(Antonio Perez, Estadão Conteúdo) — Após três pregões consecutivos de queda firme, em que apresentou desvalorização de 2,68% e chegou a romper o piso de R$ 5,10 no fechamento, o dólar subiu com intensidade na sessão desta terça-feira (13), em sintonia com a onda de fortalecimento da moeda americana tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes.
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A corrida global ao dólar foi deflagrada pela decepção com a leitura do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA em agosto. Com o CPI acima do esperado, a tese de que a inflação americana já tinha atingindo seu pico e passaria a arrefecer, responsável pela recuperação recente dos ativos de risco, caiu por terra. Tanto que uma ala do mercado passou até a especular com a possibilidade de alta de 100 pontos-base na taxa de juros americana pelo Federal Reserve na semana que vem (21).
Em Nova York, as bolsas entraram em rota descendente, com perdas superiores a 4% no fim da tarde. O retorno da T-note de 2 anos, mais ligado às expectativas para o ciclo de aperto monetário nos EUA, avançou mais de 3%, tocando 3,787% na máxima. Termômetro do comportamento da moeda americana frente a pares fortes, o índice DXY voltou a se aproximar dos 110,000 pontos, com máxima acima dos 109,800 pontos em meio a ganhos de mais de 1% do dólar frente ao euro, iene e libra esterlina.
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Afora uma pequena queda na abertura dos negócios, antes da divulgação do CPI, o dólar à vista operou em alta firme durante todo o pregão, chegando a superar o teto de R$ 5,20 ainda pela manhã, quanto registrou máxima a R$ 5,2085. A moeda se afastou das máximas no início da tarde e, mesmo com deterioração dos índices acionários em Nova York e mínimas do Ibovespa na segunda etapa, não teve fôlego para tocar novamente R$ 5,20.
No fim da sessão, a divisa era cotada a R$ 5,1875, em alta de 1,77%. O contrato de dólar futuro para outubro, principal termômetro do apetite por negócios, teve giro forte, acima de US$ 15 bilhões. O real, que costuma apanhar mais que seus pares em episódios de aversão ao risco, desta vez não ficou na lanterninha. Peso chileno e rand sul-africano amargaram perdas mais fortes.
“Antes do CPI, o ambiente era positivo. A leitura foi ruim, com núcleo elevado e muita pressão em preços de serviços, que tem maior indexação. O mercado está incorporando um cenário em que o Fed terá muito mais trabalho para frente para segurar a inflação”, afirma a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, que acredita em nova elevação de 75 pontos-base nos Fed Funds neste mês. “O real deve continuar a perder valor muito mais pelo cenário externo complicado, com possível alta mais forte de juros nos EUA, do que por conta das eleições.”
Em vez de apresentar deflação de 0,1, como apontava mediana de Projeções Broadcast, o CPI subiu 0,1% em agosto. Na comparação anual, houve alta de 8,3% ante previsão de 8%. Causou ainda mais desconforto o núcleo (que exclui energia e alimentos), com variação de 0,6% em agosto, bem acima das expectativas (0,3%). No ano, houve avanço de 6,3%, aceleração em relação a julho e também além do esperado (6,1%). O
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economista-chefe do Integral Group, Daniel Miraglia, observa que os ativos de risco experimentaram nos últimos dias uma recuperação de curto prazo dentro de um ‘bear market’, amparada na narrativa de que o Fed conseguira controlar a inflação sem provocar retração econômica. Outro ponto que dava fôlego a apetite ao risco era a alta das commodities, em meio à aposta de que a China estava prestes a acabar com a política de “covid-zero”.
“A narrativa era que os índices de inflação nos EUA estavam cedendo e iam ceder muito mais que o esperado à frente. O Fed não precisaria subir muito os juros e haveria um pouso suave da economia americana”, afirma Miraglia, para quem essa rodada de depreciação dos ativos de risco já era esperada. “Vamos ter até o fim do ano um processo monetário mais restritivo, com juro nominal nos EUA por volta de 4%, porque a inflação ainda é muito elevada.”
Miraglia ressalta que, além de elevar a taxa de juros, o Fed vai acelerar o processo de redução de seu balanço de ativos ao longo dos próximos meses, o que, na prática, significa retirar liquidez do mercado. Embora possa haver recuperação esporádicas dos ativos de risco, a tendência é de uma dólar cada vez mais forte globalmente e de inversão da curva de juros americana, movimento que costuma prenunciar recessões. “Vamos ter um processo recessivo nos EUA, que pode começar ainda neste ano”, afirma o economista.