Reag Investimentos (REAG3) afunda 15% na bolsa durante investigação da PF; empresa é acusada de lavagem de dinheiro
Papéis da gestora caíram a R$ 3,20 após perda de R$ 61,3 milhões em valor de mercado, em meio às investigações sobre suposto esquema de lavagem de dinheiro ligado ao crime organizado
Operação Carbono Oculto investiga Reag Investimentos, na Faria Lima (Foto: Adobe Stock)
Hoje, quinta-feira (25), as ações da Reag Investimentos (REAG3) despencaram 14,89%, sendo negociadas a R$ 3,20 às 14h21. Em pouco mais de uma hora de pregão, a companhia perdeu R$ 61,3 milhões em valor de mercado, caindo de aproximadamente R$ 513 milhões para R$ 451,17 milhões. O movimento reflete diretamente os desdobramentos da Operação Carbono Oculto, que mira a infiltração do crime organizado na economia formal brasileira e tem entre seus alvos a corretora.
A operação começou a ganhar corpo quando investigadores encontraram máquinas de pagamento em uma casa de apostas em Santos.
As maquininhas estavam registradas em nome de postos de gasolina ligados a uma grande distribuidora. O dinheiro que circulava nesses equipamentos era depositado em uma instituição de pagamento, revelando um fluxo financeiro atípico.
Esse foi o primeiro elo descoberto pelos órgãos de fiscalização em um esquema que teria como ponto central a atuação do BK Bank, fintech acusada de movimentar bilhões de reais em recursos ilícitos.
No emaranhado de empresas investigadas pelos órgão públicos, a Reag também passou a ser observada.
Por que a Reag se tornou alvo da Operação Carbono Oculto?
Os investigadores afirmam que a gestora administrava, em 2020, o Location Fundo de Investimentos, ligado a Mohamad Hussein Mourad, apontado como líder do esquema.
Formalmente, o fundo tinha o nome de Renato Camargo como único cotista, com aportes que totalizaram R$ 54 milhões. Mas os valores eram incompatíveis com seu patrimônio, o que levou o Santander a notificar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Na prática, os recursos tinham origem em contas de Mourad. O relatório da Operação Cassiopeia, que antecedeu a atual, diz:
Mensagens de aplicativo localizadas no aparelho de telefone celular de Renato Steinle de Camargo indicam que Walter Martins Ferreira III, sócio da REAG, prestou auxílio para manter oculto os reais beneficiários do fundo Location.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já havia colocado a gestora sob seu radar. Em novembro de 2024, uma inspeção foi realizada para avaliar seus controles internos de prevenção à lavagem de dinheiro. Agora, com o aval da Justiça, as informações coletadas foram compartilhadas com o Ministério Público.
Diante da repercussão, a Reag e a Companhia Brasileira de Serviços Financeiros (Ciabrasf) divulgaram nota em que afirmam estar colaborando integralmente com as autoridades.
“Trata-se de procedimento investigativo em curso”, afirma o comunicado, no qual as empresas reforçam que estão fornecendo todos os documentos solicitados e permanecerão à disposição para esclarecimentos adicionais.
Faria Lima na mira: a PF no centro financeiro
Enquanto isso, a manhã desta quinta-feira (28) foi marcada por forte presença policial na Avenida Faria Lima, principal centro financeiro de São Paulo.
Publicidade
A Carbono Oculto mobiliza 1.400 agentes, cumprindo 200 mandados de busca e apreensão em 10 estados contra 350 alvos ligados ao mercado de combustíveis, parte dele dominado pelo PCC. Somente na região da Faria Lima, 42 empresas, corretoras e fundos de investimento foram alvo das autoridades.
A queda brusca nas ações da Reag reflete não apenas o impacto imediato das investigações, mas também o temor do mercado diante da possibilidade de novas revelações sobre a participação de instituições financeiras formais no esquema bilionário de lavagem de dinheiro que uniu o setor de combustíveis ao crime organizado.