Prévia do PIB: por que a queda do IBC-Br em outubro pode redesenhar o cenário para investimentos no Brasil em 2026
Índice do Banco Central confirma perda gradual de fôlego da atividade, amplia debate sobre juros e ajuda a calibrar decisões de investimento para o próximo ano
O IBC-Br, divulgado pelo Banco Central (BC), de outubro mostrou leve queda na atividade econômica, reforçando o cenário de desaceleração gradual após um longo período de juros elevados no Brasil. (Foto: Adobe Stock)
A divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de outubro, nesta segunda-feira (15), acrescentou novas peças ao quebra-cabeça da atividade econômica brasileira e reforçou a leitura de desaceleração gradual, já indicada pelos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2025. O índice atingiu 108,17 pontos na série dessazonalizada, enquanto o IBC-Br, conhecido como prévia do PIB, não dessazonalizado ficou em 109,61 pontos e o indicador ex-agro, com exclusão dos resultados provenientes do setor da agropecuária, também dessazonalizado, marcou 107,12 pontos. Apesar de permanecer em um patamar elevado, sinal de uma economia ainda resiliente, o recuo do IBC-Br, de 0,2%, em relação a setembro sugere perda de fôlego na margem. Para os investimentos, esse conjunto de dados é particularmente relevante.
Esse movimento não chega a surpreender. O PIB do 3º trimestre já havia mostrado que a economia segue crescendo, mas em ritmo visivelmente mais lento, num processo de acomodação após um longo período de juros elevados. O IBC-Br de outubro funciona, assim, como uma confirmação mensal dessa tendência: crescimento ainda presente, porém mais contido. “Quando a gente observa os vetores e os setores com maior e menor magnitude, aí sim tem bastante similaridade e apresenta resultados nos mesmos sentidos”, confirma Antonio Ricciardi, economista do banco Daycoval.
A leitura ganha mais densidade quando se observa a composição do índice. Para Matheus Pizzani, economista do PicPay, a queda mensal de 0,2% contrariou a sinalização de alguns indicadores antecedentes e imprime um tom mais cauteloso para o último trimestre do ano.
Segundo ele, o dado “abre de maneira negativa o último trimestre” e tende a intensificar o debate sobre os próximos passos da política monetária, por ir “de encontro a um dos pilares do último comunicado do Copom [Comitê de Políticas Monetárias], que ainda descrevia o ritmo de crescimento como positivo”.
Veja os principais resultados divulgados pelo BC e o que eles significam
Na decomposição setorial, a indústria foi o principal vetor negativo, com retração de 0,7%, reforçando o impacto dos juros elevados sobre investimentos e produção. Os serviços também recuaram, em 0,2%, sinalizando perda de dinamismo justamente no setor que vinha sustentando a atividade. A agropecuária, por outro lado, foi o destaque positivo, com alta de 3,1%, em movimento associado a fatores sazonais.
Para Pizzani, o padrão observado em outubro tende a se repetir até o fim de 2025: atividade mais acomodada, indústria (especialmente a de transformação) andando de lado, e serviços mais sensíveis ao ciclo econômico desacelerando gradualmente.
A XP Investimentos corrobora essa leitura ao destacar que o resultado veio abaixo das expectativas do mercado. Para Rodolfo Margato, economista da casa, o IBC-Br (o proxy mensal do PIB) recuou 0,2% quando se esperava alta, acumulando queda de 0,2% no trimestre móvel encerrado em outubro.
Com isso, o chamado carrego estatístico para o quarto trimestre ficou negativo em 0,3%. Ainda assim, na comparação anual, o índice avançou 0,4%, levando o crescimento acumulado em 12 meses a 2,5%.
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Do ponto de vista prospectivo, a XP estima crescimento moderado para o PIB do quarto trimestre, com alta de 0,2% na margem e de 1,9% em termos anuais. Para novembro, a expectativa é de recuperação pontual do IBC-Br, mas sem alteração relevante do quadro geral: perda de ritmo ao longo do segundo semestre, e não uma reversão de ciclo.
Qual o lado bom desse esfriamento da economia?
A desaceleração inesperada da atividade, embora sinalize um esfriamento da economia brasileira, carrega um efeito colateral positivo: eleva a probabilidade de cortes de juros mais cedo pelo Banco Central, explica Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.
Um ritmo mais moderado de crescimento tende a favorecer a continuidade do processo de convergência da inflação para a meta, de forma mais consistente, abrindo espaço para o início do afrouxamento monetário.
Como o IBC-Br afeta meus investimentos?
A queda de 0,2% em outubro não sinaliza recessão, mas indica que a economia passou a operar em um padrão de pequenas oscilações ao redor de um patamar elevado, comportamento típico de um processo de desaceleração gradual. Trata-se do chamado “pouso suave”, lembra Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos: a atividade perde impulso de forma controlada, sem colapso.
Esse ambiente reduz o risco de uma desaceleração abrupta, mas também limita apostas mais agressivas em ativos altamente dependentes do ciclo econômico doméstico. O mercado de trabalho ainda relativamente robusto e algumas medidas fiscais ajudam a sustentar a atividade, mas o efeito dos juros elevados começa a aparecer com mais clareza sobre consumo e investimentos.
Na prática, o IBC-Br de outubro reforça um cenário de transição. Para o investidor, isso significa maior atratividade de ativos sensíveis à política monetária (como renda fixa prefixada, títulos atrelados à inflação e setores defensivos da Bolsa) à medida em que a expectativa de cortes graduais da Selic ganha corpo. Ao mesmo tempo, exige mais seletividade em setores como varejo, indústria e serviços voltados ao consumo das famílias, ainda pressionados pelo crédito caro e pelo endividamento.
Entenda mais com esta matéria do E-Investidor, que explica a relação entre os juros e o crédito
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