Pix ganha nova camada de proteção e amplia o rastreamento de fraudes; veja como estornar pagamentos em caso de golpe
MED: Ferramenta do Banco Central, usada para devolver valores de transações fraudulentas, passa por atualização que amplia o rastreamento de recursos e reforça a segurança do Pix
O Banco Central atualizou o MED, mecanismo de devolução do Pix criado em 2021, que passa a rastrear movimentos posteriores do dinheiro em golpes e melhorar a recuperação de valores. Entenda o que muda e como funciona. (Imagem: ADobe Stock)
O Pix se consolidou de vez no País. A ferramenta de pagamentos favorita dos brasileiros, hoje, é quem dita o ritmo das contas digitais e da maioria das relações financeiras e, à medida que o uso cresceu, também avançaram as ferramentas de segurança que o Banco Central (BC) acopla ao sistema. Dentre elas, o Mecanismo Especial de Devolução (MED), acaba de ser atualizada e ganhou poderes adicionais para rastrear e recuperar valores desviados em golpes.
O MED foi lançado em 2021 como resposta ao aumento de fraudes envolvendo transações instantâneas. A função original era permitir a devolução de valores enviados via Pix quando houvesse fraude comprovada ou falha operacional da instituição recebedora.
O mecanismo, porém, tinha uma limitação relevante. Ele só conseguia bloquear o dinheiro na primeira conta que recebia o Pix suspeito, o que deixava brechas para golpistas espalharem rapidamente o valor para outras contas e dificultarem a recuperação.
Como funcionava antes
Na versão inicial, a vítima acessava o aplicativo de seu banco, solicitava a contestação (em geral, por um canal específico de atendimento) e, após análise, o banco do recebedor bloqueava os valores que ainda estivessem disponíveis na conta que recebeu a transação fraudulenta.
O problema é que muitos golpistas, por conheceram essa especificidade da ferramenta de proteção, operam em cadeia: o dinheiro é transferido em segundos para outras contas, às vezes dezenas delas, para ofuscar a trilha. Se o valor “sumisse” antes do bloqueio, o MED podia fazer pouco, ou quase nada.
O que muda com o MED 2.0
Desde 23 de novembro, entrou em operação o MED 2.0, uma reformulação que amplia substancialmente o alcance do mecanismo. Agora, o sistema do BC pode rastrear o percurso completo do dinheiro, mesmo quando ele circula por várias contas, e consegue bloquear valores não apenas no destino final, mas também nas chamadas contas intermediárias.
A devolução, se confirmada a fraude, pode ocorrer em até 11 dias, prazo já previsto nas normas antigas e que continua valendo. A diferença é a eficiência: ao seguir a trilha do dinheiro, o mecanismo aumenta as chances de recuperação e diminui a “taxa de fuga” típica de golpes como perfis falsos, links maliciosos e transferências sob coação.
A atualização do MED teve início facultativo: a partir do último domingo, as instituições participantes do Pix podem aderir voluntariamente ao novo modelo de rastreamento. O Banco Central estabeleceu, porém, que o uso do MED 2.0 torna-se obrigatório para todas as instituições financeiras e de pagamento em 2 de fevereiro de 2026. Até lá, bancos e fintechs ajustam sistemas e fluxos internos para operar a nova camada de monitoramento, enquanto o mecanismo convive em fase de transição com a versão anterior.
Ainda não há uma lista oficial do Banco Central indicando quais instituições já adotaram a nova atualização, mas a tecnologia, onde implementada, já reforça a blindagem das operações via Pix.
Sofri um golpe! Como reaver o meu dinheiro?
O usuário deve:
Acessar o aplicativo do banco;
Procurar o botão “Contestar Pix”;
Relatar o golpe e enviar, se quiser, documentos de apoio (prints, boletim de ocorrência etc.).
A partir daí, os bancos envolvidos fazem o bloqueio e analisam o caso por até sete dias. Nesse intervalo, o MED rastreia automaticamente todas as movimentações derivadas daquele Pix. Encontrou dinheiro remanescente? Ele é congelado para posterior devolução, mesmo que tenha passado por várias “mãos”.
Embora o MED seja uma rota de proteção contra golpes, ele deve ser acionado somente no caso de golpes. A facilidade não deve ser usada em casos de desacordo comercial, erro na digitação de valores ou equívoco na chave Pix. O mecanismo só se aplica quando há indício de fraude, comunicado pelo pagador. É uma ferramenta de segurança, não de contestação.
O que muda para o usuário
A experiência do cliente não se altera, todo o processo continua acontecendo dentro do app do banco. O ganho está na efetividade da recuperação. Se antes um golpista ágil conseguia esvaziar a conta inicial e escapar do bloqueio, agora o sistema intercepta o dinheiro mesmo após sucessivas transferências.
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Na prática, o MED 2.0 cria uma rede mais fina, que acompanha o dinheiro enquanto ele circula e fecha o cerco contra golpes estruturados. O mecanismo não exige nenhuma ação adicional do usuário além do pedido de contestação.
Riscos continuam, e atenção segue fundamental
Mesmo com o reforço de segurança, o Banco Central ressalta que nenhum sistema elimina por completo o risco de golpe. Não compartilhe senhas ou códigos, desconfie de mensagens que pedem urgência, evite clicar em links desconhecidos e mantenha os aplicativos atualizados.
O MED 2.0 ajuda, e muito, mas não substitui a vigilância de quem usa o Pix.