O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira (22) em alta firme e voltou a superar o nível de R$ 5,15 no fechamento pela primeira vez em cerca de 10 dias. Além da onda global de fortalecimento da moeda americana, em meio à perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos, o real sofreu com a piora da percepção de risco doméstico após declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre meta de inflação e política fiscal.
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Divulgada à tarde, a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) trouxe um tom duro. Os dirigentes do BC americano não apenas reiteraram que necessitam de mais confiança no processo de desinflação para reduzir de juros como consideraram a possibilidade de elevar a taxa básica caso a inflação volte a subir. Ferramenta de monitoramento do CME Group mostrou a mostrar chances maiores de o Fed promover apenas um corte de 25 pontos-base neste ano, em vez de 50 pontos-base como era previsto ontem.
Apesar da piora das bolsas em Nova York à tarde, que levaram o Ibovespa a renovar mínimas, e da aceleração dos ganhos da moeda americana em relação a pares, não houve grande alteração na taxa de câmbio no período. O dólar permaneceu por aqui na casa de R$ 5,15, após ter registrando máxima a R$ 5,1641 pela manhã.
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No fim do dia, a divisa avançava 0,77%, cotada a R$ 5,1564 – maior valor de fechamento desde o último dia 13. Foi o terceiro pregão consecutivo de alta da moeda americana no mercado doméstico, com ganhos de 1,07% na semana. Em maio, o dólar ainda apresenta baixa de 0,69%.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, afirma que a ata do Fed não levou o dólar a novas máximas no mercado doméstico porque o real “já estava apanhando muito” desde o início do dia, com desempenho inferior ao da maioria das divisas emergentes. Entre pares latino-americanos da moeda brasileira, o peso chileno amargou queda superior a 2%, com a baixa dos preços do cobre e um movimento de realização de lucros após os ganhos recentes.
Borsoi observa que o mercado de moedas já amanheceu em “tom negativo” com o avanço dos juros no Japão, uma vez que o iene é utilizado como “funding” para operações de “carry trade”. Em seguida, vieram dados de inflação ao consumidor no Reino Unido acima do esperado, o que pode ensejar uma postura mais conservador do Banco da Inglaterra (BoE).
“A questão dos juros no mundo voltou a incomodar antes da divulgação da ata do Fomc (comitê de política monetária do BC americano), que veio com um discurso mais forte do que dos dirigentes do Fed nos últimos dias”, afirma Borsoi. “Nesse contexto, as declarações de Haddad sobre política monetária jogaram mais lenha na fogueira”.
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Em audiência na Câmara dos Deputados, Haddad afirmou que há dificuldade em alcançar uma meta de inflação mais baixa em razão dos índices de preços estarem mais “insensíveis” à taxa de juros. “Por que ela (inflação) está resistente? Tem uma dimensão institucional, e uma das questões é o quadro fiscal”, afirmou.
Os comentários de Haddad trouxeram novamente à baila a possibilidade de um aumento da meta de inflação. Isso justamente no momento em que há um debate sobre a postura do BC a partir de 2025, quando o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, será substituído por nome indicado pelo presidente Lula.
O decreto alterando o regime de meta de inflação anual para o modelo de meta contínua a partir de 2025, com alvo de 3%, ainda não saiu. Caso a nova regulamentação não seja publicada até o fim de junho, o Conselho Monetário Nacional (CMN) precisará definir na reunião do próximo mês a meta de inflação anual para 2027.
“Esses comentários de Haddad, de que o problema é a política monetária, com a inflação insensível à taxa de juros, incomodam porque o mercado já está ressabiado com a próxima administração do BC. Uma política monetária mais leniente é ruim para o câmbio”, afirma Borsoi, da Nova Futura Investimentos.
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