Os juros futuros fecharam a sessão desta sexta-feira (10) em alta, contrariando a tônica de alívio nos prêmios que prevaleceu durante a semana. O combo payroll + IPCA reforçou as preocupações com o cenário inflacionário e de juros tanto aqui quanto nos EUA, atraindo posições defensivas antes do fim de semana. Assim, as taxas curtas e intermediárias terminaram a semana nos perto dos níveis da sexta-feira passada, mas as longas avançaram.
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A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 terminou a 15,09%, de 14,95% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 15,29% para 15,46%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa a 15,40%, de 15,12%.
A abertura foi pautada pelo IPCA de dezembro (0,52%) que, embora praticamente em linha com a mediana das estimativas (0,53%), trouxe leitura negativa dos preços de abertura, como núcleos, serviços e índice de difusão. A inflação fechou 2024 em 4,83%, estourando em mais de 30 pontos-base o teto da meta de 4,5%.
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Um dos itens mais comentados foi a influência da pressão do câmbio em preços como por exemplo os industriais, e que deve se exacerbar nos próximos meses, considerando que há repasse cambial para entrar na inflação. Mal o mercado digeria o IPCA, veio a “pancada” do payroll, com criação de 265 mil vagas em dezembro, mais de 100 mil acima das 150 mil previstas, ainda com inesperada queda na taxa de desemprego, mas com salários subindo um pouco menos do que o esperado. O quadro das apostas para juro nos EUA ficou mais conservador, com a expectativa de manutenção nas reuniões até maio se consolidando como majoritária. As taxas dos Treasuries dispararam. A da T-Note de dez anos subia a 4,76% no fim da tarde.
Para a economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito, o mercado de juros recebeu o IPCA e o payroll numa conjuntura já negativa vinda de 2024. “Esta semana entramos na primeira semana útil de 2025 com todos os indicadores mais importantes. E o mercado começa agora a, de fato, a colocar um sentido para a curva, de abertura, carregando praticamente a mesma pauta de 2024”, afirmou a economista, que trabalha tendência altista para as taxas domésticas.
A perspectiva conservadora para a curva local vem tanto do “risco Trump”, com efeito sobretudo via câmbio, quanto das questões internas, pela baixa probabilidade de um ajuste fiscal crível. Nos EUA, a promessa do presidente eleito Donald Trump de restrição à imigração, se concretizada, deve apertar as condições de mão de obra, o que, somado às ameaças de tarifaço, “pioram o qualitativo da inflação”, diz a economista, que prevê dólar e juros dos Treasuries mais fortes.
“Consequentemente a gente vai sofrer. Não só na curva, mas com a depreciação do real”, diz.
No Brasil, é baixa a expectativa de melhora fiscal, na ausência de sinalização de novas medidas de corte de despesas e com o governo aparentemente colocando fichas só pelo lado das receitas. “Estão apostando bastante na arrecadação, mas já chegamos num limite. Precisam atacar os gastos e as reformas estruturais”, afirma Ariane.
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Embora o resultado do IPCA não tenha agradado, o mercado considera que não haverá mudanças no plano de voo do Banco Central, que já contratou duas altas adicionais de 1 ponto porcentual na Selic. De todo modo, a precificação da curva de juros, que durante a semana chegou a ceder abaixo de 16%, voltou a piorar, apontando Selic em 16,25% em dezembro.