O que é golpe do iMile? Falsa taxa da alfândega usa Pix para roubar dinheiro; saiba como se proteger
Transportadora que tem marca usada indevidamente por criminosos diz que "nunca solicita o envio de valores ou Pix para reembolsos ou liberação de pacotes"
Golpistas têm usado o nome da iMile e cobranças via Pix para aplicar a falsa “taxa da alfândega” em encomendas internacionais. (Foto: Adobe Stock)
O golpe do iMile tem se espalhado pelo Brasil com a cobrança de uma falsa “taxa da alfândega” para liberar encomendas. Aproveitando-se do aumento das compras internacionais e das importantes datas varejistas de fim de ano, como a Black Friday e o Natal, criminosos usam mensagens por WhatsApp, SMS e e-mail para induzir vítimas a pagar valores via Pix, desviando o dinheiro para contas fraudulentas.
Segundo consumidores que protestaram no Reclame Aqui, site que ranqueia empresas de acordo com os comentários de clientes, os golpistas afirmam ser responsáveis pela entrega de um pacote que teria sido retido pelo controle de remessas ou supostamente taxado pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex). Para evitar a devolução do pedido, dizem eles, seria necessário acessar um link e pagar uma taxa.
O link leva a uma página falsa, com um QR Code falso para o pagamento via Pix. O dinheiro, na verdade, é desviado diretamente para contas controladas pelos criminosos.
Entre as estratégias usadas, está o envio de mensagens alarmantes por WhatsApp, SMS ou e-mail, pressionando a vítima a agir rapidamente para “não perder a encomenda”. Os responsáveis pelo golpe também recorrem a dados reais – nome, telefone e endereço – para dar legitimidade à abordagem. Além disso, utilizam endereços na internet (URLs) que imitam sites originais, como “acessosedex.com” ou “alfandega.correios360.com”. A tática ajuda a convencer consumidores desavisados a prosseguir com o pagamento.
A iMile Delivery Brasil reforça que não participa desse tipo de cobrança. Em comunicado oficial no LinkedIn, a empresa afirma que a “nunca solicita o envio de valores ou Pix para reembolsos ou liberação de pacotes”. “Sempre desconfie de ofertas vantajosas e nunca realize qualquer tipo de pagamento para receber sua encomenda retida ou ser reembolsado.” A empresa também orienta que consumidores não forneçam dados pessoais em canais sem credibilidade.
A Receita Federalconfirma que nunca envia cobranças por telefone, mensagem ou e-mail para liberar remessas internacionais. O órgão destaca que impostos de importação não são pagos por Pix, QR Code, cartão de crédito ou débito, mas exclusivamente por meio de Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf). Mensagens que solicitam pagamentos fora desse padrão, como a “taxa da alfândega” do golpe do iMile, portanto, já são sinal claro de fraude.
A Receita ainda recomenda que vítimas ou alvos de tentativas de golpe procurem uma Delegacia de Polícia Civil especializada para denunciar casos de fraude ou extorsão.
Como saber se é golpe?
Para especialistas, reconhecer os sinais de alerta é fundamental. O advogado Vinicius Nunes, especialista em negócios digitais, afirma que os consumidores devem prestar atenção a elementos como URLs com erros de grafia, pedidos excessivos de dados pessoais ou pressão para concluir pagamentos rapidamente. Segundo ele, esses são “indicativos claros de potenciais golpes”.
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Pesquisador de Segurança da empresa de cibersegurança ESET no Brasil, Daniel Barbosa reforça essa orientação.
“Desconfie das mensagens que receber passivamente, sem ter solicitado, e das informações muito discrepantes da realidade. O que é bom demais para ser verdade tem tudo para ser golpe e fraude“, afirma.
A seguir, especialistas listam recomendações essenciais sobre como evitar cair em golpes durante compras internacionais, ou nacionais, online:
Prefira aplicativos oficiais: eles oferecem infraestrutura segura e amparo do Código de Defesa do Consumidor;
Evite sites desconhecidos e ofertas muito abaixo do mercado: preços exageradamente baixos, URLs estranhas e pressões para comprar rapidamente são sinais de alerta;
Desconfie de ofertas extremamente atrativas: propostas “boas demais” geralmente escondem riscos;
Não combine envios fora do site: isso retira o comprador da proteção da plataforma;
Não compartilhe dados pessoais ou financeiros com vendedores: utilize somente métodos oficiais da plataforma;
Não preencha links suspeitos com dados sensíveis: eles podem capturar informações e ser usados para novas fraudes financeiras.
Do ponto de vista jurídico, Vinicius Nunes orienta os consumidores a utilizarem cartões virtuais ou temporários em transações pontuais, além de guardar comprovantes de pagamento e verificar políticas de troca e devolução das lojas.
Já o advogado especializado em direito de Família e Consumidor Lucas Pinheiro reforça que compradores “não devem realizar pagamentos diretamente ao vendedor, mesmo que solicitado”, e que é preciso desconfiar de negociações fora do ambiente seguro da loja.
O que fazer se você caiu no golpe
Caso a fraude aconteça, os especialistas recomendam agir rapidamente. O primeiro passo, afirma Nunes, é comunicar imediatamente o banco sobre transações indevidas, especialmente quando envolvem Pix. A velocidade da notificação pode determinar a possibilidade de bloqueio das operações e eventual recuperação dos valores.
Em seguida, é necessário registrar um Boletim de Ocorrência, que servirá como prova oficial do crime. Lucas Pinheiro acrescenta que a vítima também pode denunciar o caso ao Procon, Reclame Aqui ou Consumidor.gov.br, além de buscar apoio jurídico ou da Defensoria Pública.
Essas ações, explicam os especialistas, ajudam não apenas na apuração do golpe do iMile, mas também na criação de um registro documental útil em futuras disputas e na prevenção contra novos casos.