O Ibovespa caiu 1,38% hoje, aos 103.618,20 pontos, refletindo a cautela do investidor com o cenário externo e doméstico. No exterior, a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) renovou a aversão global a risco, em meio a leituras mistas do payroll dos Estados Unidos em fevereiro e da espera pelo CPI, na semana que vem. Por aqui, o IPCA de fevereiro acima do esperado diminuiu as apostas de antecipação dos cortes da Selic.
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Sem apetite do estrangeiro por risco, o Ibovespa apagou o ganho semanal e encerrou o período em queda de 0,24%, após ter perdido 1,83% na semana anterior. No ano, a referência da B3 cede 5,57%. O desempenho do dia ficou em linha com os pares de Nova York, onde o S&P 500 recuou 1,45%, acompanhado de perto por Dow Jones (-1,46%) e Nasdaq (-1,07%).
“Acredito que a piora do Ibovespa hoje se deve, em grande parte, à aversão a risco no cenário internacional”, diz a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. “O mercado interpretou alguns dados do payroll como sinal de desaceleração do mercado de trabalho, o que veio a calhar para tirar um pouco de pressão dos juros americanos. No entanto, o evento do SVB acabou contaminando o mercado.”
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A criação de postos de trabalho apurada pelo payroll em fevereiro superou as expectativas do mercado, mas o relatório também apontou um aumento do desemprego a um nível acima do esperado, de 3,4% a 3,6%. O dado trouxe a aposta de aumento de 0,25 ponto porcentual da taxa dos Fed Funds de volta à mesa, dias após a ferramenta do CME Group ter indicado um aumento de 0,5 ponto como mais provável.
Mas o colapso do SVB, maior banco americano a quebrar desde a crise financeira de 2008, apagou o otimismo com uma trajetória mais suave de juros no Fed e fez com que as bolsas de Nova York – e o Ibovespa – tocassem as mínimas da sessão durante a tarde. O episódio contaminou também o segmento financeiro no Brasil, que caiu 2,35%, puxado pelas baixas de Bradesco (-2,86% PN, -2,64% ON) e Itaú Unibanco PN (-2,39%).
“As ações do setor financeiro já vêm sendo penalizadas pela leitura de um cenário mais restritivo e de maior inadimplência em 2023, que deve afetar a carteira dos bancos. Com essa questão específica dos Estados Unidos, o setor financeiro das bolsas no mundo todo acaba sofrendo a repercussão, e a gente também acaba sentindo”, explica Abdelmalack.
No cenário doméstico, o IPCA acima do esperado em fevereiro foi lido pelo mercado como um dado que limita a possibilidade de antecipação dos cortes da Selic. Após a divulgação do dado, pela manhã, o Bank of America citou a chance de uma “pausa” na tendência de desinflação no País.
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Os investidores também continuam em compasso de espera pelo anúncio do arcabouço fiscal, que pode ser apresentado na semana que vem, à véspera da reunião do Copom de março (dias 21 e 22). Durante a tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que apresentará a proposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana e que o mandatário terá a “palavra final” sobre o tema.
“No Brasil, nada é tão ruim que não possa ser pior, especialmente na parte fiscal. Está ficando difícil Haddad apresentar uma regra com controle de gastos que agrade à cúpula do PT e ao presidente Lula”, diz o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que vê na incerteza um vetor doméstico negativo para a Bolsa hoje. “Isso, em conjunto com o IPCA, ajuda a pressionar especialmente alguns segmentos do varejo.”
Na ponta positiva do índice, o maior ganho foi de Hapvida (27,32%), que recuperou parte das perdas no mês. Em seguida, apareceram Embraer ON (5,67%), MRV ON (1,42%) e Locaweb ON (1,05%). O Ibovespa oscilou entre mínima de 103.201,41 pontos e máxima de 105.071,19 pontos. O giro financeiro atingiu R$ 29 bilhões.