expressivos no ano.
Além de se beneficiar da alta das commodities, “o Brasil se credenciou hoje como um país oportuno para receber fluxo estrangeiro e excesso de liquidez: temos entre os Brics uma democracia estável… e estamos com juros altíssimos”, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
“Com a pandemia, Brasil derrubou os juros para 2% ao ano, patamar que não faz frente ao risco Brasil, e o dólar saltou a 5,80 reais. Aí agora a Selic volta a disparar, vem de 2% para 11,75% –e podendo chegar a 14%–, e é natural que esse desmonte de posições aconteça e que o fluxo se inverta” a favor da moeda local, continuou o especialista.
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Um maior diferencial de juros entre o Brasil e economias avançadas torna o mercado doméstico atraente para estratégias de investimento que buscam lucrar com a tomada de empréstimo num país de taxas baixas e aplicação desse dinheiro numa praça de retornos mais elevados.
Nos Estados Unidos, referência global para investimentos, os juros básicos estão atualmente numa faixa de 0,25% a 0,5%, e, embora o Federal Reserve tenha dado início ao que promete ser um ciclo intenso de aperto monetário, o diferencial em relação à Selic segue amplo, apontou Bergallo.
O Banco Central do Brasil começou a subir os juros em março de 2021, tirando a Selic de uma mínima histórica. Desde então, promoveu aperto acumulado de 9,75 pontos, e já indicou que haverá dose adicional de 1 ponto em maio. “A alta da Selic demorou para reverberar, mas, depois que fez efeito, foi mínima atrás de mínima” para o dólar, disse Bergallo.
A moeda norte-americana vem rompendo barreiras técnicas de maneira sucessiva, e está rondando seus patamares pré-pandemia. No final de fevereiro de 2020, antes de a Covid-19 abalar os mercados financeiros de todo o mundo, a divisa estava sendo negociada em torno de 4,50 reais.
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Falando sobre as perspectivas para o restante do ano, Bergallo disse acreditar ser difícil ver o dólar abaixo de 4,50, devido a riscos fiscais locais, mas também não acha que a moeda vai recuperar muito terreno em relação aos patamares atuais, ainda pressionada pela atratividade da taxa Selic.