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IBGE: inflação afeta o desempenho do varejo; confira a análise

Para Cristiano Santos, a inflação impactou o varejo via deflator e via decisão de compra das famílias

IBGE: inflação afeta o desempenho do varejo; confira a análise
(Foto: Envato Elements)

Afetado pela inflação, o varejo manteve em junho e julho perdas disseminadas entre as atividades pesquisadas, apontou Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo Santos, a inflação afeta o desempenho do varejo via deflator, ou seja, ao descontar o aumento de preços acumulado da receita nominal de cada setor, mas também prejudica as vendas através de uma maior restrição orçamentária das famílias.

“O aumento de preços também influencia na decisão de consumo, principalmente consumo das famílias”, disse Santos. “A influência via decisão de compra, ela certamente existe, é indireta, mas ela acontece”, completou.

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Segundo o IBGE, a inflação impactou negativamente em julho a alimentação no domicílio, mobiliário, eletrodomésticos e equipamentos, vestuário, produtos farmacêuticos, automóvel novo e material de construção. Na direção oposta, no mês de julho, houve redução nos preços dos combustíveis, fazendo o deflator do segmento de combustíveis e lubrificantes transformar a receita nominal negativa do setor num crescimento de dois dígitos. O volume vendido de combustíveis e lubrificantes cresceu 12,2% em julho ante junho, enquanto a receita nominal tinha recuado 3,4%.

“Curioso é que nominalmente houve queda (na receita de combustíveis)”, disse Santos. “A deflação (de combustíveis) explica esse número de dois dígitos nos combustíveis.”

Sete das oito atividades que integram o comércio varejista registraram perdas nas vendas em julho ante junho. A única atividade em expansão foi a de Combustíveis e lubrificantes. Na média global, o volume vendido caiu 0,8%. Os recuos ocorreram em Tecidos, vestuário e calçados (-17,1%), Móveis e eletrodomésticos (-3,0%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-2,0%), Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-1,5%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,4%), Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,6%), e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,5%).

No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, houve redução de 0,7% em julho ante junho. O segmento de Veículos, motos, partes e peças registrou queda de 2,7%, enquanto Material de construção caiu 2,0%.

“O perfil negativo está bastante disseminado nos últimos dois meses entre as atividades”, frisou Santos.

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Após três meses de quedas acumuladas, de maio a julho, o volume vendido pelo varejo está 2,7% abaixo do patamar de abril. Segundo Santos, o crescimento no varejo até abril era concentrado em poucas atividades, enquanto que o aprofundamento de perdas a partir de maio ocorre de forma mais disseminada.

O volume de vendas do varejo chegou a julho em patamar 0,5% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operam 3,8% abaixo do pré-covid. Cristiano Santos diz que tem aumentado ao longo do tempo o número de atividades que estão abaixo do pré-pandemia.

Apenas os segmentos de artigos farmacêuticos, combustíveis, material de construção e supermercados estão acima do patamar pré-crise sanitária: artigos farmacêuticos, 20,7%; combustíveis, 11,3% acima; material de construção, 2,3% acima; e supermercados, 2,2% acima.

Já os veículos estão 12,9% aquém do nível de fevereiro de 2020; móveis e eletrodomésticos, 18,4% abaixo; vestuário, 25,6% abaixo; equipamentos de informática e comunicação, 12,4% abaixo; outros artigos de uso pessoal e domésticos, 2,2% abaixo; e livros e papelaria, 37,2% abaixo.

“Não houve recuperação do consumo desse tipo de produto como havia no período anterior à pandemia”, comentou Santos. “Há um perfil muito heterogêneo entre as atividades.”

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Segundo o pesquisador do IBGE, a liberação de recursos extras pelo governo (como saques extraordinários do FGTS e antecipação de 13º salário a beneficiários do INSS) ajudou a impulsionar as vendas nos primeiros meses do ano.

“Isso teve sua parcela sim naqueles primeiros meses, e agora não tem essa influência que a gente consegue mensurar”, contou Santos.

Ele lembra ainda que o consumo de serviços pelas famílias também pode estar retirando recursos do varejo, através de uma substituição da aquisição de bens por gastos com serviços. “Pode ter decisão de consumo que se reflete mais nos serviços, e tira um pouco do comércio”, confirmou. “É um fenômeno a ser melhor observado.”