

O Ibovespa hoje fechou em alta, na véspera do que tem sido chamado de “Dia da Libertação”, data em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve anunciar tarifas recíprocas como uma forma de retaliação à taxação de outros países sobre produtos americanos. Nesta terça-feira (1º), a principal referência da B3 subiu 0,68% aos 131.147,29 pontos, depois de oscilar entre máxima a 131.982,29 pontos e mínima a 130.080,54 pontos. No exterior, as bolsas de Nova York encerraram mistas.
Trump planeja anunciar tarifas recíprocas que corresponderiam às taxas cobradas por outros países e levariam em conta outros subsídios. O republicano já falou em taxar países como Coreia do Sul, Brasil e Índia, além da União Europeia. Os detalhes da medida ainda são incertos, desde a escala até o momento da aplicação e a variabilidade entre cada região do globo.
Para a equipe do BTG Pactual (BPAC11), caso as medidas anunciadas no dia 2 de abril sejam direcionadas apenas aos países com os quais os Estados Unidos têm grandes déficits comerciais ou que tenham participação relevante no comércio norte-americano, o Brasil provavelmente não será impactado inicialmente. “Contudo, se forem aplicadas tarifas generalizadas a setores específicos ou se os critérios incluírem países com barreiras comerciais superiores às americanas, o Brasil poderá ser diretamente afetado”, destaca o banco, em relatório.
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De acordo com o banco, a diversificação da pauta de exportação do Brasil limita o impacto geral sobre a balança comercial caso as tarifas de Trump sejam impostas apenas em determinados setores. No entanto, segmentos altamente dependentes do mercado americano poderão sofrer efeitos significativos, como os de aeronaves, materiais de construção, etanol e madeira e derivados.
Qual o impacto das tarifas de Trump para a Bolsa brasileira?
Na avaliação da Ágora Investimentos, as medidas anunciadas pelo presidente americano têm desencadeado uma postura mais cautelosa entre os investidores, gerando um movimento de rotação global, com recursos migrando parcialmente das bolsas dos EUA para as rivais globais, inclusive a brasileira.
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A grande dúvida ronda agora sobre a sustentabilidade desse movimento. A corretora reconhece que a tese ainda é frágil para se tornar um “ponto de virada” para compras mais entusiasmadas no mercado acionário do Brasil. Além disso, a falta de uma mudança estrutural no cenário brasileiro evidencia o risco de uma inversão abrupta desse fluxo estrangeiro.
Em março, o Ibovespa confirmou ganhos de 6,08% – veja a reportagem completa aqui. No primeiro trimestre do ano, a alta foi de 8,29% em moeda local e de 16,78% em dólares. Na moeda americana, essa performance não era vista desde o quarto trimestre de 2023, quando o índice da B3 avançou 19,07% em dólares, segundo dados de Einar Rivero, CEO e sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria e colunista do E-Investidor.
Na sessão desta terça-feira, a primeira de abril, o humor também foi positivo na Bolsa brasileira. O Ibovespa ganhou força com suas ações de maior peso: Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4). Enquanto os papéis da mineradora avançaram 0,86%, os ordinários da petroleira (PETR3) subiram 0,51% e os preferenciais (PETR4) apresentaram ganhos de 0,38%.
Entre as maiores altas do dia, destaque para as ações da Minerva (BEEF3), que registraram valorização de 3,01%. Ao Broadcast, o sócio da L4 Capital, Hugo Queiroz, explicou que o mercado está precificando a aprovação da proposta de aquisição de dois frigoríficos pertencentes à Marfrig (MRFG3). “Representaria a abertura de novos mercados”, explica.
Do lado oposto, os papéis da Natura (NTCO3) caíram 7,91% e lideraram as perdas do Ibovespa hoje. Para Queiroz, a empresa segue pagando pela perda de confiança do mercado, após suas questões com a Avon. “O mercado só voltará a pagar para ver quando houver resultados”, completa.
Como operam os mercados no mundo nesta terça-feira?
Bolsas de NY ficam mistas após dados dos EUA
Em Nova York, Nasdaq e S&P 500 subiram 0,87% e 0,38%, respectivamente, enquanto Dow Jones caiu 0,03%. Investidores monitoraram diferentes dados econômicos na sessão. A abertura de postos de trabalho nos EUA caiu para 7,568 milhões em fevereiro, de acordo com o relatório Jolts. O resultado ficou abaixo da expectativa de analistas consultados pela FactSet, que previam a criação de 7,65 milhões de vagas no período.
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O índice de gerentes de compras (PMI) industrial dos EUA, por sua vez, recuou de 52,7 em fevereiro a 50,2 em março, segundo pesquisa final divulgada hoje pela S&P Global. O resultado, porém, ficou acima da leitura preliminar e da previsão de analistas consultados pela FactSet, de 49,8 em ambos os casos.
Em relação às tarifas de Trump, a equipe da Janus Henderson avalia que as ações dos EUA continuam relativamente caras e, portanto, sensíveis a surpresas negativas relacionadas ao “Dia da Libertação” ou a dados econômicos futuros. “Também vale lembrar que tentar prever o momento certo para entrar ou sair do mercado financeiro é extremamente difícil, já que alguns dos melhores dias de alta ocorrem em períodos de incerteza”, pondera a casa.
Bolsas da Europa fecham em alta com preocupações sobre tarifas
As bolsas da Europa fecharam em alta nesta terça-feira. Investidores ponderaram possíveis impactos de tarifas recíprocas americanas e retaliações de autoridades da União Europeia e do Reino Unido.
A presidente da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta terça-feira que o bloco tem um “plano forte” para retaliar as tarifas americanas, se necessário. “A Europa não começou este confronto”, pontuou, em discurso divulgado hoje. “Seria melhor se nós pudéssemos encontrar uma solução construtiva.”
Já a ministra das Finanças britânica, Rachel Reeves, disse numa reunião do governo que as tarifas teriam impacto no Reino Unido, “que tem uma economia aberta ao comércio”, e o primeiro-ministro, Keir Starmer, prometeu uma abordagem “calma e pragmática”, sem “reação precipitada”, ao que quer que Trump anunciasse.
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Em Londres, o FTSE 100 avançou 0,61%, para 8.634,80 pontos. O DAX, de Frankfurt, subiu 1,67%, fechando em 22.534,33 pontos, enquanto o CAC 40, de Paris, ganhou 1,10%, encerrando a sessão em 7.876,36 pontos. Em Madri, o Ibex 35 subiu 1,21%, a 13.302,58 pontos, e o PSI 20, de Lisboa, avançou 1,24%, para 6.950,65 pontos. Já o FTSE MIB, de Milão, subiu 1,33%, fechando em 38.557,38pontos.
Bolsas da Ásia fecham em alta após tombo da véspera
As bolsas da Ásia fecharam em alta nesta terça-feira, recuperando-se parcialmente dos tombos que sofreram na véspera em meio a incertezas sobre a política tarifária do governo Trump.
O índice japonês Nikkei ficou praticamente estável em Tóquio, com ligeiro ganho de 0,02%, a 35.624,48 pontos, depois de amargar queda de mais de 4% no pregão anterior e entrar em território de correção. O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, disse hoje que buscará a isenção de eventuais tarifas dos EUA.
O índice sul-coreano Kospi avançou 1,62% em Seul, a 2.521,39 pontos, interrompendo uma sequência de três sessões negativas, enquanto o Hang Seng subiu 0,38% em Hong Kong, a 23.206,84 pontos, e o Taiex teve desempenho mais expressivo em Taiwan, com alta de 2,82%, a 21.280,17 pontos, depois de encerrar o primeiro trimestre com perdas de 10%.
Na China continental, os mercados também fecharam no campo positivo. O Xangai Composto subiu 0,38%, a 3.348,44 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,35%, a 2.012,21 pontos.
Dólar e euro caem na sessão
O dólar hoje passou a cair durante a tarde e registrou a mínima intradia a R$ 5,6734 no mercado à vista. No início da tarde, a moeda americana fechou em baixa de 0,4% a R$ 5,6824. Na segunda-feira (31), a divisa fechou o mês de março a R$ 5,70, com uma queda acumulada de 3,5%. Veja o que esperar do câmbio em abril.
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O euro também operou no campo negativo em relação ao real. A moeda cedeu 0,6% a R$ 6,1320.
Ouro recua depois de renovar máxima histórica
Os contratos futuros de ouro fecharam em queda, depois de renovaram suas máximas históricas na segunda-feira (31), acima dos US$ 3.150 por onça-troy. Na medida em que os investidores se posicionam para as tarifas recíprocas dos Estados Unidos, o metal precioso se fortalece como porto seguro.
“No Brasil, o ouro é visto como uma forma de proteção contra a desvalorização do real e a volatilidade do mercado. Muitos investidores buscam o ouro como um porto seguro. Globalmente, o ouro também é considerado um ativo de refúgio, especialmente em momentos de crise financeira”, explica Mauriciano Cavalcante, economista da Ourominas.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações nos mercados globais, antes do anúncio de tarifas de Trump.
*Com informações do Broadcast
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