Vinland aposta em corte da Selic ainda em 2025; Ibiuna vê ajuste só para o ano que vem
Gestores divergem sobre o ritmo do afrouxamento monetário; Selic a 15% pesa sobre confiança e crédito, mas sinais internacionais podem acelerar decisão do BC
Gestores de investimentos divergem sobre corte de Selic: Vinland prevê queda ainda em dezembro de 2025, enquanto Ibiuna espera ajuste mais adiante. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Os gestores que participaram hoje do Macro Vision, evento do Itaú BBA, divergiram nas previsões sobre o início do ciclo de cortes de juros do Banco Central (BC). Apesar do discurso duro da autoridade monetária, reforçado hoje pelo presidente do BC, Gabriel Galípolo, o sócio-fundador e diretor de investimentos da Vinland Capital, James Oliveira, disse que prevê queda da Selic a partir de janeiro, mas não descartou a possibilidade de isto acontecer em dezembro.
Já Rodrigo Azevedo, sócio e codiretor de investimentos da Ibiuna Investimentos e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, entende que o afrouxamento deve acontecer “um pouco mais para frente”. Ele leva em conta a resiliência econômica e as incertezas das eleições do ano que vem, fatores que devem exigir maior cautela do BC.
Para James Oliveira, a taxa de juros atual, de 15%, já está extremamente alta, gerando arrefecimento de setores sensíveis a crédito, queda nos índices de confiança e, como consequência, baixa nas expectativas de inflação. O quadro, observou Oliveira, mostra que a política monetária está funcionando dentro do esperado, ainda que mais impulsos fiscais possam ser lançados no período eleitoral.
Assim, a visão da Vinland Capital é de que, em janeiro, a expectativa de inflação no horizonte relevante estará abaixo da meta no cenário de referência do BC. “Para nós, é um timing que casa com a possibilidade de iniciar o ciclo de corte de juros”, comentou Oliveira, acrescentando que um corte mais rápido dos juros nos Estados Unidos pode abrir espaço para o BC começar a diminuir a Selic antes, em dezembro. “Tem muito para acontecer até lá, o que pode até antecipar o processo”, afirmou o diretor de investimentos da Vinland.
Com outra opinião, Rodrigo Azevedo entende que a economia brasileira não “está pedindo” corte de juros quando se olha para a taxa de desemprego na mínima histórica, a inflação de serviços elevada e as expectativas desacopladas da meta, com pouca movimentação nos prognósticos de mercado para 2027 e 2028.
“Tem alguma coisa acontecendo. Os canais de transmissão da política monetária estão muito entupidos”, comentou o sócio e codiretor de investimentos da Ibiuna, para quem o presidente do BC, Gabriel Galípolo indica não ter pressa para começar a cortar os juros. Mais cedo, também no Macro Vision, Galípolo ressaltou que a inflação tem mostrado convergência lenta em direção à meta e que ainda há muito esforço a ser feito pelo BC. “Leio o discurso de Galípolo aqui como o de alguém que não tem a menor pressa”, comentou Azevedo.
Ele demonstra ceticismo em relação às previsões de mercado de crescimento de 1,8% da economia em 2026, dada a aposta em medidas do governo para impedir essa desaceleração no ano em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará a reeleição.
Conforme Azevedo, o BC vai mirar, em 2026, a inflação de 2027, quando o comportamento dos preços vai depender do resultado das eleições. Na dúvida, avalia, a tendência é de o BC manter a postura mais conservadora.
Na avaliação de James Oliveira, diretor de investimentos da Vinland, o BC tem, de fato, mantido uma comunicação mais dura, porém o tom pode mudar rapidamente. “A menção sobre manter juros restritivos por período ‘bastante prolongado’ pode ser usada até a véspera. Acho que o BC pode mudar discurso bastante rápido”, avalia.