

A Multiplan (MULT3) – dona de uma rede com 20 shopping centers – teve lucro líquido de R$ 234,044 milhões no primeiro trimestre deste ano, queda de 12,4% ante o mesmo período do ano passado, conforme balanço publicado na quinta-feira (24). Segundo a companhia, a queda no lucro foi influenciada pelo aumento de 64,5% nas despesas financeiras.
O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) somou R$ 400,615 milhões no período, alta de 2,5% na mesma base de comparação anual. Foi o maior resultado já registradopara um primeiro trimestre pelo terceiro ano consecutivo. A margem Ebitda foi a 76,2%, alta de 1,6 ponto porcentual.
O balanço da Multiplan foi bem recebido pelo mercado de modo geral, mas abriu margem para diferentes visões em detalhes específicos. Citi, por exemplo, considerou os resultados positivos, mas com investimentos e despesas abaixo do esperado. Já XP Investimentos, BB e BTG Pactual reforçaram a capacidade da empresa de entregar bons números. Veja as análises na íntegra e os respectivos preços-alvo e recomendações.
Como o mercado reage ao resultado da Multiplan?
Citi
A Multiplan reportou resultados praticamente em linha com o esperado pelo Citi no primeiro trimestre. O banco destaca que a empresa reportou importante controle de despesas, com investimentos (capex) e despesas operacionais (opex) abaixo dos níveis esperados.
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Em relatório, o analista Andre Mazini destaca que o capex total foi de R$ 120,5 milhões no período e, considerando apenas a parte de revitalização, chegou a de R$ 25,7 milhões (5,5% do Ebitda). “Acreditamos que o mercado receberá bem essa redução após as preocupações com os níveis mais altos de 2024”, afirma.
O profissional observa que os investimentos substanciais realizados no ano passado estão gerando impactos positivos em todo o portfólio, especialmente no crescimento de 15% nas vendas do BarraShopping.
Embora ainda haja alguns esforços de reforma em shoppings selecionados, o analista espera que o nível de capex associado a esta linha seja substancialmente menor em 2025, visto que vários projetos estão quase concluídos.
O banco avalia que a revitalização parece estar impulsionando a melhora nas vendas – o BarraShopping, o maior shopping do portfólio, com R$ 3,5 bilhões em vendas no último trimestre de 2025, apresentou forte crescimento de vendas de 15% no trimestre. “Isso é positivo, considerando a maturidade do shopping”, afirma.
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Outros shoppings, segundo o Citi, também estão apresentando bons resultados semelhantes após a forte revitalização, como o DiamondMall e o NY City Center. O Shopping Vila Olímpia, por outro lado, continua apresentando o pior desempenho do portfólio, com queda de 14% nas vendas em relação ao ano anterior.
A receita líquida permaneceu estável na comparação anual, em R$ 526 milhões, refletindo um trimestre mais difícil em termos de vendas (com comparações difíceis do feriado de Páscoa) e os níveis de reajuste do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) ainda defasados, que, por sua vez, devem ganhar impulso no futuro.
O Ebitda de R$ 401 milhões (+2,5% em relação ao ano anterior), ficou 1% abaixo do esperado pelo Citi, resultando em uma margem Ebitda de 76,2%, 230 pontos-base acima da expectativa do banco. O fluxo de caixa proveniente das operações foi de R$ 278 milhões (-15% em relação ao ano anterior), veio 16% maior que o esperado pelo banco, devido a resultados financeiros acima do esperado.
O Citi tem recomendação de compra para as ações da Multiplan, com preço-alvo de R$ 31, o que representa um potencial de valorização de R$ 23,3% ante o último fechamento da ação da empresa.
XP
A XP considerou positivos os resultados do primeiro trimestre da Multiplan. Para a corretora, os números foram motivados por um desempenho operacional resiliente, perspectiva positiva de receita e despesas menores, levando a um declínio mais brando do que o esperado no fluxo de caixa.
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“Embora não esperemos que a margem Ebitda do período seja sustentável no futuro, o portfólio dominante da Multiplan deve manter sólidos os indicadores operacionais e financeiros, mesmo em meio às condições macroeconômicas desafiadoras”, dizem os analistas Ygor Altero e Ruan Argenton. A dupla reitera a classificação de compra para as ações da empresa.
Segundo o relatório, na questão operacional, as vendas dos lojistas aumentaram 8%, ante o ano anterior, as vendas nas mesmas lojas foram de 6,2%, apesar dos efeitos de calendário que levaram a Páscoa para abril, diminuindo em 1,5% o desempenho de alimentos e levando os holofotes para eletrônicos e vestuário. A ocupação aumentou 60 pontos-base em relação a 2024, em linha com as estimativas.
A receita líquida manteve estabilidade em relação ao ano anterior, por conta de comparações fortes com outras receitas, mas compensada por maiores receitas de aluguel e serviços de gestão, que apresentou aumento de 5% na comparação anual, devido a alta do IGP-DI; serviços de gestão com aumento de 15%, com uma evolução do JundiaíShopping; e receitas de estacionamento com crescimento de 10% na comparação anual.
Por fim, uma redução de 33% das despesas levou a uma margem Ebitda de 94,1%, com expansão de 401 pontos-base. Superando assim as estimativas em 4,1 pontos porcentuais.
BB
O balanço da Multiplan no primeiro trimestre do ano foi considerado positivo pelo analista de shopping centers do BB, Felipe Mesquita, com destaque para a performance resiliente do portfólio da companhia, que contribuiu para a estabilização do seu endividamento.
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Na parte operacional, o analista elogiou que os shoppings da Multiplan tiveram avanço de 7,9% nas vendas totais no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024, atingindo R$ 5,5 bilhões. Assim, o custo de ocupação médio dos lojistas ficou em 14%, nível estável na comparação anual. O custo de ocupação também ficou no menor nível para um primeiro trimestre desde 2019, quando marcou 13,7%. A inadimplência líquida dos lojistas atingiu 0,8%, redução de 0,41 p.p. na comparação anual.
O analista apontou que as vendas das mesmas lojas (SSS) avançaram 6,2% na base anual, enquanto o aluguel das mesmas lojas (SSR) apresentou um crescimento real de 3,4%, ainda impactado por um período de IGP-DI negativo até abril de 2024. Na sua avaliação, isso sugere que o movimento de reajustes deve ocorrer de forma mais intensa nos próximos trimestres, uma vez que a janela de 12 meses do IGP-DI já acumula 8,57%, se descolando dos 5,48% registrados pelo IPCA no mesmo período.
Na parte financeira, a receita líquida atingiu R$ 525,7 milhões, leve crescimento de 0,4% na comparação anual, que havia contado com maior reconhecimento de receitas provenientes do projeto de incorporação Golden Lake, localizado em Porto Alegre. As despesas gerais e administrativas cresceram 7,7%, representando 9,5% da receita líquida no trimestre (alta de 0,7 p.p.), em função de ajustes do acordo coletivo anual e provisões para eventuais contingências trabalhistas.
Mesmo com um maior impacto das despesas, a Multiplan registrou um Ebitda de R$ 400,6 milhões no período, 2,5% maior na comparação anual, acompanhada de uma margem Ebitda de 76,2%, crescimento de 1,57 p.p, principalmente em função do encerramento do provisionamento de parcelas de remuneração baseada em ações aprovadas em exercícios anteriores. No entanto, o analista do BB lembrou que, em abril de 2025, a companhia aprovou um novo programa de remuneração baseado em ações, que deve ter maturação ao longo dos próximos três anos.
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O lucro líquido somou R$ 234 milhões no trimestre, recuo de 12,4%, principalmente impactado por um expressivo crescimento das despesas financeiras na comparação anual, batendo em R$ 139,6 milhões, salto de 64,5%). Isso resultou do maior grau de endividamento resultante do movimento societário realizado em 2024, que consumiu caixa da companhia para viabilizar a aquisição da participação acionária ofertada por um investidor institucional, explicado em maior grau de detalhes aqui. Assim, a margem líquida chegou a 44,5%, queda de 6,5 p.p..
Mesquita citou que, também em razão desse movimento societário, a companhia apresentou uma elevação em sua dívida líquida, que atingiu R$ 4,23 bilhões, 107% acima do 1T24, mas 2,1% abaixo do trimestre final de 2024. O mesmo efeito foi percebido na relação dívida líquida sobre EBITDA da companhia, que atingiu 2,28x, alta de 0,96 p.p. ano contra ano.
“Como a companhia tem conseguido entregar uma geração de caixa consistente ao longo dos últimos trimestres, existe algum conforto em relação a rolagem de sua dívida de curto e médio prazo”, descreveu, no relatório.
“No entanto, vale comentar que mais de 95% da dívida da companhia está atrelada a uma taxa média de CDI +0,84% a.a., o que deve seguir pressionando seu resultado financeiro ao longo dos próximos trimestres, até que alguma combinação de redução da alavancagem e/ou melhora nas condições macroeconômicas aconteça”, ponderou.
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Por ora, os analistas esperam que o custo médio do endividamento da companhia, que atingiu 14,81% ao ano, uma alta de 3,39 p.p, deve seguir crescendo até que o presente ciclo de aperto monetário vivenciado no país chegue ao fim.
O BB manteve a recomendação de compra das ações da Multiplan, com preço-alvo de R$ 31,20.
BTG
A Multiplan reportou resultados financeiros sólidos e acima do esperado no primeiro trimestre deste ano, superando as projeções do BTG Pactual.
A Ebitda ajustado, por exemplo, foi de R$ 391 milhões, 4% acima da expectativa do banco, impulsionado por menores custos de produtos vendidos, reversões de PDD e recuperação de encargos indevidos de fornecedores.
Os analistas do BTG ainda destacaram dados positivos nas vendas nas mesmas lojas, nos aluguéis nas mesmas lojas, na taxa de vacância e na taxa de inadimplência dos lojistas.
“No geral, os resultados da Multiplan no primeiro trimestre foram sólidos, com números operacionais robustos, com cortes expressivos de custos e impactos pontuais positivos nas despesas com PDD e nos resultados financeiros”, afirmaram os analistas Gustava Cambauva e Elvis Credendio, em relatório.
Para os analistas, embora o cenário macroeconômico seja desafiador, com altas taxas de juros pesando sobre os resultados, a Multiplan também ostenta um portfólio dominante de shoppings que tem superado consistentemente o setor em geral.
Por isso, a recomendação de compra para as ações da Multiplan (MULT3) foi mantida, com preço-alvo de R$ 25,15.