Copom pode ter chegado ao fim do ciclo de alta de juros e Ibovespa, assim, deve seguir em tendência de alta, diz o economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam.
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Um dia após o Ibovespa atingir o maior nível da sua história na máxima intradia, aos 137.634,57 pontos, o E-Investidor realizou uma live nesta sexta-feira (9) com Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, para entender quais são as expectativas para a Bolsa de Valores brasileira em maio. O conteúdo completo pode ser conferido por aqui.
Até o momento, o IBOV acumula ganhos de 13,40% em 2025. O índice da B3 passou a subir nas últimas semanas principalmente por conta de uma influência externa, segundo Gardimam. As maiores incertezas com a economia americana, diante do pacote tarifário de Donald Trump, levaram investidores a migrarem seus recursos do mercado americano para outras Bolsas globais, como as europeias e a brasileira. Outro fator também contribuiu para o bom humor local: a relativa “calmaria” no cenário doméstico.
“Incerteza machuca demais os investimentos. Uma recessão nos Estados Unidos deixou de ser um evento possível para ser um evento provável. Com as tarifas, dificilmente você tem uma queda presumida nos juros americanos, então o ambiente fica mais complexo. Por enquanto, ainda há o benefício de a economia dos EUA estar distante de uma recessão hoje, como mostram os últimos dados do payroll (relatório oficial de emprego). Mas todo esse imbróglio de tarifas pode levar a uma recessão lá na frente”, afirma.
O economista observa que, neste momento, há dúvidas em relação aos ativos americanos, tirando-os da posição que antes ocupavam, de uma rentabilidade “inquestionável”. A insegurança é gerada por diferentes fatores: queda global do dólar, incertezas com as tarifas de Trump e um valuation (valor de mercado) considerado “caro” desses ativos.
E o mercado financeiro do Brasil?
No Brasil, o cenário é o oposto. Gardimam entende que o País pode ter chegado ao fim do ciclo de alta dos juros, enquanto os problemas fiscais parecem não ser tão fortes como eram há um ano. Além disso, o economista considera que a Bolsa brasileira segue com um valuation atrativo.
Na visão da Ágora, após elevar a Selic para 14,75% ao ano na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) chegou ao fim do ciclo de alta de juros. “Probabilisticamente, vemos que há 85% de chances de o Copom parar de elevar a Selic e 15% de chances de a taxa de juros chegar a 15% ao ano”, diz.
Agora, o debate se concentra em quando o ciclo de afrouxamento monetário terá início. A equipe da Ágora Investimentos projeta que o primeiro corte de 0,5 ponto porcentual ocorra no fim do ano, com a Selic encerrando 2025 em 14,25%.
Em um cenário como esse, Gardimam entende que o Ibovespa pode seguir em tendência de alta em maio, já que não há novidades negativas no plano fiscal e as grandes decisões do ciclo político ainda estão distantes. O foco do investidor, por enquanto, deve ficar nos Estados Unidos, com os desdobramentos da guerra comercial e as expectativas por decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). “A maioria das notícias que darão força para o IBOV virão de fora”, avalia.
Carteira recomendada de ações adota postura cautelosa
No cenário interno, a temporada de balanços corporativos também tem contribuído para a alta do Ibovespa. Na quinta-feira (8), por exemplo, a disparada acima de 10% dos papéis do Bradesco (BBDC3;BBDC4) ajudou o índice a atingir o seu recorde histórico. Para o segundo semestre, no entanto, Gardimam entende ser necessário ter maior cautela com os resultados, já que as empresas poderiam sentir os efeitos da desaceleração da economia.
Neste mês, a Ágora Investimentos adotou uma postura um pouco mais conservadora em sua carteira recomendada, mas ainda manteve um certo “grau de ousadia”, segundo o economista da casa. Em abril, mês em que o Ibovespa subiu 3,69%, a estratégia foi mais arrojada, com a inclusão de ativos de maior beta — ou seja, papéis que tendem a se valorizar acima da média do mercado em cenários positivos.