A ausência de sinais sobre negociação tarifária entre Brasil e Estados Unidos impediu o principal índice da B3 hoje de seguir a dinâmica positiva dos mercados acionários do exterior. Enquanto isso, o dólar hoje cedeu 0,06%, a R$ 5,5199.
Em contrapartida, perspectivas de que os EUA se acertem com a União Europeia no âmbito das tarifas, após o trato com o Japão, ajudaram na alta do petróleo e da maioria dos índices de ações em Nova York.
A agenda de indicadores no Brasil foi esvaziada, com destaque apenas para a arrecadação federal de junho. A arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 234,594 bilhões em junho de 2025, uma alta real (descontada a inflação) de 6,62% na comparação com o resultado de junho de 2024, quando o recolhimento de tributos totalizou R$ 220,019 bilhões, em valores corrigidos pela inflação. A despeito da elevação, o quadro das contas públicas continua exigindo cautela. “O ambiente segue com muita preocupação fiscal e tarifária”, diz Padovani.
No exterior, o Banco Central Europeu (BCE) manteve suas principais taxas de juros após conclusão de sua reunião de política monetária nesta quinta-feira. A taxa de depósito permaneceu em 2%, a de refinanciamento, em 2,15%, e a de empréstimos, em 2,40%.
Sobre as tarifas impostas pelos EUA a produtos brasileiros exportados para lá, o Brasil continua tentando encontrar formas de negociação e de atenuar os efeitos que já se fazem presentes.
Para Charo Alves, especialista em renda variável da Valor Investimentos, caso o tarifaço se concretize a partir de 1º de agosto, o impacto pode ser sentido em várias frentes. Em primeiro lugar, cita que há um risco de desaceleração do comércio global, o que tende a afetar commodities e empresas exportadoras — setores de peso na B3. “Isso poderia pressionar papéis ligados a mineração e siderurgia, por exemplo”, menciona.
Ibovespa hoje: o que ficou no radar dos investidores?
Agenda econômica do dia
A agenda econômica desta quinta-feira (24) trouxe como destaque no Ibovespa hoje a divulgação dos dados da arrecadação federal brasileira de junho. No exterior, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou sua decisão de política monetária, seguida de coletiva da presidente Christine Lagarde.
O mercado financeiro hoje agora aguarda também a visita do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à sede do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). O gesto ocorre em meio ao aumento das tensões entre Trump e o presidente do BC americano, Jerome Powell, alvo constante de críticas do republicano.
Ainda nos EUA, saíram os pedidos semanais de auxílio-desemprego e o índice de atividade nacional do Fed de Chicago, além do Índice de Gerentes de Compras (PMI) composto da S&P Global e vendas de moradias novas em junho. Após o fechamento dos mercados, a Intel (ITLC34) divulgou seu balanço trimestral.
Também na agenda econômica neste dia 24, o Tesouro brasileiro realizou leilões de Letras do Tesouro Nacional (LTN, títulos prefixados) e Nota do Tesouro Nacional série F (NTN-F, título de renda fixa).
Bolsas globais reagem a balanços e acordos comerciais
Balanços e os PMIs da zona do euro, da Alemanha e do Reino Unido guiaram os mercados em Wall Street e Europa. Em Nova York, os sinais foram mistos nos índices, enquanto as bolsas de valores europeias fecharam sem direção única. As ações das big techs Tesla e IBM tiveram forte queda nos EUA, enquanto as da Alphabet, controladora do Google (GOGL34), subiram.
A Tesla, do bilionário Elon Musk, teve o pior trimestre em uma década, e o ex-aliado de Trump alertou para “alguns trimestres difíceis” à frente. As ações caíram mais de 8% nesta tarde. Já os papéis do Deutsche Bank avançaram 9,13% em Frankfurt.
Enquanto isso, União Europeia, China, Brasil e outros países aguardam por um acordo com os EUA, após o Japão ter fechado um trato na quarta-feira, reduzindo as tarifas para 15%.
No radar está a pedra do sapato de Donald Trump: Jeffrey Epstein. O Departamento de Justiça dos EUA avisou o presidente americano em maio que seu nome aparecia várias vezes nos documentos do bilionário condenado por tráfico sexual de menores, que morreu na prisão em 2019, segundo o Wall Street Journal. A Casa Branca classificou na quarta-feira a reportagem como “fake news”.
Commodities hoje: petróleo avança, minério recua
Os contratos futuros do petróleo fecharam em alta, depois de caírem levemente na sessão anterior, em meio a expectativas de que EUA e a União Europeia (UE) consigam fechar um acordo comercial, reduzindo incertezas e favorecendo a demanda pela commodity. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro avançou 1,19% (US$ 0,78), a US$ 66,03 o barril. Já o Brent para outubro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), teve alta de 0,78% (US$ 0,53), a US$ 68,36 o barril
Entre as commodities hoje, o minério de ferro no mercado futuro da Dalian Commodity Exchange, para setembro de 2025, fechou em queda de 0,55%, cotado a 811 yuans por tonelada, o equivalente a US$ 113,26.
Incertezas com tarifas pesam no Ibovespa hoje
O apetite do investidor foi comedido nesta quinta-feira, conforme se aproxima o prazo para início da tarifa de 50% dos EUA sobre produtos importados do Brasil, no dia 1º de agosto. Não há nenhum acordo em vista e na quarta-feira Trump afirmou que “alguns países com quem não estamos nos dando bem pagarão tarifa de 50%”, citando indiretamente o Brasil — único país que recebeu essa alíquota até o momento.
Ao mesmo tempo, disse que está se dando bem com a União Europeia e a China. Não há um canal de conversa de Brasília com Washington. Ainda assim, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na quarta-feira ser possível chegar até o dia 1º com “alguma possibilidade de acordo”.
O ministro também afirmou que, juntamente com outros ministros, encomendou cenários para fazer frente à imposição de tarifas dos EUA contra o Brasil. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) telefonou para a presidente do México, Claudia Sheinbaum, e afirmou que quer aprofundar as relações com o país diante do “momento de incertezas”.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações na Bolsa de Valores brasileira, influenciando o índice Ibovespa hoje.
*Com informações de Maria Regina Silva, Luciana Xavier e Silvana Rocha, do Broadcast