Os juros futuros fecharam a última sessão de fevereiro em baixa, com destaque para os vencimentos longos que recuaram um pouco mais que os curtos. O movimento foi comandado pelo dado de inflação nos EUA dentro do esperado, o que manteve junho como o mês mais provável para o início dos cortes de juros pelo Federal Reserve, segundo as apostas de mercado. Os rendimentos dos Treasuries cederam e ajudaram a puxar para baixo os juros no Brasil, que tiveram ainda influência de fatores técnicos relacionados a ajustes de carteiras no fim do mês.
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O alívio nos prêmios se deu mesmo com dados robustos da Pnad Contínua, que endossam o alerta do Banco Central sobre a pressão que o mercado de trabalho tem exercido sobre a inflação de serviços. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 9,955% (mínima), de 9,995% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 9,83% para 9,78% (mínima). O DI para janeiro de 2027 encerrou em 9,98% (de 10,04% ontem). A taxa do DI para janeiro de 2029 terminou a 10,42%, de 10,48%. O índice de preços dos gastos com consumo (PCE, em inglês), tanto o dado cheio quanto o núcleo, de janeiro veio em linha com as estimativas, o que não deixa de ser uma boa notícia considerando que outros indicadores (CPI e PPI) surpreenderam para cima.
“O principal ponto de pressão sobre a curva do DI tem sido o externo. Então, como não tivemos surpresa negativa do PCE, as taxas acabaram fechando”, explicou o economista da Guide Investimentos Victor Beyruti. Beyruti diz ainda que a alta dos DIs ao longo do mês deixou espaço para uma correção de baixa. Em relação ao fim de janeiro, a curva doméstica ganhou inclinação em fevereiro.
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Enquanto as taxas curtas fecharam praticamente de lado ante o fim do mês passado, as longas subiram em torno de 20 pontos-base. O desempenho das curvas está relacionado à maior cautela sobre o ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, com as apostas para o mês de março tendo sido descartadas e as de maio perdendo força, para dar lugar a junho como cenário central. Essa migração, acompanhada ainda de uma redução da precificação do orçamento total de quedas este ano, foi amparada por uma combinação entre discursos hawkish do Federal Reserve e dados fortes de inflação e do mercado de trabalho.
No Brasil, o destaque do dia foi a Pnad Contínua, que pode ter ajudado a limitar o recuo das taxas de curto prazo. A taxa de desemprego foi de 7,6% no trimestre encerrado em janeiro, pouco acima dos 7,4% do trimestre até dezembro. O resultado ficou abaixo da mediana das estimativas, de 7,8%. Mais até do que o desemprego, o que chamou a atenção foram os indicadores de salário e renda. A massa salarial subiu para nível recorde, com alta de 6,0% ante o trimestre terminado em janeiro de 2023. A renda média real avançou 3,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Os dirigentes do Banco Central têm demonstrado preocupação com os efeitos do mercado de trabalho, salários em especial, sobre a inflação de serviços, que tem resistido em patamares elevados. Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, a leitura da Pnad, somada ao comportamento de serviços visto no IPCA-15 nesta semana, sugere que o cenário de Selic terminal abaixo de 9% é algo “surrealista”. “Ainda mais se o PIB amanhã mostrar atividade ainda resiliente”, disse. Na curva, a precificação para a Selic terminal nesta tarde estava em 9,60%, ou seja, entre 9,50% e 9,75%. Nesta sexta-feira, será conhecido o PIB do quarto trimestre e de 2023. As medianas da pesquisa do Projeções Broadcast são de, respectivamente, estabilidade e crescimento de 3,0%