O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira (29), em alta firme, em dia marcado por fortalecimento global da moeda americana, em especial na comparação com divisas emergentes, e avanço das taxas dos Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) mais longos.
Leia também
Por aqui, o aumento da percepção de risco fiscal e arranhões à credibilidade da política monetária, somados à postura cautelosa antes do feriado de Corpus Christi, também contribuíram, embora em menor medida, para o tropeço do real.
Operadores afirmam que, em razão da ausência de negócios no mercado local amanhã, investidores antecipam parte da rolagem de posições no segmento futuro típicas de fim de mês e já se movimentam para a disputa técnica pela formação da última taxa ptax de maio, na sexta-feira, 31, quando a liquidez pode ser menor.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar ultrapassou a barreira de R$ 5,20 ainda pela manhã e tocou máxima a R$ 5,2138 no início da tarde. No fim do dia, a moeda subia 1,06%, cotada a R$ 5,2084 – maior valor de fechamento desde 18 de abril (R$ 5,2502). Com os ganhos de hoje, o dólar passou a apresentar leve alta no acumulado do mês (0,31%).
Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para junho teve bom giro, acima de US$ 15 bilhões. Ontem, os investidores estrangeiros aumentaram a posição comprada em derivativos cambiais (que ganham quando o dólar sobe) em US$ 1,45 bilhão, para US$ 66,4 bilhões, segundo dados da B3 compilados pela Warren Investimentos.
O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, afirma que o comportamento do dólar no mercado local está muito ligado aos movimentos das Treasuries. Ele observa que leilões de títulos americanos com demanda abaixo da média, como os realizados ontem e hoje, têm jogado as taxas dos papéis para cima e pressionado divisas emergentes. A taxa da T-note de 10 anos voltou a superar 4,60%, com máxima a 4,6362%.
“Se os Treasuries voltarem, o real se valoriza. Mas é difícil ver queda de taxas com demanda abaixo da média como no leilão de ontem. Lembrando que só de juros os EUA têm que rolar US$ 1 trilhão por ano”, afirma Weigt, para quem o nível atual da taxa de câmbio, na casa de R$ 5,20, não parece exagerado. “Temos que ver números menos fortes da economia americana para o dólar cair. De qualquer forma, toda a incerteza interna também limita a queda. O piso agora é R$ 5,10 ou, sendo otimista, R$ 5,07”.
Publicidade
Amanhã, quando o mercado local estará fechado, será divulgada a segunda leitura do PIB americano no primeiro trimestre e o deflator do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) no período. Na sexta-feira, sai o PCE – medida de inflação preferida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) – referente a abril.
O head de câmbio da B&T Câmbio para o Norte e Nordeste, Diego Costa, observa que dados de geração de emprego e inflação ao consumidor mais amenos no início do mês chegaram a alimentar a tese de que haveria mais espaço para corte de juros nos EUA neste ano. “Mas o tom dos dirigentes do Fed jogou um balde de água fria nos mercados”, afirma Costa, ressaltando que indicadores divulgados recentemente, como o número de pedidos de seguro-desemprego, parecem justificar a postura cautelosa do BC americano.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – voltou a superar os 105,00 pontos, com máxima aos 105,121 pontos. Entre divisas emergentes, quem mais perdeu foi o peso chileno, com queda superior a 1,5%, em aparente devolução parcial de ganhos recentes motivada pela queda dos preços do cobre.
À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial total em maio (até o dia 24) foi negativo em US$ 1,958 bilhão, com saídas líquidas de US$ 5,019 bilhões pelo canal financeiro. Em abril, o fluxo total havia sido positivo em US$ 1,785 bilhão.
Publicidade