Prejuízo da Magalu no segundo trimestre já era esperado pelo mercado. (Foto: AdobeStock)
O Magazine Luiza (MGLU3) confirmou no balanço do segundo trimestre de 2025 o prejuízo, o que já era esperado pelo mercado. Com os juros altos afetando a operação, o resultado financeiro negativo (-R$ 495,6 milhões) pesou sobre um pequeno lucro líquido de R$ 1,8 milhão o que, no final, contribuiu para um prejuízo de R$ 24,4 milhões no critério contábil. O balanço do 2T25, no entanto, reservou algumas surpresas.
O que mais chama a atenção dos analistas, no entanto, é a consistência da companhia em dar prioridade à eficiência operacional em meio à concorrência acirrada e ao consumo ainda enfraquecido.
“Foi um trimestre fraco, mas que reforçou a leitura de que o Magalu está menos interessado em perseguir crescimento a qualquer custo e mais focado em preservar rentabilidade, mesmo que isso implique em não crescer faturamento”, diz Iago Souza, analista de Varejo da Genial Investimentos.
No 2T25, a Magalu reportou vendas totais (GMV) de R$ 15,3 bilhões, com leve queda de 0,6% na comparação anual. O desempenho foi puxado pelas lojas físicas, que cresceram 3%, com avanço de 3,5% nas vendas mesmas lojas (SSS). Já o e-commerce apresentou queda de 2,1%, com o canal 1P (venda direta) ligeiramente positivo (+0,8%) e o 3P (marketplace) ainda pressionado, com retração de 6,4%.
Estratégia preserva margens mesmo com concorrência acirrada
Segundo a Genial, esse recuo pode estar relacionado à maior agressividade dos concorrentes – como o Mercado Livre (MELI34), que reduziu o ticket mínimo para frete grátis de R$ 79 para R$ 19, o que teria impulsionado o volume de vendas no período e capturado fluxo no e-commerce.
A companhia obteve sucesso em manter a estratégia de preservação de rentabilidade. Mesmo vendendo menos, a margem Ebitda ajustada (indicador de lucro operacional) subiu para 8%, ligeiramente acima dos 7,5% projetados na prévia, puxada pelo resultado positivo da Luizacred, que registrou lucro de R$ 102 milhões e inadimplência controlada.
Para Tales Barros, líder de renda variável da W1 Capital, esse controle vem de uma gestão mais criteriosa na concessão de crédito e aprovação de novos cartões. “Além disso, a gente vê um foco em segmento menor de risco, por meio do chamado carnê digital e aprimoramento no modelo de cobrança”, diz. Segundo ele, a Magalu tem usado o Pix como a forma mais relevante de venda, com 36% do total, com repercussão positiva na inadimplência, mesmo diante de um cenário desafiador com Selic a 15%.
Segundo tri melhor que o primeiro
Para os analistas da XP, os resultados do segundo trimestre foram melhores do que o anterior, quando a empresa reportou lucro líquido de R$ 12,8 milhões e não prejuízo como agora. Essa análise advém justamente do fato de que a varejista conseguiu melhorar seu ganho operacional graças liquidações, que ajudaram a girar os estoques, e ao controle mais eficiente dos seus custos fixos, o que aumentou sua produtividade mesmo sem crescimento nas vendas.
“A Magazine Luiza reportou resultados melhores no segundo trimestre, com o cenário macroeconômico ainda sendo um obstáculo para a demanda, mas superação do Ebitda devido à liquidação de meio de ano e maior alavancagem operacional”, diz a XP em relatório.
A receita líquida do Magalu cresceu 1,4% na base anual, para R$ 9,13 bilhões, número que ficou em linha com as expectativas da XP e da própria Genial. A margem bruta foi de 30,5%, levemente abaixo do projetado, impactada pelas campanhas de liquidação do meio do ano. Os estoques da controladora foram reduzidos em R$ 348 milhões, gerando um ganho de capital de giro de R$ 159 milhões.
Serviços digitais e logística ganham força no ecossistema Magalu
No ecossistema, a companhia também reportou números relevantes. O time da XP notou que MagaluAds (plataforma de anúncios e publicidade digital do Magazine Luiza) teve alta de 66% na receita.
O serviço de logística própria da Magalu (o fulfillment) foi usado em 27% das vendas feitas por lojistas parceiros na plataforma, com mais vendedores optando por deixar a entrega nas mãos da empresa. O número de parceiros que usam esse serviço cresceu 32% em um ano.
Já o Magalu Cloud atende mais de mil clientes externos, cobrindo 40% da demanda interna.
Para a Genial, “a dinâmica reforça a tese de que o motor físico está rodando melhor que o online, enquanto serviços e eficiência operacional dão sustentação às margens”.
“O 3P (marketplace) ainda é o ponto frágil e deve ser um foco de atenção nos próximos trimestres.”
A expectativa agora se volta para o segundo semestre do Magazine Luíza, com a Genial apontando o quarto trimestre do ano como a melhor janela para retomada do lucro e diluição de despesas com apoio da sazonalidade.
O que fazer com as ações MGLU3?
Os analistas do BTG Pactual notam que a empresa aumentou investimentos e, ainda assim, registrou um bom fluxo de caixa livre, numa visão positiva sobre a solidez financeira da operação. Em relatório, o banco aponta para um fluxo de caixa livre (FCF) de R$ 391 milhões, mesmo com aumento de 39% no capex (investimentos) em relação ao ano anterior.
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“Reconhecemos que os juros mais altos nos próximos trimestres devem pressionar tanto a receita quanto o lucro da companhia, mas os últimos trimestres mostraram uma tendência de melhora na rentabilidade (e no fluxo de caixa livre), sustentando nossa recomendação de compra”, escrevem os analistas. O BTG vê um preço-alvo de R$ 14 para 12 meses.
O Citi, por sua vez, recomenda venda, com preço-alvo de R$ 6,80, o que equivale a um potencial de desvalorização de 8,4% ante o último fechamento.
O Itaú BBA prefere manter cautela em relação ao papel, prevendo queda nas vendas no segundo semestre, devido a um ambiente com altos níveis de endividamento das famílias e taxas de juros elevadas. O principal direcionador a partir de agora, na visão do BBA, é acompanhar os impactos dos novos investimentos em lojas físicas ao longo do segundo semestre.
O prejuízo reportado pelo Magazine Luíza no balanço do 2T25 não foi bem aceito pelo mercado. O papel recuava forte na manhã desta sexta (8) em 5,8%, precificada a R$ 6,99.