Nem a alta das ações do setor de metais conseguiu sustentar o IBOV, após o minério de ferro subir cerca de 2%, diante de perspectivas de aumento da demanda chinesa. Quem liderou os ganhos do dia foram os papéis da CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5), que saltaram 7,13% e 5,99%, respectivamente.
“A commodity puxou o Ibovespa [ontem] e é até um ponto negativo, pois se Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4) sobem – os dois maiores pesos da Bolsa -, impossível o Ibovespa não avançar”, pontua Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, no sentido de que vale o mesmo na direção oposta.
Dada a proximidade do dia 1º de agosto, a cautela se eleva por incertezas relacionadas às tarifas impostas pelos Estados Unidos a vários países. O foco fica em eventuais estratégias do governo brasileiro para conter os efeitos do tarifaço americano sobre produtos exportados para os EUA.
Além disso, foi divulgado o Relatório de Receitas e Despesas Primárias referente ao terceiro trimestre. A equipe econômica do governo Lula anunciou nesta terça-feira a redução do congelamento de gastos no Orçamento de 2025 de R$ 31,3 bilhões para R$ 10,7 bilhões após aumentar a projeção de arrecadação total e recuperar a validade do decreto que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Também está previsto para hoje o relatório operacional da Vale – veja as projeções do mercado – após o fechamento da B3, além do início da temporada de balanços – confira o calendário de balanços de empresas brasileiras.
Enquanto isso, o Brasil continua tentando negociar com o governo do presidente dos EUA, Donald Trump. A equipe econômica trabalha em medidas para mitigar os efeitos da tarifa de 50% imposta a produtos brasileiros. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propostas serão apresentadas nesta semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estresse de países e investidores aumenta à medida que se aproxima a data de aplicação de tarifas pelos EUA para bens e serviços importados”, pontua Alvaro Bandeira, coordenador de Economia da Apimec Brasil.
Na véspera, o Ibovespa fechou em alta de 0,59%, aos 134.166,72 pontos, mas ainda amarga perdas de cerca de 3% em julho. “Há espaço para recuperação, mas a aversão a risco persiste por conta de tarifas e do cenário político no Brasil, mesmo com o Congresso em recesso”, diz Bandeira.
Enquanto isso, no mercado de câmbio doméstico, o dólar hoje abriu em alta de 0,12%, negociado a R$ 5,5718. Já ao final do dia, a moeda americana encerrou em valorização de 0,04% a R$ 5,5670.
Ibovespa hoje: os principais assuntos desta terça-feira (22)
Agenda econômica do dia
A agenda econômica desta terça-feira (22) teve como destaque no Ibovespa hoje o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que cortou o congelamento de gastos de R$ 31,3 bilhões para R$ 10,7 bilhões.
Na agenda econômica hoje, está prevista ainda entrevista com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no canal Nath Finanças, no YouTube, a ser divulgada às 20h. O Tesouro promoveu leilão de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B, títulos públicos com rendimento atrelado à inflação) e de Letra Financeira do Tesouro (LFT, título pós-fixado com rentabilidade atrelada à taxa de juros).
No exterior, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, participou de conferência sobre regulação bancária, mas não abordou a política monetária. Foram monitorados ainda discursos da ministra das Finanças do Reino Unido, Rachel Reeves, da vice-presidente de Supervisão do Fed, Michelle Bowman, e da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.
Bolsas globais operam sem tração
No exterior, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, participou de conferência sobre regulação bancária, mas não abordou política monetária por causa do período de silêncio que antecede a reunião do Fed na próxima semana.
As bolsas de Nova York fecharam sem sinal único, com investidores à espera de balanços e avanços nas negociações tarifárias entre EUA e outros países. Na Europa, as bolsas encerraram mistas, assim como as bolsas asiáticas nesta terça-feira.
Em meio aos ataques constantes do presidente dos EUA, Donald Trump, a Powell, os ex-presidentes do Fed, Ben Bernanke e Janet Yellen, defenderam — por meio de artigo publicado no New York Times — a independência do banco central americano. “Elas [as ameaças] prejudicam não apenas o Sr. Powell, mas também todos os futuros presidentes e, de fato, a credibilidade do próprio banco central”, escreveram.
Balanços ganham força no exterior
Antes da abertura dos mercados nos Estados Unidos, General Motors e Coca-Cola divulgaram seus resultados trimestrais.
A General Motors teve lucro líquido de US$ 1,895 bilhão no segundo trimestre de 2025, 35,4% menor do que o ganho de igual período do ano passado, segundo balanço divulgado nesta terça-feira. Já a A Coca-Cola teve lucro líquido de US$ 3,8 bilhões no segundo trimestre de 2025, aumento de 58% em relação a igual período do ano passado.
Commodities fecham em direções opostas
Os contratos futuros do petróleo estenderam perdas das duas sessões anteriores, à medida que incertezas sobre as tarifas dos EUA pesam na perspectiva de demanda pela commodity. Nesta terça-feira, o barril do petróleo WTI para setembro caiu 0,97% a US$ 65,31 o barril, enquanto o do Brent para o mesmo cedeu 0,89%, a US$ 68,59.
Entre as commodities hoje, o minério de ferro no mercado futuro da Dalian Commodity Exchange, para setembro de 2025, fechou em alta de 2,49%, cotado a 823 yuans por tonelada, o equivalente a US$ 114,68.
Lula endurece discurso contra Trump
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom e afirmou, na segunda-feira (21), que o Brasil ainda não está em uma guerra tarifária com os EUA, mas alertou: “guerra tarifária vai começar quando eu der uma resposta ao Trump, se ele não mudar de opinião”.
A equipe econômica trabalha em medidas para mitigar os efeitos da tarifa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros.
Segundo Haddad, propostas serão apresentadas ainda nessa semana ao presidente Lula. O secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, confirmou que há um plano pronto para ajudar os setores afetados pelo tarifaço, mas que depende do aval de Lula.
Nos EUA, o senador republicano Lindsey Graham ameaçou novos aumentos tarifários — de até 100% — a países que mantiverem compras de petróleo da Rússia, colocando novamente o Brasil na mira de Washington.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações na bolsa de valores brasileira, influenciando o índice Ibovespa hoje.
*Com informações de Maria Regina Silva, Luciana Antonelli Xavier e Silvana Rocha, do Broadcast