Os juros fecharam a sessão em queda firme nesta sexta-feira (20), após terem subido mais de 30 pontos-base na primeira etapa, mas ainda acumularam alta na semana. A redução dos prêmios de risco foi atribuída a um combo de fatores, que inclui a aprovação das pautas fiscais no Congresso e a atuação conjunta do Banco Central e do Tesouro nos mercados de câmbio e títulos. A cereja do bolo veio com a sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que dará autonomia ao trabalho do Banco Central sob o comando de Gabriel Galípolo.
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A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,94%, de 15,07% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 15,31% para 15,10%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 14,68%, de 14,96%.
Apesar do alívio nos prêmios de risco hoje, os DIs seguem precificando Selic terminal acima de 16%. Segundo o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, projetavam taxa de 16,22% no fim do ciclo a meados da tarde. Para o Copom de janeiro, a precificação era de 142 pontos-base, cerca de 30% de chance de alta de 125 pontos e 70% de probabilidade de 150 pontos, “mesmo com a queda do dólar e do reforço do guidance do BC”, afirmou Rostagno. Ontem, Galípolo afirmou que a barra para mudança na sinalização do BC é alta.
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A primeira parte do dia foi difícil, diante da decepção dos investidores com a desidratação das propostas fiscais aprovadas pelo Congresso. Analistas estimam que as mudanças reduziram o potencial de economia do pacote entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões, sendo que ninguém já comprava a ideia inicial do governo de economia de R$ 70 bilhões. O mercado debatia ainda o risco de o País entrar em dominância fiscal.
Na sequência, a curva começou a melhorar depois que o Senado finalizou o pacote, ao aprovar o projeto que limita o crescimento real do salário mínimo ao máximo permitido pelo arcabouço, de 2,5% ao ano, e estabelece mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Além disso, passou o projeto que alonga o prazo para instituições financeiras deduzirem perdas decorrentes de inadimplência da base de cálculo do IRPJ. A medida vai gerar uma arrecadação adicional de R$ 16,8 bilhões em 2025.
Mas as mínimas do dia vieram com Lula indicando que Galípolo terá carta branca para trabalhar quando assumir o BC em janeiro. As taxas longas aceleraram o recuo para mais de 40 pontos-base, já operando abaixo dos 15%.
Em um vídeo publicado ao lado de Galípolo durante almoço com ministros, Lula disse que ele será o chefe da autarquia com “mais autonomia” que a instituição já teve e que assumirá o cargo por uma “relação de confiança minha e de toda a equipe do governo”. “Quero que você saiba que jamais, jamais, haverá da parte da Presidência qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no Banco Central.”
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O mercado gostou do que chamou de “tentativa do governo de retomar a credibilidade”, numa aparente mudança de postura em relação a Roberto Campos Neto, que deixou hoje a instituição. Os últimos meses de Campos Neto à frente do BC foram marcados por pesadas críticas de Lula ao nível de juros, mas, agora, a impressão é de que Galípolo terá liberdade. “De certa maneira, também alimenta a esperança de que o governo possa apresentar novas medidas fiscais que facilitem o trabalho do BC”, afirmou Rostagno.
Segundo apurou o Broadcast, no almoço de hoje, Lula teria indicado aos ministros querer a “pacificação” com o mercado financeiro e que entende os juros elevados. Teria dito ainda que “o governo não pode gastar mais do que arrecada”.
A nova atuação conjunta entre o BC e Tesouro também ajudou a tirar pressão da curva de juros, como já havia ocorrido ontem. O BC vendeu US$ 3 bilhões em moeda à vista e US$ 4 bilhões em linha com compromisso de recompra, enquanto o Tesouro recomprou hoje 1,9 milhão de NTN-F e 3,4 milhões de LTN.