- Especialistas alertam que é preciso organizar melhor as finanças para evitar que a situação avance para um quadro de inadimplência
- A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela CNC, mostra que 72,9% das famílias estavam endividadas no mês de agosto
- Segundo o Mapa da Serasa, 27% dos brasileiros optaram pelo parcelamento das dívidas em agosto
(Luiza Lanza, especial para o E-Investidor) – Organizar as finanças para garantir que a renda mensal seja suficiente para cobrir todas as despesas tem sido um desafio para muitos brasileiros. Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio e Bens (CNC), mostram que 72,9% das famílias estavam endividadas no mês de agosto.
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Especialistas alertam que é preciso organizar melhor as finanças para evitar que essa situação avance para um quadro de inadimplência. Ou seja, quando as contas atrasadas passam do período do vencimento e se tornam uma dívida negativada, o que impede que a pessoa tome créditos e faça um pedido de empréstimos, o famoso “nome sujo”.
A edição de setembro do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas, da Serasa Experian, reforça a necessidade de compreender melhor os gastos mensais. De acordo com o levantamento, bancos e cartões de crédito representam 29% das causa de dívidas dos brasileiros, enquanto as utilities — contas básicas como água, energia e gás — somam 23%.
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Para Nathalia Dirani, gerente de marketing da instituição, os dados são preocupantes, já que a falta de controle está diretamente relacionada com as despesas essenciais das famílias. “Com a pandemia, percebemos que muitas pessoas perderam seus empregos e tiveram a renda mensal comprometida de alguma forma. Isso nitidamente causou um impacto nos números negativos e também nos tipos de dívidas”, afirma.
Segundo o Mapa da Serasa, 27% dos brasileiros optaram pelo parcelamento das dívidas em agosto. Para Dirani, isso mostra que as pessoas estão predispostas a negociar, quitar as dívidas e voltar a ter acesso ao crédito. Mas, para isso, é preciso disciplina: a recomendação é fazer um levantamento de todas as dívidas que você tem no momento e priorizar o pagamento das contas que incidem juros mais altos.
“Priorize o que é realmente essencial, aquilo que eu preciso garantir no meu orçamento mensal e o que sobra para mim; seja para quitar uma dívida ou usar em outras frentes de gastos. Esse planejamento financeiro é extremamente importante”, reforça Dirani.
Planejamento financeiro: como começar
Para Angela Nunes, planejadora financeira CFP pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros), o primeiro passo para sair do endividamento, ou evitar que o orçamento apertado cause dívidas futuras, é começar um planejamento financeiro com um objetivo central: adquirir capacidade de poupar.
“Se a ideia é sair das dívidas, você tem que ter capacidade de pagamento. Não adianta sentar com o seu credor para negociar uma dívida que esteja em atraso, se você não tem condição de pagar o que você quer renegociar”, afirma Nunes.
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A dica da planejadora financeira é registrar todas as receitas e despesas do mês, passando pelas essenciais, as que podem ser cortadas ou substituídas, até aquelas que estão em atraso. “Por meio desse registro você começa a entender como está a saúde da sua renda e principalmente o que você faz com as suas despesas”, diz.
Outro ponto que merece atenção é compreender se o seu endividamento tem uma motivação pontual, causado por imprevistos ou situações de emergência, ou se acontece com maior frequência por uma questão de descontrole com o dinheiro.
Se você usa o cartão de crédito ou utiliza o limite do cheque especial, por exemplo, precisa ter cuidado com a cobrança dos juros. As taxas são robustas e podem se tornar uma areia movediça, que você bota o pé e vai se afundando cada vez mais em outras dívidas.
O cartão pode ser um grande aliado das finanças pessoais, mas precisa ser utilizado com organização e inteligência para não cair em armadilhas. Antes de fazer uso dessa ferramenta, tenha certeza de que você está preparado para lidar com as compras a prazo e já tem um controle maior do seu próprio dinheiro.
Corte despesas e aumente a renda
O desafio de encarar as despesas é conscientizar o que realmente é essencial e o que pode ser deixado de lado, mesmo que momentaneamente. O fato é que não existem saídas fáceis.
“Para sair do vermelho é necessário se debruçar com a família sobre as despesas e verificar o que é possível ser ajustado, cortado e reduzido. Não é um movimento indolor. Às vezes a pessoa tem uma gordura e pode ficar mais mais tranquila de fazer um determinado corte; às vezes não”, diz Nunes, da Planejar.
Outra alternativa é buscar fontes paralelas para complementar a renda, com atividades ou pequenos negócios que possam ser feitos dentro de casa e ajudem a completar as contas no final do mês.
Planeje os gastos futuros
A aproximação do fim do ano é um bom momento para pensar a importância do planejamento de longo prazo, visto que é um período de festas e, consequentemente, de maiores gastos. Nunes faz um alerta à necessidade de construir uma reserva para os eventos festivos que já são fixos no nosso calendário, mesmo que não seja fácil.
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“Na medida do possível, o ideal seria guardar o dinheiro para as despesas das datas festivas ao longo dos 12 meses e começasse novamente este processo durante o ano seguinte. A vida financeira tem muito de hábito”, diz a planejadora financeira.
Peça ajuda
Em casos mais críticos de superendividamento, quando há dívidas em mais de uma instituição e a possibilidade de pagar as dívidas coloca em risco a renda de subsistência dessa pessoa, a indicação é pedir ajuda aos órgãos públicos da sua cidade ou estado, como Procons, Defensorias Públicas e Ministérios Públicos.
Em São Paulo, por exemplo, o Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) possui o Programa de Apoio ao Superendividado, em que consumidores do estado recebem auxílio financeiro para a negociação de dívidas.
A especialista da Planejar defenda ainda que, assim como no registro do orçamento mensal, esses programas ajudam a população endividada a pensar a vida financeira a longo prazo. “Planejamento financeiro não tem mágica, é um hábito. Esse é um processo para você praticar todos os dias e fazer com que isso se torne parte do seu jeito de pensar a sua vida financeira”, diz.
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