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Dólar cai para menor nível em 5 meses com sinal de BC americano

Moeda encerrou o dia em baixa de 0,32%, cotada a R$ 5,0605

Dólar cai para menor nível em 5 meses com sinal de BC americano
Notas de dólar 08/02/2021. REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/File Photo

O mercado de câmbio doméstico foi engolfado na reta final dos negócios pela onda de desvalorização mais aguda da moeda americana no exterior em meio à fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após o BC americano ter, como esperado, desacelerado o ritmo de alta de juros para 25 pontos-base. Embora Powell tenha, assim como o comunicado do Fed, acenado com continuidade de aperto monetário e manutenção de juros elevados por mais tempo, os investidores parecem ter se apegado à menção de que o processo de desinflação da economia americana já está em curso.

Com virada para o lado negativo na meia hora final da sessão, quando registrou mínima a R$ 5,0500, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 0,32%, cotado a R$ 5,0605 – menor valor de fechamento desde 29 de agosto de 2022 (R$ 5,0334). Com isso, a moeda já acumula baixa de 1,01% na semana e de 4,16% no ano.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou em queda ao longo de toda a sessão e registrou mínima aos 101,055 pontos, na esteira das declarações de Powell. O dólar também recuou frente à ampla maioria de divisas emergente e de países exportadores de commodities, com perdas de mais de 1% em relação a pares do real como peso chileno e mexicano.

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Em seu comunicado, o Fed anunciou elevação da taxa de juros em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,50% para 4,75% ao ano e antecipou que novos aumentos dos juros “serão apropriados” para levar a política monetária a campo suficientemente restritivo para pôr à inflação rumo à meta de 2%.

Powell reforçou em sua fala que o BC americano não discute neste momento eventual pausa no processo de aperto e que, caso as projeções se confirmarem, não haverá corte de juros em 2023, diferentemente do que prevê o mercado. De outro lado, o chairman afirmou que o processo de desinflação da economia americana já está em andamento, confirmando a leitura de que o pico da inflação ficou para trás.

“O mercado queria uma novidade positiva. Powell disse que a inflação está desacelerando devagar, mas está desacelerando, e sinalizou que as expectativas estão ancoradas. Foi o que mais mexeu com o mercado. A ideia é que o aperto monetário continua, mas não será prolongado por muito mais tempo, e que a taxa terminal vai ficar apenas um pouco acima de 5%”, afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, acrescentando que indicadores da economia dos EUA, como índice de custo de emprego e ganhos de massa salarial já apresentam crescimento mais moderado.

Apesar do sinal predominante de baixa da moeda americana lá fora durante todo o dia, o dólar esboçou, antes do Fed, uma alta por aqui, tendo operado pontualmente acima do teto de R$ 5,10, com máxima a R$ 5,1122. Operadores atribuíam o escorregão do real a ajustes técnicos, após a disputa pela última taxa Ptax de janeiro ontem, e a movimento mais intenso de realização de lucros de investidores estrangeiros na bolsa.

Havia ainda certa cautela diante da eleição para os presidentes da Câmara e, em especial, do Senado, com a disputa entre o senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do governo Jair Bolsonaro, e o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG), candidato à reeleição. A reconfiguração do Congresso na eleição de 2022, com perfil mais à direita, e uma eventual vitória de Marinho, poderia, em tese, prejudicar a governabilidade. No fim, Pacheco foi reeleito.

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Dados do fluxo cambial divulgado à tarde confirmaram relato de operadores de forte ingresso de capital externo ao longo para ativos locais nos últimos dias. Na semana passada (de 23 a 27), o fluxo foi positivo em US$ 5,190 bilhões, com entrada líquida de US$ 3,612 bilhões pelo canal financeiro. No acumulado de janeiro (até 27), o fluxo cambial total é positivo em R$ 4,198 bilhões.

“A bolsa sofreu hoje e tivemos na maior parte do dia um processo de rebalanceamento de carteiras e reequilíbrio técnico que fez o dólar subir por aqui”, afirma o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, para quem a tendência ainda é de apreciação do real. “Temos uma barreira técnica nos R$ 5,00, mas podemos ver o dólar escorregar mais porque tem bastante fluxo estrangeiro”.

Como esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou hoje à noite manutenção da taxa Selic em 13,75%, o que garante um juro real elevado e tende a atrair capitais para operações de carry trade, que exploram diferencial de juros entre países.