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Haddad admite erro ao misturar isenção do IR com pacote fiscal: entenda o impacto no mercado

Ministro da Fazenda reconhece falha de comunicação e fala sobre dólar, endividamento e estratégias fiscais; analistas avaliam os reflexos no mercado financeiro

Haddad admite erro ao misturar isenção do IR com pacote fiscal: entenda o impacto no mercado
Veja os impactos das falas de Haddad no mercado financeiro (Foto: Agência Brasil)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse em entrevista à GloboNews nesta terça-feira (7) que o governo sofre de “problema grave na comunicação”. O político inclusive assumiu que sua pasta também errou ao anunciar a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para contribuintes que ganham até R$ 5 mil junto com o pacote fiscal.

“Nós precisamos melhorar nossa comunicação, tivemos um problema grave na comunicação. Misturar Imposto de Renda [com pacote fiscal] foi um problema, um dos erros. A Fazenda às vezes erra na comunicação, todos estamos suscetíveis a erros, ninguém só erra ou só acerta. No entanto, precisamos acertar muito mais vezes do que errar”, argumentou Haddad.

O anúncio do ministro no fim de novembro de 2024 pode ser considerado um tiro que saiu pela culatra. Ao invés de acalmar, o mercado, que aguardava ansiosamente por um pacote de corte de gastos, se desesperou ao ver na medida uma redução de arrecadação e um risco para a questão fiscal, o que fez com que o dólar batesse recorde na época e ultrapassasse os R$ 6.

Haddad, no entanto, suavizou a recente disparada do dólar e não colocou tudo na conta do governo. O ministro disse que os mercados estão instáveis no mundo inteiro, com a China desacelerando e a eleição do norte-americano Donald Trump deixando o mercado nervoso. Ele comentou que a cada fala de Trump o dólar pode cair ou subir 10 centavos, o que mostra que o governo não é o único responsável pela variação da moeda.

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Em relação ao endividamento e à meta fiscal, Haddad disse que espera um crescimento econômico de 3,6% para 2024 e de 2,5% para 2025. Em relação ao déficit fiscal de 2024, o ministro estima que o Brasil deve fechar o ano passado com déficit de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), sem contar a tragédia do Rio Grande do Sul. Ao incluir o desastre climático na conta, o ministro estima que o País atingirá déficit de 0,35% do PIB.

“O déficit de 0,1% do PIB ficará distante do teto da meta de 0,25%. Se as medidas do fim da desoneração de folha de pagamentos tivessem sido aprovadas, nós já teríamos um superavit primário. Vamos entregar a economia muito mais arrumada do que entregamos, sem maquiagem, sem calote, sem vender estatais para favorecer grupos econômicos e sem impactar os trabalhadores de baixa renda. Somar tudo isso é muito complexo”, afirmou Haddad.

Questionado sobre se o governo vai conseguir entregar a meta de superavit primário em 2025 e se há uma preocupação com o crescimento do endividamento, Haddad comentou que entregar o superavit primário em 2025 não é “uma operação matemática complexa e, sim, uma equação política”. O ministro também comentou não haver metas em relação à redução do endividamento, mas se o arcabouço fiscal for cumprido sistematicamente, o endividamento tende a ser reduzido no longo prazo.

Por fim, Haddad não quis dar detalhes sobre o que pretende implementar em relação às medidas fiscais do governo. “As pessoas questionam: vai ter pacote 2, pacote 3? Não é assim que funciona. Temos o pilar 2 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), temos um pacote de big techs, que é a tributação das big techs. É isso que temos”, disse Haddad.

O impacto da fala de Haddad no mercado financeiro

Para analistas do mercado financeiro, as declarações de Haddad não trouxeram grandes impactos para os investidores da Bolsa. O Ibovespa hoje subia 1,1% antes da entrevista do ministro, por volta das 13h10. Após as falas, o principal índice Bolsa avançava 1,21%, uma diferença de 0,1 ponto porcentual. Às 15h37min, o Ibovespa subia 1,07%, a 121.304,13 pontos.

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Simone Deos, do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), comenta que o ministro evitou qualquer tipo de afirmação bombástica. Para ela, o tom foi moderado, reiterando que não haverá surpresas em relação às medidas econômicas. “Se o mercado estava esperando declarações bombásticas sobre novos cortes de gastos, ficará decepcionado. O que o ministro procurou passar foi moderação e explicar que os resultados entregues são compatíveis com as metas estipuladas no próprio arcabouço fiscal”, explica.

Já para Harrison Gonçalves, sócio da CMS Invest, o reconhecimento da falha na comunicação das medidas e a previsão de um déficit primário melhor do que o esperado foram os grandes destaques e impactaram o mercado de juros futuros. “Haddad acalmou o mercado por ora. A curva de juros futura de 5 anos caiu 96 pontos-base nos primeiros dias do ano e segue apresentando queda leve hoje. É importante destacar que o comportamento do governo já vinha sendo precificado pelos ativos, justificando um alívio prévio”, afirma.

Onde alocar os investimentos após as falas de Haddad?

Em meio a esses pontos sobre as falas de Haddad, os analistas dizem que todos devem ter investimentos em renda fixa na carteira. Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, explica que o momento favorece a aplicação em ativos com ganhos reais, os atrelados à inflação. “Esses títulos trazem uma proteção natural contra um cenário ainda não deteriorado, que poderia levar a inflação para níveis acima de dois dígitos”, aponta.

No entanto, Moreira recomenda que, se o investidor não tiver receio de correr riscos em busca de maiores lucros, o ideal é aportar em ativos de renda variável após o pronunciamento de Haddad. “Continuamos a recomendar ações de empresas sólidas, com menos dívida, mais capacidade de geração de caixa e que estejam descorrelacionadas com o crescimento econômico do Brasil, visto que projetamos uma desaceleração da economia ao longo dos próximos dois anos como efeito da atual alta de juros”, afirma.

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Gonçalves, da CMS Invest, diz que investir em renda variável pode ser interessante caso o governo mantenha um posicionamento firme sobre a gestão fiscal e o corte de gastos. Se Fernando Haddad tocar a Fazenda com pulso firme, ele recomenda aportar em ativos de renda fixa de longo prazo (como títulos de dez anos) ou ações.