A curva de juros futuros reverteu o viés de baixa na segunda etapa do pregão desta sexta-feira (27). Os gatilhos para a piora foram, no cenário doméstico, falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que reacenderam preocupações com o risco fiscal, e, no ambiente externo, o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, do fim das negociações comerciais com o Canadá.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) que vence em janeiro de 2026 fechou o dia em 14,935%, de 14,933% no ajuste anterior. Já a do DI de janeiro de 2027 passou de 14,179% no ajuste de ontem para 14,165%, enquanto o vértice de janeiro de 2029 encerrou a sessão em 13,295%, vindo de 13,318% no último ajuste. Os juros futuros operavam com viés de baixa no início desta tarde. Por volta das 15h, porém, começaram a zerar as quedas.
No consolidado da semana, observa a equipe econômica do Santander, a curva de juros mostrou queda nos vértices mais longos e recuo marginal na inclinação. “O movimento refletiu a sinalização mais clara de estabilidade da política monetária, reforçada pela comunicação do Copom, que destacou a intenção de manter a Selic em patamar contracionista por período prolongado”, apontam os economistas do banco.
Na tarde desta sexta, porém, em entrevista à GloboNews, Haddad voltou a afirmar que o descontrole de gastos públicos foi contratado na gestão anterior, descartou a possibilidade de alterar as metas fiscais, mas não deu sinais de que o governo pretende cortar gastos, e mostrou postura irredutível em relação à derrubada pelo Legislativo do decreto do governo que elevava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
“Na quinta o ‘trade’ de juros foi inflacionário, por conta do IPCA-15 mais módico, mas hoje a realidade fiscal voltou a se impor e as declarações de Haddad acabaram funcionando como um gatilho para a curva de juros abrir”, afirmou Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Como exemplo de outra pauta do governo que pode ser afetada devido à resistência do ministro, Sanchez menciona o projeto de lei que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que ganham até R$ 5 mil. Segundo apurou o Broadcast Político, o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, que é relator da proposta, adiou seu parecer sobre o PL devido aos “ânimos exaltados” na relação entre Executivo e Legislativo.
“Esse afastamento do ministro em relação ao Congresso gera rusgas maiores entre os dois poderes, tumultua a agenda e, assim, dificilmente progressos na área fiscal serão obtidos”, avalia o economista-chefe da Ativa.
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Do lado externo, também pesou sobre a curva de juros brasileira o anúncio feito por Trump em sua rede Truth Social de que suspendeu as negociações comerciais entre EUA e Canadá. “Esse recuo tensionou o ambiente internacional, e ativos emergentes acabam perdendo força”, diz Sanchez.