Sessão da Câmara que sustou projeto do governo que elevava alíquotas do IOF. Foto: Lula Marques / Agência Brasil
Os juros dos títulos do Tesouro Direto operam em queda nesta quinta-feira (26), acompanhando o recuo da curva de juros futuros. O movimento é puxado principalmente pelo IPCA-15 de junho, que veio abaixo do esperado e reforça as apostas de corte na Selic ainda este ano. A prévia da inflação oficial subiu 0,26% no mês, abaixo da mediana das projeções (0,31%) e com núcleos mais comportados.
Já a derrota do governo no Congresso, na noite de quarta (25), que tentava elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre câmbio, crédito, fundos e seguros, trouxe um sinal ambíguo. Por um lado, alivia o ambiente microeconômico ao derrubar mais carga; por outro, amplia o buraco fiscal e acende um alerta sobre a fragilidade das contas públicas. A decisão do parlamento elimina uma arrecadação esperada entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões para o governo.
“Os juros são reflexo do IPCA-15 com qualitativo bem melhor sobre um Banco Central que já sinalizou o final de ciclo. A derrota do IOF já era esperada ontem”, diz Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset.
Para Enrico Gazola, economista pelo Insper e sócio-fundador da Nero Consultoria, a derrota do IOF, embora não tenha sido o motivo principal, impediu que o “prêmio de risco fiscal estragasse a festa”. Ele ressalta, no entanto, que o alívio de hoje pode virar ressaca amanhã se não vier um plano crível de corte de gastos. “E parte desses pontos-base devolvidos pela curva voltará a assombrar rapidamente quem financia o Tesouro”, diz.
Movimento dos juros
Logo na primeira atualização do dia, nesta quinta (26), às 9h29, os papéis do Tesouro Direto já mostravam queda nas taxas. O Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029 oferecia IPCA + 7,55% ao ano, abaixo dos 7,60% do fechamento anterior. Já o título para 2040 pagava IPCA + 6,99%, levemente abaixo dos 7,01%, enquanto o papel com vencimento em 2050 marcava IPCA + 6,94%, praticamente estável em relação aos 6,93% do dia anterior. No caso dos prefixados, o Tesouro 2028 recuava de 13,50% para 13,45%, e o 2032 caía de 13,70% para 13,69%.
A queda se acentuou no início da tarde. Às 13h02, o Tesouro Prefixado 2028 passou a oferecer 13,40%, e o 2032, 13,67%. Já os papéis atrelados à inflação oscilaram levemente, com destaque para o IPCA+ 2040, que subiu para IPCA + 7,00%.
Quem já investe nesses títulos viu o valor de mercado (PU) de seus títulos subir. Com a queda das taxas, o preço dos papéis aumenta no chamado ganho com marcação a mercado. Veja exemplos de ontem para hoje:
Tesouro Prefixado 2028: valorizou de R$ 727,86 para R$ 729,51
Tesouro Prefixado 2032: passou de R$ 434,45 para R$ 435,91
A queda de juros é um movimento positivo para quem pretende vender antes do vencimento.
Ambiente de confiança?
Para Sérvulo Mendonça, chairman da Holding SM, a queda nos juros futuros responde principalmente ao IPCA-15 mais baixo, mas também se beneficia da percepção de um ambiente fiscal menos intervencionista após a derrota do IOF. “Isso ajuda a manter a confiança e os juros sob controle.”
Já Jeferson Bittencourt, head de macroeconomia do ASA Investments, alerta para a sinalização política deixada pela derrota do governo no Congresso e possíveis repercussões nas próprias contas do Executivo. Ele relembra, que em poucas horas, Câmara e Senado derrubaram uma estratégia do Executivo que visava garantir receitas futuras por decreto.
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Para Bittencourt, a resposta do governo em buscar o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter a decisão do Congresso vai na direção oposta à conciliação necessária. “Inclusive para aprovar projetos importantes como o PL 1.087/2025, que isenta de IRPF quem ganha até R$ 5.000 e a MP 1.291/2025, que trata do Fundo Social