Quem tem dívidas deve fazer investimentos (Foto: Adobe Stock)
No Brasil, 37% da população investe em produtos financeiros – cerca de 59 milhões de pessoas, segundo a 8ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro. Dentre eles, 23% prefere a poupança como tipo de investimento. Em contrapartida, 77 milhões de brasileiros estão inadimplentes, ou seja, sem cumprir suas obrigações financeiras. Surge a dúvida: faz sentido começar (ou continuar) a investir, mesmo tendo dívidas ativas?
A resposta, como quase tudo na vida financeira, é: depende. “Avaliar a natureza da dívida, os juros envolvidos e o tipo de aplicação faz toda a diferença para tomar a melhor decisão”, comenta Camila Poltronieri Flaquer, Head de Cobrança Digital da Recovery.
Quando vale a pena reservar dinheiro, mesmo com dívidas?
Quem está com o orçamento apertado pode imaginar que investir é um luxo, mas ter uma pequena reserva pode ser justamente o que impede o endividamento de virar uma bola de neve. “Dentro do possível, é importante manter uma quantia mínima reservada para emergências. Essa quantia pode evitar que imprevistos gerem dívidas”, explica Flaquer. Segundo ela, “guardar R$ 20,00 ou R$ 30,00 por mês já é um começo. Além de trazer segurança, essa prática ajuda a criar o hábito do planejamento financeiro.”
Entre as alternativas para quem deseja dar os primeiros passos estão produtos como o Tesouro Direto, que aceita aplicações independente do valor inicial, e a poupança, que tem rendimento menor. Na dúvida, vale priorizar investimentos que permitam resgatar o valor total ou parcial com rapidez e segurança, caso necessário em uma emergência.
Se a dívida tem juros altos, é melhor pagar o quanto antes
O apego ao dinheiro investido pode atrapalhar decisões racionais — afinal, ver o saldo da aplicação crescer é motivador. No entanto, se o investidor tem dívidas com juros muito altos, como o cheque especial ou o rotativo do cartão de crédito, priorizar o investimento pode sair mais caro.
Os juros dessas modalidades costumam ultrapassar os rendimentos médios de qualquer aplicação conservadora — e até mesmo de algumas mais arriscadas. Nesse caso, sacar o valor investido para quitar a dívida tende a ser a opção mais vantajosa.
Quando vale mais a pena investir do que antecipar parcelas?
Financiamentos de longo prazo, como os de veículos ou imóveis, geralmente apresentam juros mais baixos que outras modalidades de crédito. Com isso, ao receber um valor extra (como o 13º salário), pode surgir a dúvida: é melhor aplicar o dinheiro ou antecipar parcelas?
A escolha dependerá de alguns fatores: o financiamento oferece desconto para quem antecipa parcelas? A antecipação ajudaria a reduzir o valor final pago ou traria maior tranquilidade financeira no curto prazo? Por outro lado, se o investimento escolhido render mais do que o custo da dívida — mesmo considerando o Imposto de Renda sobre os rendimentos —, talvez valha mais a pena deixar o dinheiro aplicado.
“Comparar a taxa de juros da dívida com o rendimento estimado do investimento, incluindo os impostos descontados, é essencial. Com isso, dentro do possível, a dica é priorizar o pagamento das dívidas, já que manter pendências financeiras pode comprometer parte da renda mensal das famílias, além de gerar a negativação em órgãos de proteção ao crédito e outras dores de cabeça futuras”, conclui a especialista.