

A cotação do dólar hoje fechou a sessão desta sexta-feira (31) com queda de 0,28%, a R$ 5,8366. É a 10ª queda seguida da moeda americana, que encerrou o mês de janeiro com queda expressiva de 5,56%. Segundo dados levantados por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, o dólar Ptax, taxa de câmbio referência no país, teve a maior desvalorização mensal desde março de 2022.
Lá fora, o dólar teve um dia alta contra as moedas principais e emergentes ligadas a commodities, após Donald Trump confirmar uma tarifa de 25% sob produtos do México e Canadá a partir de fevereiro. Ele também reiterou os planos de acirrar a guerra comercial contra a China e de taxas os Brics em 100%, caso tentem substituir o dólar nas transações comerciais.
O dólar já vem de muitos pregões seguidos de queda contra o real, um período de correção no câmbio após os recordes de cotação registrados em dezembro. Com medidas mais brandas de Trump, recesso parlamentar em Brasília, boa recepção do mercado ao comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) e entrada de fluxo estrangeiro no País, os ativos brasileiros têm conseguido arrancar uma recuperação em janeiro.
Real tem em janeiro o segundo melhor desempenho entre as principais moedas
Depois de amargar o pior desempenho entre divisas emergentes no fim do ano passado, em meio a remessas recordes ao exterior e a uma crise de confiança na política fiscal, o real exibiu no primeiro mês de 2025 o segundo melhor desempenho entre as principais moedas, entre desenvolvidas e emergentes, atrás apenas do rublo russo.
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O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, atribui a apreciação do real, em primeiro lugar, a uma correção do “exagero completo” da alta do dólar no fim de 2024.
Em segundo lugar, Gala cita a “resposta muito enérgica” do BC, que mostrou firmeza no combate à inflação e deixou claro que vai fornecer a liquidez de que o mercado precisa. “E o resultado fiscal do governo central em 2024 veio melhor do que o esperado. Praticamente se zerou o déficit primário, se for descontado o socorro ao Rio Grade do Sul”, afirma Gala, em referência a dados divulgados ontem à tarde. “Se não fosse a desoneração do Perse (programa de apoio ao setor de eventos), haveria superávit primário. Inacreditável a histeria fiscal perto do resultado de fato.”
Para o sócio e diretor de investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, a queda do dólar em janeiro tem como componente relevante a expressiva redução das apostas contra o real no mercado de derivativos pelos investidores estrangeiros – estimulada pelo aumento de atratividade das operações de carry trade, com a estratégia do Banco Central de seguir atuando com a oferta de leilões de linha com compromisso de recompra.
Ao analisar o chamado carrego ajustado pela volatilidade, nota-se que, em uma janela móvel de três meses, essa relação para o real tornou-se mais atrativa do que para o peso mexicano. “É algo que não acontecia desde o final de 2021”, observa Monoli. Apesar do aumento da aversão ao risco, o peso mexicano teve leve apreciação, enquanto o dólar canadense apresentou um pequeno recuo.
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Entre indicadores, o Departamento do Comércio dos EUA informou que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) – medida de inflação preferida pelo Federal Reserve – subiu 0,3% em dezembro e 2,06% em 2024, em linha com as estimativas dos analistas.
Os núcleos do PCE – que exclui itens mais voláteis como alimentos e energia – também vieram em linha com as expectativas. Na última quarta-feira, 29, o Fed optou por uma pausa no processo de redução de juros, ao manter a taxa básica inalterada, na faixa entre 4,25% e 4,50.
Mas o presidente do BC americano, Jerome Powell, deixou a porta aberta para a retomada dos cortes. “O Fed adotou uma postura mais cautelosa para avaliar os impactos dessas medidas (tarifas anunciadas por Trump) nos dados econômicos. Além disso, o chairman do Fed destacou que acredita que a política monetária ainda está longe do nível neutro, o que considera uma posição favorável para avaliar os próximos passos do banco central”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico.
A pausa do Fed e o anúncio de tarifas por Trump não conseguiram abalar o real. A perspectiva é de aumento da atratividade das operações de carry trade, com as altas contínuas da Selic. Na quarta, o Copom anunciou, como esperado, elevação da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 13,25%, e reforçou a promessa de nova alta de 1 ponto em março, deixando em aberto as decisões a partir de maio. Para o economista André Perfeito a queda do dólar em janeiro, além do fato de o real ter “perdido muito” em dezembro, é explicada pelos efeitos cumulativos das altas de juros, que começam a fazer efeito. “Está ficando ‘caro’ ficar vendido em reais”, afirma Perfeito, em nota.
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(Com informações de Antonio Perez, do Broadcast)