

As bolsas de Nova York perderam os ganhos acumulados pela manhã e encerram a sessão desta nesta terça-feira (8) em queda – com o S&P fechando abaixo dos 5000 pontos pela primeira vez em um ano – depois que a Casa Branca confirmou que cobrará tarifas totais de 104% sobre bens importados da China a partir de amanhã. O dólar também apresentou perdas, enquanto os títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries) registraram direções distintas.
O Dow Jones caiu 0,84%, aos 37.645,59 pontos; o S&P 500 cedeu 1,57%, aos 4.982,77 pontos; e o Nasdaq perdeu 2,15%, aos 15.267,91 pontos. Os dados são preliminares.
Os índices abriram o pregão em alta e permaneceram em território positivo durante boa parte do dia, enquanto os investidores mantinham a esperança de que o pior da turbulência provocada pelo tarifaço de tivesse passado. A Casa Branca disse que não espera atrasos nas tarifas, horas depois de o presidente Donald Trump afirmar que teve uma “ótima ligação” com a Coreia do Sul e que “a China também quer muito fazer um acordo”.
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No início da tarde, porém, a Casa Branca confirmou a aplicação de uma tarifa adicional de 50% sobre a China, já que o país não voltou atrás nas tarifas retaliatórias de 34% sobre os produtos americanos.
A ação da Apple caiu quase 5%, para US$ 172.42. Desde o fechamento dos mercados em 2 de abril, o papel já perdeu 20,4%, o que se traduziu em uma queda de US$ 693,9 bilhões em valor de mercado. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que Trump “com certeza” quer que os iPhones sejam fabricados nos EUA. Atualmente, a maioria dos produtos da Apple é montada na China.
Duas instituições financeiras reduziram o preço-alvo para as ações da gigante de tecnologia. No Morgan Stanley, o preço-alvo da Apple passou de US$ 252 para US$ 220, enquanto no KeyBanc ele foi de US$ 200 para US$ 170.
A Nvidia subiu 1,4%, para US$ 96,30, após reduzir ganhos que levaram o preço acima de US$ 100. Os semicondutores até agora estão fora dos planos tarifários de Trump, mas ainda não se sabe quanto a Nvidia – maior fabricante global de chips de inteligência artificial – pode ser afetada pela escalada das tensões entre EUA e China.
Juros curtos dos EUA caem e longos sobem
Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos de longo prazo chegaram ao fim desta terça-feira em alta, depois de oscilarem ao longo da sessão, enquanto as taxas de curto prazo caem, à medida que Wall Street acompanhava os desdobramentos da guerra comercial desencadeada pelo tarifaço do presidente Donald Trump. A Casa Branca confirmou que pretende cobrar uma tarifa adicional de 50% dos bens importados da China.
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Por volta das 17h00 (horário de Brasília), juro da T-Note de 2 anos caía a 3,723%. O rendimento do título de 10 anos subia para 4,275%, enquanto a taxa do T-Bond de 30 anos avançava para 4,736%.
A demanda fraca por um leilão de US$ 58 bilhões em títulos de 3 anos, realizado na tarde desta terça-feira, ajudou a desencadear uma forte liquidação nos títulos de longo prazo – particularmente os de 30 anos, puxando as taxas projetadas para cima.
O salto nos rendimentos de longo prazo reflete um estado geral de incerteza no mercado de renda fixa. Uma das preocupações dos investidores é que as tarifas agressivas de Trump possam levar países – incluindo a China – a vender Treasuries como forma de retaliação. Outra preocupação é que as tarifas possam levar a uma inflação persistente nos EUA.
Ao mesmo tempo, os investidores tentam considerar a possibilidade de que Trump possa reduzir significativamente o escopo de suas tarifas, o que poderia gerar pressão de venda própria com a redução das chances de uma recessão.
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No geral, está “difícil investir neste mercado no momento”, afirma Ed Al-Hussainy, estrategista global de taxas de juros na Columbia Threadneedle Investments.
O leilão de hoje foi visto como um teste da demanda dos investidores antes de leilões ainda mais importantes de títulos de 10 e 30 anos, previstos para esta semana.
Dos títulos de 3 anos leiloados nesta terça-feira, apenas 79,3% foram comprados por operadores que não são obrigados a participar dos leilões – a menor porcentagem em um leilão de títulos de 3 anos desde dezembro de 2023, segundo o BMO Capital Markets.
Moedas globais: dólar recua
O dólar recua frente às principais moedas globais nesta terça-feira, à medida que cresce a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) reduzir a taxa de juros em maio, diante da crescente aversão ao risco e do temor de que a política tarifária de Donald Trump prejudique a economia americana e a global. Segundo analistas, a moeda não tem se beneficiado do movimento típico de busca por segurança, como ocorria no passado em tempos de turbulência.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, caiu 0,32%, para 102,924 pontos. A moeda americana se depreciava a 146,13 ienes. O euro avançava para US$ 1,0956, enquanto a libra esterlina era negociada em alta, a US$ 1,2771.
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O mercado passou a prever redução de juros em maio pelo Federal Reserve (Fed) como a aposta predominante, segundo ferramenta de monitoramento do CME Group “Muita gente acreditava – inclusive autoridades americanas – que as tarifas ajudariam o dólar, mas o cenário está muito instável”, afirma Marc Chandler, estrategista-chefe da Bannockburn Global Forex. A confiança global na moeda americana está em xeque. Greg Peters, da PGIM, alerta que os EUA correm o risco de perder atratividade para investidores estrangeiros.
Julian Emanuel, da Evercore ISI, reforça que o dólar pode ter atingido um teto. “Nossa visão é que a situação geopolítica, especialmente com a decisão da Alemanha de iniciar gastos com defesa, provavelmente marca o início do declínio do dólar no longo prazo. Se os EUA deixarem de ser o garantidor da segurança global, os países precisarão investir.”
No mercado offshore, o yuan chinês acelerou a desvalorização e caiu ao menor nível da história frente ao dólar. O dólar era cotado a 7,4247 yuans offshore, ultrapassando pela primeira vez o patamar de 7,4 yuans. O euro conseguiu se fortalecer frente ao dólar, com sua ampla liquidez ajudando a suavizar a volatilidade. Ainda assim, o UBS alerta que a moeda europeia pode enfrentar oscilações até que haja clareza sobre a resposta da União Europeia. A libra esterlina, por sua vez, caiu para a mínima em oito meses frente ao euro.
Segundo relatório da Fitch, com exceção da Austrália, as moedas dos países desenvolvidos se valorizaram em média 4,5% desde o fim de 2024. Entre as emergentes, os movimentos foram mais variados: o rublo lidera com alta de cerca de 30%, seguido por ganhos do real e do zloty. Em contrapartida, a lira turca e a rupia indonésia recuaram. Desde janeiro de 2023, o iene acumula queda de 12% frente ao dólar, enquanto o euro e o franco suíço sobem 2,7% e 7%, respectivamente. A lira turca quase dobrou de valor por dólar, enquanto o won sul-coreano e a rupia indonésia recuaram 15% e 7,5%.
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*Com informações da Dow Jones Newswires