Os juros renovaram o fôlego de queda já visto ontem e fecharam nos menores níveis das últimas duas semanas, ainda amparados na perspectiva de um cenário fiscal menos ruim a partir da PEC da Transição, protocolada ontem. Embora o tamanho do “waiver” e o prazo tenham confirmado a percepção negativa do mercado, permanece a expectativa de que o Congresso vai enxugar o texto para valores mais baixos no que diz respeito aos gastos a serem computados fora da regra do teto.
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O exterior também ajudou. Apostas na flexibilização da política de Covid zero na China deram suporte às commodities e à maioria das moedas emergentes, como o real. Ainda, a agenda econômica trouxe indicadores positivos na área fiscal e de inflação, favorecendo um alívio nas apostas de aperto monetário nos próximos meses.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou a sessão regular em 13,965% (regular) e 13,950% (estendida), de 14,292% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 13,17% (regular) e 13,15% (estendida), de 13,69% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2027 recuou de 13,40% para 12,87% (regular) e 12,85% (estendida).
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No fim da sessão regular, as taxas ampliaram o ritmo de queda para mais de 50 pontos-base em contratos intermediários e alguns longos. Diante da boa gordura embutida na curva, operadores citaram como argumento para ampliar o ajuste a informação de que o nome do ex-ministro Fernando Haddad estaria perdendo força como favorito para assumir a Fazenda. Segundo o site Poder 360, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva voltou a cogitar o nome do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), para comandar a equipe econômica.
O principal condutor dos negócios hoje, porém, foi a aposta do mercado na desidratação da PEC. O texto pressupõe R$ 175 bilhões retirados do teto pelo período de quatro anos, além de um montante de até R$ 23 bilhões em investimentos. O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier, explica que, embora a PEC tenha sido protocolada com os R$ 198 bilhões em gastos a serem excepcionalizados da regra do teto mesmo depois de tanta discussão, “o mercado parece estar comprando a tese de que o valor ficará entre R$ 80 bilhões e R$ 175 bilhões”. “O mercado segue acreditando que será menor. Independentemente do prazo, o valor é o maior problema”, disse.
“O dia também foi melhor para moedas emergentes com as notícias da China”, acrescentou Xavier. Especulações de que o país poderá relaxar a política de Covid zero antes do esperado deram suporte ao real, com o dólar caindo abaixo de R$ 5,30, e também às commodities.
A melhora na percepção de risco fiscal também ajudou a reduzir as apostas de alta da Selic.
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A correção do pessimismo em relação à política monetária vem ainda na esteira dos recentes dados de atividade e inflação, que já estariam acusando impacto da política monetária mais restritiva. O saldo do Caged de outubro, positivo em 159.454 vagas, abaixo da mediana das estimativas (220 mil). O IGP-M de novembro caiu 0,56%, abaixo do piso das previsões dos analistas (-0,50%). Em contrapartida, os dados fiscais surpreenderam positivamente. A arrecadação de outubro, de R$ 205,475 bilhões, superou a mediana das estimativas (R$ 202 bilhões), assim como o superávit do governo central, de R$ 30,8 bilhões, veio acima da mediana (R$ 28 bilhões).
“Esperamos ver uma desaceleração da atividade e talvez tenhamos começado a ver nos indicadores de alta frequência”, afirmou hoje o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, durante palestra em evento organizado pelo JPMorgan.