O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 2, em alta de 0,24%, cotado a R$ 5,2039, em pregão de liquidez reduzida e após oscilação de apenas cerca de quatro centavos entre a mínima (R$ 5,1816) e a máxima (R$ 5,2281).
Leia também
O escorregão do real se deu em sintonia com a onda de valorização da moeda americana e das taxas dos Treasuries no exterior. Indicadores divulgados hoje nos EUA, como pedidos de auxílio-desemprego e custo unitário da mão de obra, sugerem que o mercado de trabalho americano continua bastante aquecido, o que reforça a perspectiva de continuidade do processo de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o BC americano).
Operadores observam que contribuiu para o tropeço da moeda brasileira a falta de apetite pela bolsa doméstica, em meio a sinais de desaceleração da economia revelados pelo resultado do PIB no quarto trimestre. Também provocaram desconforto falas de Lula e de seus ministros críticas à gestão da política monetária e à política de preços e de distribuição de dividendos da Petrobras.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
“Vimos globalmente uma valorização do dólar e alta das taxas dos Treasuries, com dados nos EUA mostrando mercado de trabalho bem resiliente, o que sugere inflação ainda elevada e mais altas de juros”, afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, ressaltando que o mercado já espera taxa de juros americana – hoje na faixa de 4,50% a 4,75% – entre 5,5% e 6%.
Segundo Rolha, além do ambiente externo desfavorável a emergentes, pesam contra o real as incertezas políticas e fiscais, dada a espera pela proposta de novo arcabouço fiscal e a pressão do governo sobre o Banco Central. “Tivemos hoje fala da ministra do Planejamento questionado o nível de juros, o que azedou a curva de juros e pressionou o câmbio. O mercado está muito sensível a sinais de Brasília, o que aumenta a volatilidade da moeda”, afirma.
Vista como contraponto à ala desenvolvimentista da equipe econômica, Tebet se juntou hoje ao coro contra o nível da taxa Selic, ao dizer, como o presidente Lula, que não há inflação de demanda. “Não queremos nenhuma generosidade, mas um gesto positivo a favor do Brasil na próxima reunião do Copom”, afirmou Tebet, em referência ao Comitê de Política Monetária do Banco Central, que se reúne nos dias 21 e 22 deste mês.
Pela manhã, o IBGE divulgou que o PIB caiu 0,2% no quarto trimestre em relação ao terceiro, enquanto a mediana de Projeções Broadcast era de retração de 0,1%. No fechamento de 2022, o PIB cresceu 2,9%, levemente abaixo da mediana (3%). Analistas veem sinais claros de perda de fôlego da atividade na passagem de 2022 para este ano.
Publicidade
Em cerimônia de lançamento do novo Bolsa Família, Haddad disse que, no passado, o BC precisou subir os juros como reação “às atitudes do governo anterior no período eleitoral”, o que provocou desaceleração da economia. O ministro disse que as medidas que a Fazenda vem tomando “vem justamente ao encontro do desejo do BC em reduzir taxa de juros”. À tarde, Haddad voltou a falar em “harmonizar” as políticas fiscal e monetária e disse que seu time vai concluir nesta semana o desenho da âncora fiscal que vai substituir a regra do teto de gastos.
Já Lula criticou novamente a distribuição de dividendos pela Petrobras, dizendo que metade desses recursos deveria ir para investimentos. O presidente da petroleira, Jean Paul Prates, também questionou a distribuição de dividendos e voltou a acenar com abandono da política de preços de paridade de importação (PPI) para combustíveis, em teleconferência com investidores. Ontem, a Petrobras divulgou que obteve lucro líquido recorde de R$ 188,3 bilhões em 2022.
“O mercado não gosta dessas falas de ministros e do presidente da Petrobras sobre possíveis mudanças e já começa a agir previamente, provocando a queda das ações da empresa e da bolsa, o que contribui para alta do dólar”, afirma o economista-chefe da Valor Investimentos, Piter Carvalho, acrescentado houve uma puxada forte da moeda americana no exterior hoje.