- Impressão já estava prevista, porém foi adiantada porque há menos dinheiro em circulação
- Entesouramento é consequência de as pessoas estarem guardando dinheiro em casa e comprando menos no comércio
- Medida não tem relação com a ideia de "imprimir dinheiro" defendida por Henrique Meirelles para conter a crise
O Banco Central antecipou a impressão de R$ 9 bilhões em dinheiro vivo por causa do coronavírus. Não se trata de uma nova estratégia do governo para conter os reflexos econômicos da pandemia, mas sim um efeito da mudança de comportamento dos brasileiros em meio à crise atual.
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A produção já estava prevista na programação anual da Casa da Moeda. Contudo, o BC antecipou para este mês o pedido de R$ 9 bilhões em cédulas ao ter constatado que há “entesouramento do dinheiro no país”. Em nota, o BC explicou que esse processo ocorre porque as pessoas estão guardando dinheiro em vez de colocar em circulação.
“O pedido visa a construir estoques de segurança e mitigar eventuais consequências do fenômeno de entesouramento que se observa desde o início da pandemia. O BC entende que o entesouramento pode ser consequência de três fatores: saques por pessoas e empresas para formação de reservas, diminuição do volume de compras no comércio em geral e porque parcela considerável dos valores pagos em espécie aos beneficiários dos auxílios [como o auxílio emergencial] ainda não retornou ao sistema bancário”, disse o Banco Central, em nota reproduzida pela Agência Brasil.
Henrique Meirelles defendeu “imprimir dinheiro” para combater a crise
No início de abril, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, sugeriu ao governo “imprimir dinheiro” para combater a crise do coronavírus. A colocação do atual secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo era de natureza diferente da medida literal adotada pelo BC.
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Meirelles defendeu a “expansão da base monetária”. Ou seja, aumentar a emissão de títulos públicos e injetar liquidez na economia.
“Não é exatamente (imprimir) dinheiro no sentido de dinheiro físico. Ele expande a moeda porque a expansão se dá principalmente em contas correntes, das empresas, dos bancos, é distribuído isso (por meio das contas bancárias). Então, é na realidade uma expansão contábil. Não há risco nenhum de inflação nessa situação (de recessão)”, disse Meirelles, em entrevista à BBC.
A ideia de Meirelles foi rechaçada por Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, que a chamou de perigosa.
Economistas ouvidos pelo E-Investidor à época apresentaram visões divergentes.
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“O instrumento que o Banco Central tem nesse momento para fazer esse controle é cortar a taxa Selic”, disse Alexandre Scwartsman, ex-diretor de assuntos econômicos do Banco Central.
Por outro lado, Nelson Marconi, professor de economia da FGV EAESP, apoiou a ideia. “O que causa a inflação é demanda muito aquecida. Quando a economia está muito aquecida, injetar mais dinheiro pode estimular esse processo. Mas na situação atual, com essa parada total, não há a mínima possibilidade de que a medida pressione a inflação.”
Selic deve ir a 2,25% em junho
Na época da afirmação de Meirelles, a Selic estava a 3,75%. A taxa básica de juros foi cortada para 3% no início de maio, com a indicação de um novo corte para 2,25% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em junho. Um ritmo de redução com potencial de estimular rapidamente a economia no pós-pandemia.
“A curva de juros fechou de 3% para 2,5% no curto prazo, já a partir de 2025 tem uma abertura maior. Isso permite investimentos em prefixados acima de cinco anos com juros acima de 8% ao ano”, apontou André Fernandes, head de produtos da Ágora Investimentos, em entrevista ao Broadcast.