Enquanto a inflação brasileira não para de surpreender para baixo, o sócio- fundador da Verde Asset Management, Luis Stuhlberger, avalia que a situação fiscal do Brasil é mais complicada. O déficit fiscal pode ficar em R$ 80 bilhões, longe do patamar de equilíbrio sinalizado pelo
governo. “Não é um bom número”, disse o gestor na tarde de hoje em evento do UBS, mas é um valor que o mercado tem nas projeções e já embutiu nos preços dos ativos.
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“É claro que para ganhar as eleições de 2026 isso não será suficiente. Mas esse problema ficou lá para frente”, disse o gestor. Já para a inflação, ele prevê que fique em 3,40% este ano, e pode ficar até em patamar menor, a depender do que acontecer com os preços de energia.
“O nosso fiscal é preocupante, mas estamos encerrando este com o mesmo déficit fiscal que teve em 2019”, disse Stuhlberger. “A foto é razoável. O filme como a gente sabe é ruim.”
O gestor da Verde comentou que, em relação ao teto de gastos, que já foi abandonado pelo governo, o gasto público em 2024 previsto no orçamento está R$ 300 bilhões a R$ 350 bilhões acima do antigo do teto.
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“Tem o arcabouço, mas ele começa R$ 300 bilhões acima”, disse em evento do UBS, ressaltando que nesse número tem os pagamentos acumulados dos precatórios.
“O Brasil parece ser bom lugar agora para alocar capital moderadamente”, disse, ponderando que a Bolsa já subiu consideravelmente. A visão é que é possível alocar em ativos brasileiros sem imaginar que haverá um retrocesso motivado pelo próprio Brasil.
“Acredito que as reformas feitas pelo [Jair] Bolsonaro e pelo [Michel] Temer estão deixando a gente crescer mais sem ter inflação, o que é muito bom”, disse Stuhlberger, ao justificar o otimismo moderado em alocar recursos em ativos brasileiros. O sócio-fundador da Verde considera que, se, na prática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuar como chefe de Estado e o ministro da Fazenda Fernando Haddad como chefe de governo, o País estará bem. Mas para pautas de aumento de carga tributária, o Congresso parece estar avesso a esse tipo de medida.
Em um horizonte maior, o gestor tem visão otimista em relação à melhora da balança comercial brasileira. “O superávit comercial do agro pode ser um pouco menor este ano, mas não é só questão de preço. A área plantada segue aumentando, assim como a produção de minério e produção de petróleo. Daqui a pouco nós vamos chegar em uma balança comercial de R$ 150 bilhões”, disse.
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Já para o juro real, a visão não é tão otimista. “É impossível o Brasil ter um juro real de 5,6%, 5,7%, porque nossa dívida vai explodir”, comentou ao falar das apostas da Verde, que está há 27 anos no mercado.
Cenário para China
O sócio-fundador da Verde Asset também avalia que a China não vai viver uma quebra abrupta equivalente à crise gerada pelo colapso do Lehman Brothers, em 2008. Ele estima que as taxas de crescimento da chinesas serão cada vez menores, numa queda lenta e gradual, e o gigante asiático exportará deflação para o mundo todo. “A China vai se convencer que o menor dos males é desvalorizar a própria moeda”, diz.
A balança comercial chinesa, porém, é ainda um indicador que vai muito bem, comenta Stuhlberger. “Estão exportando bens de melhor qualidade. Não só para Estados Unidos, mas para mercados emergentes e Rússia.”
O gestor enxerga que os mercados estão prontos para uma realidade com juros mais altos nos Estados Unidos de forma permanentemente. “Mesmo com inflação americana de 2% [ao ano], se tiver Fed Funds a 4% ao ano, ainda vai ter percepção de juros real alta”, afirmou.
Stuhlberger comenta ainda que o Banco Central Europeu (BCE) foi o último a começar a subir juros. “Eles enxergaram pelo retrovisor a inflação chegando, agora fazem a mesma coisa com a inflação desacelerando.” Isto leva a um cenário positivo para investimentos em mercados emergentes, aponta o gestor.
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