O mercado de multipropriedades continua em crescimento no Brasil, embora o estoque alto seja um ponto de atenção. Nesse tipo de negócio, as casas e apartamentos são vendidos de forma fracionada para vários donos, que podem se revezar na hospedagem. Os empreendimentos ficam em cidades turísticas, com atrações como parques aquáticos, resorts, passeios de campo, serra ou praia, por exemplo. As cidades de Olímpia (SP), Caldas Novas (MG) e Gramado (RS) são as maiores referências.
O setor surgiu há 13 anos no País e atingiu em 2025 a marca de 216 empreendimentos espalhados por 97 cidades, segundo dados da consultoria Caio Calfat Real Estate. Trata-se de um avanço perante 2024, quando somavam 200 projetos, e praticamente o dobro de 2020, quando eram apenas 109. “O mercado continua crescendo e saudável”, avalia o fundador da consultoria e estudioso do setor, Caio Calfat.
Desses 216 empreendimentos mapeados, 117 já estão prontos, enquanto 78 estão em fase de construção e 21 ainda na planta. Juntos, têm potencial para movimentar R$ 92,6 bilhões em vendas — dos quais R$ 53,3 bilhões (42,5%) já foram efetivamente comercializados.
As vendas no Brasil movimentaram R$ 26,7 bilhões nos últimos 12 meses até abril de 2025, recuo de 7,4% na comparação com os 12 meses encerrados em abril de 2024. Cada fração geralmente dá ao usuário direito de uso por imóvel por duas semanas e tem sido comercializado por R$ 75,9 mil, em média, com financiamento direto com a construtora.
Na avaliação de Calfat, as vendas têm se mantido resilientes a despeito dos juros altos. “Sem dúvida, o mercado sentiu o efeito dos juros, como qualquer outro segmento. Mas o comprador tradicional aqui não é o investidor, é o consumidor final. Ele pensa em usufruir do empreendimento como um pacote de férias e continua entusiasmado”, relata, acrescentando que 85% dos compradores se dizem satisfeitos com o negócio.
A despeito da boa aceitação, os estoques estão altos, variando de 45% a 50%. Segundo Calfat, este é um ponto de atenção para o futuro, pois pode indicar que a oferta está maior que demanda e implicar em possível redução de preços em algumas praças, visando à absorção do mercado. Vale ponderar ainda que as vendas de frações ocorrem de maneira mais lenta que a de imóveis convencionais para moradia – que são um bem considerado essencial.
No caso dos 21 projetos em fase de lançamentos, a oferta corresponde a 6,7 mil quartos e 117,9 mil frações, com o estoque disponível para venda em 87,8%. Já para os 78 empreendimentos em construção, são 20,2 mil quartos e 641,5 mil frações, com estoque de 48,2%. Entre os 117 prontos, são 18,7 mil quartos e 444,6 mil frações, com 16,5% não vendidos.
Publicidade
O levantamento da consultoria apurou ainda que 19 empreendimentos foram retirados do mercado devido a fatores diversos, como reestruturação do negócio, entraves jurídicos ou financeiros que ocasionaram a pausa nas vendas, ou por não terem sido tudo demanda suficiente por estarem em localidades secundárias.
“A saída desses empreendimentos demonstra maturidade do mercado. Em uma análise macro, de um lado, confirma o amadurecimento do mercado. De outro, nos diz que nem todos os projetos, empreendedores ou destinos são ou estão preparados para o modelo”, diz Calfat.