Professores ganham “13º extra”: isenção do IR até R$ 5 mil beneficia mais de 600 mil docentes; saiba quem tem direito
Ampliação da faixa de isenção beneficia 73,5% dos docentes da educação básica e mais que dobra o número de professores que deixam de pagar Imposto de Renda
Ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda beneficia especialmente professores com salários próximos ao piso nacional do magistério, mostra estudo do Ipea. (Foto: Adobe Stock)
A ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil deve retirar mais de 600 mil professores da educação básica da base de contribuintes e tornar isentos pouco mais da metade dos profissionais da categoria, segundo nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A mudança, sancionada no mês passado, pode representar um ganho anual equivalente a um “13º salário extra” para docentes que recebem próximo ao piso nacional do magistério.
Sancionada no mês passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a nova legislação elevou o limite mensal de isenção do IR para R$ 5 mil e criou uma faixa de descontos para rendas de até R$ 7.350,00. Segundo o governo, a renúncia fiscal estimada em R$ 25,4 bilhões deverá ser compensada por uma arrecadação adicional de R$ 34,1 bilhões em 2026, decorrente da tributação sobre altas rendas.
De acordo com o estudo do Ipea, a mudança mais do que dobra a proporção de docentes isentos. Antes da reforma, apenas 19,7% dos professores da educação básica não pagavam Imposto de Renda. Com a nova regra, esse percentual sobe para 51,6%. Outros 21,9% passam a se enquadrar na faixa de redução do tributo. No total, cerca de 1 milhão de professores terão aumento da renda disponível, seja por isenção total, seja por diminuição do imposto devido.
Somando os dois grupos, 73,5% dos docentes da educação básica no Brasil serão beneficiados pela nova tabela do IR. O impacto é especialmente relevante para quem recebe salários próximos ao piso nacional do magistério, fixado em R$ 4.867,77 em 2025.
“Antes da reforma, eles pagavam a alíquota máxima de 27,5% sobre a base tributável. Com a nova isenção até R$ 5 mil, passam a não pagar nada de IRPF sobre esse salário“, afirma Paulo Nascimento, coordenador de educação e técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea) e um dos autores da nota técnica.
Segundo ele, o ganho médio anual estimado para esse grupo é de R$ 5.079,84.
“Na prática, equivale a aproximadamente um salário adicional no ano. É como um 13º salário extra derivado apenas da reforma tributária”, explica.
O impacto varia conforme o perfil de vínculo dos docentes.
Entre aqueles que têm apenas um vínculo como professor, em geral concentrados nas faixas de menor renda anual, 60,7% passam a ser isentos e 21,1% terão redução do imposto. Nesse grupo, 81,8% registram algum ganho com a nova tabela do IR.
E professores que trabalham em mais de uma escola?
Já entre os professores com múltiplos vínculos, que representam cerca de 17,5% do magistério da educação básica, os efeitos são mais moderados: 32,3% ficam isentos e 26,1% terão redução do imposto.
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Um resultado intermediário aparece entre docentes que acumulam a docência com outra ocupação fora da área educacional: 40,2% passam a ser isentos, 20,9% têm redução do tributo e 38,9% permanecem sujeitos à alíquota máxima.
Professor de rede pública vs privada: quem ganha mais?
Apesar dos efeitos positivos sobre a renda, o estudo também chama atenção para limites estruturais da política. “Por mais que esses resultados demonstrem efeitos positivos da reforma tributária sobre o rendimento da categoria docente, eles também alertam para a necessidade de maior valorização da carreira de professoras e professores”, pondera Adriano Senkevics, técnico de planejamento e pesquisa da Disoc/Ipea e coautor do trabalho.
Segundo ele, o problema é ainda mais grave na rede privada, “que tem remunerado seus profissionais em valores bastante inferiores ao piso salarial do magistério público”.
A análise do Ipea mostra diferenças significativas entre as redes pública e privada. Embora o setor público concentre a maior parte dos vínculos docentes no País, é na rede privada que a ampliação da faixa de isenção tem efeito proporcionalmente mais intenso.
Após a reforma, 82,2% dos professores de escolas particulares estarão isentos de Imposto de Renda, contra 42,5% na rede pública.
Saiba quais estados do Brasil serão os mais beneficiados
O impacto também varia entre os estados. Alagoas, Minas Gerais, Paraíba, Tocantins e Roraima aparecem como os mais beneficiados, com 60% ou mais dos docentes isentos do imposto. Segundo o Ipea, o dado sugere que, nessas unidades da federação, grande parte do magistério recebe rendimentos anuais abaixo do novo limite de isenção.
No extremo oposto, Amapá, Distrito Federal, Pará e Goiás concentram percentuais elevados de professores ainda sujeitos à alíquota máxima, próximos ou superiores a 40%, o que reflete salários relativamente mais altos. O caso mais expressivo é o do Distrito Federal, onde 63,4% dos docentes continuam pagando a alíquota máxima mesmo após a reforma do Imposto de Renda.