O saldo de capital estrangeiro na Bolsa se manteve negativo pelo segundo mês consecutivo em outubro, com o quadro fiscal pesando na perspectiva dos investidores estrangeiros.
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No último dia do mês, os investidores estrangeiros retiraram R$ 338,105 milhões da B3, encerrando outubro com uma saída de R$ 2,533 bilhões, resultado de compras acumuladas de R$ 287,293 bilhões e vendas de R$ 289,826 bilhões. No acumulado do ano, o capital externo está negativo em R$ 30,761 bilhões.
No dia 31 de outubro, o Ibovespa fechou em queda de 0,71%, aos 129.713,33 pontos, acumulando uma desvalorização de 1,60% no mês. O giro financeiro do dia foi de R$ 20,7 bilhões.
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Especialistas avaliam que as saídas foram influenciadas principalmente pelo cenário fiscal do Brasil, que deixou o investidor estrangeiro “à deriva”, dado que as medidas para reduzir o gasto obrigatório do governo e ajustar o arcabouço fiscal ao Orçamento só começarão a ser vistas agora após o fim das eleições municipais.
Na avaliação do diretor da consultoria Eurasia Group, Silvio Cascione, ainda existe muita cautela dos investidores com a situação fiscal do Brasil, e o movimento dos preços de ativos nesses últimos meses reflete isso.
“O grande problema é que a situação fiscal já é bem conhecida, mas as medidas necessárias para reduzir o gasto obrigatório do governo e tornar o arcabouço fiscal compatível com o Orçamento só vão começar a vir agora que passaram as eleições municipais”, avalia o diretor da Eurasia, apontando que os investidores ficaram à deriva em outubro, sem muitos elementos para construir convicção de que de fato a situação fiscal vai se estabilizar.
Mesmo quando o plano de corte de gastos for divulgado, Cascione aponta que ainda deve haver cautela no mercado, considerando que o tamanho do esforço fiscal que o Brasil precisa fazer para controlar os gastos parece maior do que a disposição política do governo.
“Alguns investidores até acreditam que, dado que o mercado piorou tanto, o simples anúncio de medidas pode trazer um efeito positivo em primeiro momento, mas a visão é de que ainda assim não vai ser suficiente para reverter esse pessimismo com o Brasil de uma forma mais permanente”, aponta.
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No cenário internacional, ele aponta que os estímulos anunciados pela China, que poderia beneficiar empresas de commodities do Brasil, também não tem sido um impulsionador, considerando que o mercado aponta que há a necessidade de um volume muito maior e medidas mais ousadas. “Como ainda foram estímulos tímidos, talvez explique a falta de movimento mais claro de melhora dos ativos de risco”, avalia Cascione.
Além de todo esse panorama, ainda pesa sobre o Brasil a expectativa pelas eleições norte-americanas. A Eurasia trabalha com a expectativa de uma vitória de Donald Trump, cenário base que é desfavorável para o Brasil. “Juro maior e dólar mais apreciado deixariam mais difícil a atração de fluxo de capital para mercados como Brasil”, aponta.
Outros investidores da Bolsa
Os investidores institucionais aportaram R$ 42,438 milhões na Bolsa no dia 31 de outubro. No mês, houve retirada líquida de R$ 1,965 bilhão, refletindo R$ 120,574 bilhões em compras e R$ 122,539 bilhões em vendas. Em 2024, a retirada de capital totaliza R$ 24,654 bilhões.
Os investidores individuais aportaram R$ 298,127 milhões na B3 na última quinta-feira, 31. Em outubro, entraram com R$ 2,189 bilhões, resultado de compras de R$ 67,699 bilhões e vendas de R$ 65,509 bilhões. No ano, o investimento por pessoa física está positivo em R$ 24,013 bilhões.
As instituições financeiras investiram R$ 3,527 milhões no dia 31 de outubro. No acumulado do mês, houve aporte líquido de R$ 738,107 milhões, com compras de R$ 16,35 bilhões e vendas de R$ 15,611 bilhões. As financeiras aportaram, neste ano, R$ 10,373 bilhões.
Por fim, na categoria outros investidores, houve retirada de R$ 5,986 milhões na última quinta-feira (31). Em outubro, a categoria entrou com R$ 1,571 bilhão, refletindo R$ 3,861 bilhões em compras e R$ 2,289 bilhões em vendas. Em 2024, o investimento da categoria outros está positivo em R$ 21,391 bilhões.
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Assim, se aprofunda uma constante fuga de capital, sobretudo estrangeiro na Bolsa de Valores brasileira este ano.