

Nesta sexta-feira (11), foram divulgados dois indicadores importantes para o cenário macroeconômico brasileiro: o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de março – que indica a variação dos preços – e o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) de fevereiro – que mede a evolução da atividade econômica no país e é mais conhecido como prévia do PIB. Segundo O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o primeiro índice registrou uma alta de 0,56% e o segundo aumentou em 0,44%.
A alta de 0,56% no IPCA de março superou a mediana das projeções do mercado, que estimava uma elevação de 0,53%. Para Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG, o resultado confirma um cenário inflacionário ainda pressionado no curto prazo. “Tanto o comportamento dos núcleos de inflação (média de 0,51%, como o resultado dos serviços subjacentes (+0,65%), mostram um cenário desafiador para a inflação no curto prazo.”
Tatiana Pinheiro, economista-chefe e sócia da Galapagos Capital, também destacou a força dos serviços subjacentes, cuja variação superou as expectativas do mercado. “Serviços subjacentes, que indicam a tendência de preços no setor de serviços, em 0,65% ficaram acima do consenso e o indicador de difusão aumentou para 64%.” Segundo ela, o avanço do índice de difusão — que reflete o percentual de itens com aumento de preços — evidencia uma inflação mais disseminada e persistente.
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A economista ainda observou que a média dos núcleos de inflação permanece elevada, “bem acima da meta de 3%.” Com a difusão atingindo “64%, indicando pulso da inflação entre 6% e 7%”, Tatiana reforça a leitura de que o quadro inflacionário segue resistente, mesmo diante do ciclo de aperto monetário em curso.
Inflação deve permanecer volátil
Flávio Serrano prevê que a inflação deve continuar apresentando instabilidade nos próximos meses. “Nos próximos meses, o IPCA deverá seguir volátil, refletindo a elevada variabilidade dos preços de commodities no mercado internacional e os preços de energia elétrica aqui no Brasil.”
Ele também alertou para os riscos associados ao setor energético, destacando que “é bastante provável, com base no cenário hídrico atual, o acionamento da bandeira amarela – classificação tarifária da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que indica que as condições de geração de energia estão menos favoráveis, aumentando as tarifas – em maio e até mesmo bandeira vermelha, indicativo de que o custo de energia subiu, impactando as contas de luz, em meados do ano.”
Apesar do cenário inflacionário ainda pressionado, Serrano identificou sinais de desaceleração da atividade econômica. “Estão ficando mais claros, como observado no resultado do IBC-Br de fevereiro divulgado hoje.” Na avaliação dele, essa moderação na atividade pode levar o Banco Central a encerrar em breve o ciclo de alta dos juros. “Acreditamos que, apesar do resultado de inflação ainda pressionado, o BC deverá interromper o processo de ajuste na taxa de juros com um último movimento de 0,50 p.p. na reunião de maio.”
O economista também chamou atenção para o ambiente externo, ressaltando que o cenário internacional atual – pautado pela incerteza em relação aos efeitos da guerra tarifária sobre o crescimento global – também aumenta a probabilidade de uma desaceleração econômica mais acentuada adiante. Diante desse contexto, ele avalia que o balanço de riscos para a inflação parece estar ficando mais simétrico. Com base nessa leitura, Serrano projeta que a taxa básica de juros atingirá 14,75% a.a., patamar que deverá ser mantido por quase todo o ano de 2025.
Atividade econômica surpreende com alta de 0,44%
Pinheiro, por sua vez, analisou o dado do IBC-Br, que apresentou avanço de 0,44% na variação mensal, acima do consenso de 0,30%, e de 4,10% na anual. Para ela, o resultado dá uma indicação de crescimento para o 1° trimestre de 0,8%. Com esse desempenho, ela argumenta que ainda é cedo para ver os efeitos do aperto monetário: “Esse resultado positivo enfatiza nossa opinião de que ainda é cedo para avaliar o impacto do aperto monetário sobre a atividade econômica. Acreditamos que os efeitos na atividade irão aparecer somente a partir do segundo trimestre”.
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Diante disso, a economista-chefe afirma que tanto o IPCA quanto o IBC-Br não aliviam as pressões sobre o BC: ambos indicam a necessidade de continuidade do aperto monetário. A Galapagos Capital mantém, portanto, sua projeção para a próxima reunião do Copom: “Mantemos o a nossa projeção de alta de 0,75% em maio, trazendo Selic para 15%. Acreditamos que esse será o encerramento do ciclo”, finaliza Tatiana Pinheiro.