Um canto peculiar do mercado de ações dos EUA – lar de vendedores de cannabis, fundos de criptomoeda e outros investimentos especulativos – está registrando níveis recordes de atividade. O volume de negócios das ações de balcão, que não são listadas na bolsa, ultrapassou US$ 548 bilhões até agora este ano. Já é mais do que o volume total de 2020, de acordo com o OTC Markets Group, empresa que opera o principal mercado para esses títulos.
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Um grande fator por trás do aumento é o mercado em alta de moedas digitais. Neste ano, o título de balcão mais popular em termos de valor negociado foi o Grayscale Bitcoin Trust, que é negociado sob o ticker GBTC. O chamado “trust” é uma forma popular de os investidores apostarem no preço do bitcoin sem deter unidades reais da criptomoeda.
Assim como o mercado convencional de ações, os mercados fora do balcão viram a entrada de um fluxo de investidores individuais desde o início da pandemia da covid-19. Esses operadores costumam ser atraídos por ações de baixo custo ou ações baratas de empresas muito pequenas para serem listadas em uma bolsa.
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As ações na casa dos centavos, chamadas de penny stocks, são arriscadas e têm um histórico de tendência a esquemas de manipulação. Mas os entusiastas dizem que podem valer a pena para investidores dispostos a fazer pesquisas e encontrar oportunidades em empresas subvalorizadas.
Vários estudos apontam que a tendência é perder dinheiro com tais ações. De julho de 2011 a outubro de 2020, o retorno médio anualizado das ações de empresas americanas fora das bolsas foi de -44%, de acordo com cálculos de Sihan Zhang, aluno de doutorado da Universidade de Alberta.
Esses números, porém, excluem a maior fatia dos títulos de balcão de hoje: as ações internacionais. Muitas empresas estrangeiras têm ações ou recibos de depósito americano que são negociados no mercado de balcão, incluindo empresas de renome como Tencent Holdings, Nestlé, Nintendo e Roche Holding. Esses mercados paralelos também abrigam os títulos de algumas empresas estrangeiras mais arriscadas, como as chinesas Evergrande incorporadora imobiliária endividada e Luckin Coffee rede de cafés retirada da lista da Nasdaq no ano passado após um escândalo de fraude contábil.
As empresas estrangeiras podem usar os mercados fora do balcão para obter acesso aos investidores dos EUA sem a necessidade de cumprir as regras americanas de contabilidade e de relatórios financeiros, que podem ser redundantes com os regulamentos de seus países de origem. Elas também economizam em taxas de listagem de câmbio. Ao todo, dos cerca de 11.500 títulos negociados no balcão, cerca de três quartos são de empresas internacionais.
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A Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM americana) tem procurado limpar os abusos das penny stocks. Na semana passada, entrou em vigor uma mudança na regra da SEC, que proíbe amplamente as corretoras de cotar preços de ações fora das bolsas, a menos que as empresas emissoras dessas ações publiquem informações financeiras atualizadas. Como resultado da mudança na regra, corretoras como Fidelity Investments e Charles Schwab Corp. impuseram restrições à compra de tais ações. Quase 1.400 títulos foram afetados na Fidelity, de acordo com um porta-voz da empresa. Fonte: Dow Jones Newswires.