O ganho sustentado nos retornos dos Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) de longo prazo pode estar levando o ciclo histórico de alta nos juros a um fim anticlimático. Graduados dirigentes do banco central têm sinalizado nos últimos dias que poderiam já ter encerrado as altas nos juros, caso as taxas de longo prazo sigam perto de suas máximas e a inflação continue a desacelerar.
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Em julho, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) elevou os fed funds à faixa entre 5,25% e 5,50%, na máxima em 22 anos. Dirigentes mantiveram os juros no mês passado e indicaram que os elevariam uma última vez em alguma das duas últimas reuniões deste ano.
O avanço nos juros dos Treasuries de longo prazo começaram após a alta de julho do Fed e ganharam fôlego após a reunião de setembro do BC americano.
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Na terça-feira, o juro da T-note de 10 anos recuou a 4,637%, após na sexta-feira ter encerrado o dia em 4,783%, enquanto investidores buscam a segurança dos bônus, após o ataque no sábado do Hamas contra Israel. Ainda assim, os juros estavam em 4,346% em 20 de setembro, o dia da última reunião do Fed, e em 3,850% em 26 de julho, dia da última elevação de juros do Fed.
O BC americano eleva juros para combater a inflação ao desacelerar a atividade econômica, o principal mecanismo de transmissão para os mercados financeiros. Custos mais altos de empréstimos levaram a investimentos e gastos mais fracos, uma dinâmica reforçada quando juros mais altos também pesam nas ações e nos preços de outros ativos.
O resultado é que, caso o juro da T-note de 10 anos mantenha vigor, em seus níveis mais fortes desde 2007, esse avanço poderia substituir altas adicionais nos juros pelo Fed.
Dirigentes de início atribuíram o avanço nos juros de longo prazo a notícias melhores na economia. Isso levou investidores a reduzir apostas de que haveria uma recessão, que levaria o Fed a cortar juros no primeiro semestre do próximo ano.
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Mas o avanço cada vez maior das taxas parece ser motivado por fatores que não podem ser facilmente explicados pela perspectiva econômica ou do Fed, com crescentes déficits do governo sendo um importante suspeito. Isso sugere que está avançando o chamado prêmio, o retorno extra que os investidores exigem para investimento em ativos de mais longo prazo.
“Se as taxas de juros de longo prazo seguirem elevadas por causa dos prêmios de mais longo prazo, pode ser necessário elevar menos a taxa dos fed funds”, afirmou Lorie Logan, presidente do Fed de Dallas e com voto nas decisões de política monetária neste ano, na segunda-feira. As declarações de Logan marcam uma inflexão notável de uma dirigente que defendia mais cedo neste ano altas nos juros.
Esses prêmios são algo difícil de mensurar ao certo. Logan delineou três diferentes abordagens e concluiu que, em todas elas, ao menos metade da alta dos retornos dos Treasuries de longo prazo desde o fim de julho reflete o avanço nos prêmios.
Vice-presidente do Fed, Philip Jefferson indicou de modo similar na segunda-feira que os dirigentes iriam “continuar a notar o aperto nas condições financeiras por meio de juros dos bônus mais altos”, ao determinar se sobem de novo os juros neste ano.
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Na semana passada, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que a alta nos juros dos Treasuries desde a última reunião do BC americano seria quase equivalente a uma elevação de 25 pontos-base nos juros de curto prazo. “Se as condições financeiras, que já foram apertadas de modo considerável nos últimos 90 dias, seguirem apertadas, a necessidade de adotar mais ações diminui”, afirmou ela.
Juntas, essas declarações sugerem que o Fed caminha para manter os juros em sua reunião de 31 de outubro e 1° de novembro. Os dirigentes poderiam então esperar para ver como a economia e o quadro financeiro se desenrola, antes de decidir sobre elevar juros em dezembro.
Mesmo se o Fed já tiver concluído o aperto, ele não deve anunciar formalmente a paralisação dos avanços nos juros. Os dirigentes foram várias vezes surpreendidos pela força da economia e preferem manter a porta aberta para elevações adicionais.
Fonte: Dow Jones Newswires
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