

A curva de juros brasileira (DI), refletida nos títulos prefixados do Tesouro Direto, acompanhou o vaivém dos mercados dos últimos dias. Caiu com o medo de recessão global e, desde essa quarta (9), voltou a subir com o anúncio de uma trégua de 90 dias na guerra comercial – que se intensificou contra a China. Agora, o foco do mercado local se volta (de novo) para o risco fiscal do Brasil, levando investidores a exigir prêmios mais altos para emprestar ao governo diante das incertezas internas.
Esta semana, os juros do Tesouro Prefixado de curto prazo com vencimento em 2028 chegaram no piso de 13,95%. Mas voltaram a subir. Nesta quinta (10), na atualização das 13h04, o site do Tesouro Direto mostrava esse papel pagando 14,33%.
“Se não tiver mais nenhum evento fora da curva, com Trump mantendo a trégua de 90 dias, o que está mais fazendo preço neste exato momento é risco Brasil: inflação interna, mercado de trabalho e, principalmente, câmbio”, diz Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos.
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O Boletim Focus de 7 de abril projeta o IPCA em 5,68% para o fim de 2025, acima do teto da meta (4,5%), num cenário de desemprego relativamente baixo, que sustenta a demanda interna, mas pressiona a inflação, dificultando a convergência do IPCA à meta. O dólar, que também pressiona a inflação, vem numa crescente 5,2% na semana, cotado R$ 6,03 às 15h desta quinta. O câmbio pressionado força ajustes nos juros futuros (DI) e queda no Ibovespa.
Descasamento dos juros no Brasil e EUA
Desde o chamado “Liberation Day”, na semana passada, quando o presidente dos EUA Donald Trump anunciou um pacote agressivo de tarifas, o mercado entrou em forte volatilidade. No Brasil, o temor de uma recessão global pressionou os juros para baixo, movimento interrompido nesta quarta, enquanto nos EUA os juros apontaram para cima.
Esse descasamento entre os juros dos Treasuries dos Estados Unidos e os juros futuros no Brasil tem alguns fatores. Primeiro, o aumento da percepção de risco de recessão nos EUA levou a uma fuga de capitais para ativos considerados mais seguros — mas que, curiosamente, nos últimos meses, também impulsionou entradas em países emergentes como o Brasil.
A segunda razão teve relação com o movimento da China, um dos grandes detentores da dívida pública americana. O país asiático possui centenas de bilhões de dólares em títulos do Tesouro dos EUA.
Nos últimos dias, houve rumores – e evidências – de que o governo chinês começou a desovar parte desses papéis no mercado. Como os Treasuries são precificados pelo valor de mercado (PU), uma venda em grande escala pressiona os preços para baixo — o que, por consequência, eleva suas taxas de juros.
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“A confiança na solvência dos EUA permanece alta, e muitos investidores aproveitaram a baixa nos preços para recomprar os títulos, o que ajudou a estabilizar as taxas”, observou Oliveira da One.
Treasuries e Tesouro Direto
Por volta das 14h desta quinta (10), o rendimento do Treasury de 10 anos caía quase 0,05 pontos percentuais, para 4,349%, enquanto o rendimento do título de dois anos também recuava mais de 0,12 pontos, para 3,823%. Na quarta-feira (9), o rendimento do Treasury de 10 anos chegou a ultrapassar 4,51% em seu pico, impulsionado por uma volatilidade incomum no mercado de títulos dos EUA.
No Brasil, o efeito foi diferente. O mercado local passou a projetar uma desaceleração da economia global, o que provocou uma queda nos juros futuros e, por consequência, nas taxas dos títulos prefixados do Tesouro Direto. Esses papéis são fortemente influenciados pela curva de juros (DI Futuro), que incorpora a expectativa de juros no horizonte.
A volatilidade internacional reforçou a expectativa de o início de cortes de juros no final do ano, num cenário que, neste momento, passou a apontar para uma Selic mais alta por mais tempo. A estimativa é de mais dois aumentos até o final do ano, com a taxa saindo do atual patamar de 14,25% para 15%.
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