O Santander diz que realizou, na última semana, um jantar com cinco investidores estrangeiros e cinco investidores locais, destacando que as discussões mais acaloradas foram caracterizadas por um “choque construtivo entre estrangeiros mais otimistas e locais, pessimistas, com Brasil.” Além disso, principal ponto desse debate foi o peso que cada lado atribuiu aos desafios fiscais do País, com os investidores locais demonstrando “profunda” preocupação.
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“Investidores estrangeiros viam a forte economia do País, preços de commodities, taxas de juros globais mais baixas, apreciação do real devido ao diferencial de taxa de juros e as tentativas da China de acelerar o crescimento como razões suficientes para gostar dos ativos brasileiros aos preços atuais”, afirmam Aline de Souza Cardoso, Guilherme Bellizzi Motta, e Luane Fontes, em relatório enviado a clientes.
Já investidores locais se mostraram profundamente preocupados com o cenário fiscal e suas potenciais consequências: inflação, desvalorização da taxa de câmbio e dores de cabeça fiscais dominando a narrativa, segundo os analistas. Eles acreditam que “a política fiscal tenha consequências de longo alcance, sublinhando a importância de uma gestão financeira prudente para a perspectiva econômica do Brasil.”
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O Santander aponta que os investidores internacionais também não pareciam concordar com um possível ciclo de aumento da Selic de mais de 200 pontos-base, mencionando que o Brasil deve se beneficiar significativamente do estímulo chinês e do ciclo de relaxamento monetário global, que reduzirá a inflação e deve melhorar a perspectiva fiscal.
Outro contraste foi que participantes do mercado local avaliam que a sucessão presidencial é um fator crucial, capaz de gerar um momentum positivo ou negativo significativo para a economia brasileira. Os estrangeiros, por sua vez, acreditam que é possível evitar a repetição dos desafios econômicos de 2014-16.
Os olhares diferentes sobre o Brasil pode ser motivado por diversos fatores. Primeiro, porque investidores locais focam principalmente no Brasil, ocasionalmente se aventurando no mercado dos EUA ou em fundos de índice (ETFs) globais. Já os estrangeiros olham para uma ampla gama de empresas semelhantes com perspectivas de crescimento comparáveis, mas com valuations muito mais altos, em mercados como a Índia, por exemplo.
Em segundo lugar, investidores internacionais tendem a ter um horizonte de investimento mais longo, enquanto locais são consumidos por preocupações diárias enquanto lutam para preservar seus negócios diante de saídas de capital.
“Durante o jantar, os locais mostraram preferência por nomes com exposição em dólar indicando que, mesmo com um potencial diferencial de taxa de juros de 400 pontos-base até o final de 2025, eles ainda não acreditam que o real possa se apreciar dos níveis atuais”, observa o Santander.
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No cenário empresarial, estrangeiros citaram ações como SLC (SLCE3), Vivara (VIVA3), Smartfit (SMFT3), Weg (WEGE3), Embraer (EMBR3), Nubank (ROXO34), Suzano (SUZB3), Prio (PRIO3), Inter, Rede Dor (RDOR3), Cury (CURY3), Sabesp (SBSP3) e Equatorial (EQTL3). Já locais mencionaram Embraer, Weg, Petrobras (PETR4), Eletrobras (ELET3), BRF (BRFS3), Itaú (ITUB4), Rumo (RAIL3), Sabesp e Prio.