(Antonio Perez, Estadão Conteúdo) — O dólar à vista recuou na sessão desta quinta-feira (8), devolvendo parte do ganho de 1,63% registrado na terça-feira (6), quando o pregão foi marcado por aversão ao risco e cautela em torno de possível aguçamento das tensões políticas no 7 de setembro. Segundo operadores, fluxo positivo, correção de postura excessivamente cautelosa no pré-feriado e ajuste à valorização das divisas emergentes ontem, quando o mercado local estava fechado, deram fôlego à moeda brasileira hoje.
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Em queda desde a abertura, o dólar chegou a romper o piso de R$ 5,2 nas primeiras horas de negociação, quando desceu até a mínima de R$ 5,18200 (-1,07%). Esse movimento se dava na contramão do avanço da moeda americana frente a divisas fortes e emergentes pela manhã, em meio ao reforço das apostas em uma postura agressiva do Federal Reserve, após discurso do presidente da instituição, Jerome Powell.
No início da tarde, quando as bolsas em Nova York viraram para o negativo, arrastando o Ibovespa, que chegou a perder a linha dos 109 mil pontos, o dólar spot reduziu bastante a queda e o contrato futuro para outubro operou pontualmente em terreno positivo. No restante do pregão, com melhora do humor nas bolsas nos EUA e fortalecimento de pares latino-americanos do real, como peso mexicano e chileno, o dólar voltou a trabalhar em queda firme por aqui. No fim do dia, a moeda era negociada a R$ 5,2062, em baixa de 0,61%, passando a apresentar recuo de 0,41% na semana.
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“A maioria das moedas de países emergentes está apreciando, com destaque para real. Vale lembrar que ontem, com os mercados fechados no Brasil, o dólar depreciou contra a maioria das moedas, então isso explica em parte a performance do real hoje”, afirma o especialista em mercados internacionais do C6 Bank, Gabriel Cunha.
Lá fora, o índice DXY – termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes – chegou a superar os 110,200 pontos, com máxima aos 110,243 pontos. Quando o mercado local fechou, apresentava leve queda, ao redor dos 109,600 pontos.
Essa virada veio com perdas pesadas frente à coroa sueca e desaceleração dos ganhos ante euro, iene e libra esterlina. Como esperado por ala majoritária do mercado, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou alta da taxa de juros da zona do euro em 75 pontos-base. A presidente da instituição, Christine Lagarde, adotou tom duro e sinalizou com ao menos duas elevações dos juros nas próximas cinco reuniões de política monetária. Não foi suficiente para dar fôlego ao euro, que continua a sofrer diante da perspectiva de aperto monetário nos EUA e da própria fragilidade da economia europeia, às voltas com a crise energética provocada pela interrupção do fornecimento de gás pela Rússia.
Em evento, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse hoje que a instituição precisa “agir agora com firmeza” e “manter esse trabalho de controle da inflação até que ele seja concluído”. Em aparente recado a quem já espera corte dos Fed Funds em 2023, Powell afirmou que a “história adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro da política monetária”. O mercado tratou logo de ajustar as expectativas. Monitoramento do CME Group mostrou que a chances de uma alta de 75 pontos-base na taxa básica americana neste mês superaram 80% ainda pela manhã.
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“As falas dos presidentes do BCE e do Fed pesaram no preço do dólar hoje. De um lado, Lagarde adotou um tom mais austero e avisou que os juros continuarão subindo na Europa. Já Powell fez um discurso menos duro que o anterior, no evento de Jackson Hole, mas sinalizando que os juros devem permanecer altos por mais tempo”, afirma Cunha, do C6 Bank.
“O tom mais duro de Lagarde fez a taxa curta de juros abrir 20 pontos-base na Europa, impactando os ativos de risco e levando a uma depreciação do principal índice de ações da Europa, do euro e da maioria das moedas dos demais países europeus.”
Por aqui, o BC divulgou que o fluxo cambial na semana passada (de 29 de agosto a 2 de setembro) foi positivo em US$ 1,647 bilhão, graças à entrada líquida de US$ 3,294 bilhões via comércio exterior. Já o canal financeiro apresentou saídas líquidas de US$ 1,646 bilhão. No fechamento de agosto, o fluxo positivo foi modesto, de apenas US$ 217 milhões em agosto – com entrada de US$ 1,045 bilhão do lado comercial e saída de US$ 828 milhões pela conta financeira.
Do lado político, o presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de usar o 7 de setembro para fazer campanha eleitoral e de ameaçar novamente a estabilidade institucional, voltou a acenar com mais benesses sociais. Na propaganda eleitoral que foi ao ar na TV nesta quinta-feira, a campanha à reeleição prometeu conceder adicional de R$ 200 a beneficiários do Auxílio Brasil que conseguirem trabalho, o que levaria o total a R$ 800.
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“Embora a eleição presidencial de outubro seja um risco no Brasil, esperamos que o mercado continue esperando um resultado relativamente neutro para a política econômica, com a incerteza inferior à de outras eleições na região, dado que os dois candidatos líderes são bem conhecidos”, afirmam analistas do Bank of America, em relatório, ponderando que o aumento de juros nos EUA e a recuperação gradual da China podem favorecer o dólar.