O Ibovespa recua 0,36%, aos 136.982,76 pontos, por volta das 13h44 (de Brasília). Assim como o dólar, que alcançou a máxima de R$ 5,62, a reação do principal índice da B3 reflete a repercussão dos investidores em torno da decisão do presidente americano, Donald Trump, de impor tarifas de 50% para os produtos brasileiros enviados aos EUA. A alíquota é a mais alta divulgada a partir das cartas enviadas pelo republicano aos países desde o início desta semana. As novas taxas entrarão em vigor a partir do 1º de agosto.
As tarifas contra o Brasil, segundo Trump, são respostas ao tratamento dado pelo País ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas de tecnologia. O argumento e magnitude das alíquotas, no entanto, surpreenderam o mercado que esperava taxas mais baixas, mesmo com as recentes ameaças do republicano ao Brics.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que irá responder às medidas protecionistas de Trump por meio da Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso neste ano. A legislação prevê retaliações e a suspensão de acordos comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual.
A reação tem sido instantânea. No pregão de quarta-feira (9), o Ibovespa fechou o dia 1,31%, aos 137.480,79 pontos. Já na manhã de hoje, por volta das 8h52 (de Brasília),os American Depositary Receipts (ADRs, recibos que permitem que investidores consigam comprar nos EUA ações de empresas não americanas) do Bradesco e Itaú operavam com perdas de 1,33% e 3,16%, respectivamente, no pré-mercado da bolsa de Nova York. Na bolsa brasileira, os papéis da Embraer (EMBR3) tombam 4,05%, por volta das 13h45 (de Brasília).
O tombo sinaliza a preocupação dos investidores com o risco da fabricante de aeronaves ser a mais afetada pelas taxas americanas, caso seja obrigada a absorvê-las sem repasse aos clientes. “Vemos um impacto negativo de 14-15% no EBIT/lucro consolidado a cada aumento tarifário de 10 p.p, dada a montagem final de jatos executivos em suas instalações na Flórida que utiliza produtos brasileiros no seu processo, e um impacto indireto nas demandas em meio a um ambiente inflacionário para a aeronave”, disse a XP em relatório, divulgado no início da manhã.
Já Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, discorda dessa avaliação e enxerga a depreciação das ações da Embraer como injusta. Ele argumenta que a companhia já opera com plantas de produção nos Estados Unidos, o que a colocaria fora do alcance das novas tarifas. “Atualmente, a Embraer tem 383 aeronaves encomendadas por companhias americanas, e essas entregas não podem simplesmente ser realocadas para Boeing ou Airbus, já que ambas estão com suas linhas de produção comprometidas até 2030”, explica Cruz. Isso significa que, se as taxas forem aplicadas à Embraer, o impacto será maior para a aviação regional e para a economia americana. “Não faz sentido a reação exagerada do mercado”, conclui.
Quem lidera as perdas do dia é a Minerva (BEEF3), que derrete 4,38% no Ibovespa hoje. Nesta manhã, a empresa, que é forte em exportação, informou que o impacto potencial das tarifas dos EUA impostas ao Brasil representa 5% da receita líquida da empresa. No setor de frigoríficos, a Marfrig (MRFG3) também recua e perde 2,04%.
A Vale (VALE3) vai na contramão e sobe 3,.68%, a R$ 56,03, limitando as perdas do Ibovespa. As ações da Petrobras estão mistas: PETR3 sobe 0,54%, enquanto PETR4 opera na estabilidade.
As bolsas da Europa, por sua vez, fecharam sem sinal único hoje, em mais uma sessão atenta a possíveis notícias sobre as negociações tarifárias com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A alta do cobre, taxado em 50%, deu impulso às mineradoras, o que foi particularmente positivo para as ações em Londres, onde o FTSE 100 renovou seu recorde histórico. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em alta de 0,54%, a 552,93 pontos. Em Londres, o FTSE 100 subiu 1,23%, a 8.975,66 pontos. Em Frankfurt, o DAX recuou 0,31%, a 24.473,08 pontos. Em Paris, o CAC 40 teve alta de 0,30%, a 7.902,25 pontos.
IPCA de junho no radar
O mercado também acompanha os resultados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – (IPCA) de junho que que avançou 0,24%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com esse resultado, o índice acumula alta de 5,35% nos últimos 12 meses, acima dos 5,32% observados em maio. Para André Valério, economista sênior do Inter, o resultado, apesar de acima do esperado, confirma a expectativa de acomodação da inflação. “Para os próximos meses esperamos continuidade dessa acomodação, com boa parte do recuo do câmbio observado esse ano ainda a ser repassada para os bens industriais e livres, que já se mostram bastante acomodados”, ressalta Valério.
Contudo, ele avalia que o resultado visto nesta quinta-feira (10) ainda não reflete os efeitos do fim do ciclo de aperto monetário no País. Em junho, quando ocorreu a última reunião do Banco Central (BC), os membros do colegiado sinalizaram ao mercado que pretendem interromper o ciclo de alta de juros, com o objetivo de avaliar se o nível da Selic é suficiente para fazer a inflação convergir à meta. “Esperamos que esses sinais sejam mais evidentes ao longo do 3º e 4º trimestre, potencialmente criando condições para o Copom iniciar o ciclo de cortes na reunião de dezembro”, acrescenta o economista.
Ainda na agenda econômica hoje, o governo Lula realiza cerimônia para regulamentação do programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), no tocante ao IPI Verde e à criação do programa Carro Sustentável. O Tesouro Nacional realiza leilões de Letras do Tesouro Nacional (LTN, títulos prefixados) com vencimentos em 2026, 2027, 2029 e 2032, além de Nota do Tesouro Nacional série F (NTN-F, título de renda fixa) para 2031 e 2035.
*Com informações de Luciana Xavier, do Broadcast