- O metaverso engloba diversos territórios digitais. Cada um é como uma cidade virtual 3D onde os avatares vivem, trabalham e se divertem
- Mas o investimento em imóveis no metaverso ainda é altamente especulativo, e ninguém sabe ao certo se esse boom é o próximo grande sucesso ou a próxima grande bolha
- Qualquer pessoa que entre em um mundo virtual pode comprar ou negociar arte, música e até mesmo casas como tokens não fungíveis (NFTs)
(Debra Kamin, NYT) – Justin Bieber se apresentou em novembro, mas o show não aconteceu em um estádio ou arena. Assim como as recentes apresentações de Ariana Grande, The Weeknd e Travis Scott, este show ocorreu em um metaverso, o mundo virtual que transforma a Internet em uma experiência imersiva de quatro dimensões.
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Fãs de todo o mundo assistiram ao avatar de Bieber cantar músicas de seu mais recente álbum de sucesso, “Justice”. Os investidores também estavam observando, preparando-se para um boom digital que parece estar a apenas alguns meses de distância, eles estão comprando casas de shows, shoppings e outras propriedades no metaverso.
O interesse por esse universo digital disparou em outubro, quando Mark Zuckerberg anunciou que o Facebook passaria a se chamar Meta, um esforço para capitalizar a fronteira digital. O mercado global de bens e serviços no metaverso em breve valerá US$ 1 trilhão, de acordo com a gestora de ativos digitais Grayscale.
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O metaverso engloba diversos territórios digitais. Cada um é como uma cidade virtual 3D onde os avatares vivem, trabalham e se divertem. Qualquer pessoa que tenha tido contato com jogos famosos como “Fortnite”, “Animal Crossing” e o universo “Roblox” teve o gostinho de como eles são.
Em cada um deles, elementos que incluem realidade virtual, streaming de vídeo, jogos para dispositivos móveis, avatares e inteligência artificial são combinados em experiências imersivas digitais.
Mas o investimento em imóveis no metaverso ainda é altamente especulativo, e ninguém sabe ao certo se esse boom é o próximo grande sucesso ou a próxima grande bolha. Os especialistas em tecnologia acreditam que o metaverso se tornará uma economia totalmente funcional em poucos anos e oferecerá uma experiência digital síncrona que estará tão presente em nossas vidas como o e-mail e as redes sociais estão atualmente.
A moeda nesses mundos digitais é a criptomoeda, já que as finanças no metaverso são movidas pelo blockchain – um livro-razão público distribuído digitalmente que elimina a necessidade de intermediários, como um banco. Qualquer pessoa que entre em um mundo virtual pode comprar ou negociar arte, música e até mesmo casas como tokens não fungíveis (NFTs), que são itens de coleção baseados em blockchain e representações digitais de objetos do mundo real. O NFT serve como comprovante de propriedade e não é intercambiável.
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E, nos últimos meses, o volume de transações de imóveis comerciais no metaverso tem aumentado.
Em outubro, a Tokens.com, uma empresa de tecnologia blockchain focada em NFTs e imóveis no metaverso, adquiriu 50% da Metaverse Group, uma das primeiras empresas imobiliárias virtuais do mundo, por cerca de US$ 1,7 milhão.
A Metaverse Group tem sede em Toronto, mas seu escritório central virtual está em um mundo chamado Decentraland, em Crypto Valley, que é o metaverso correspondente ao Vale do Silício. O Descentraland também tem bairros para jogos de azar, compras, moda e arte.
“Em vez de tentar criar um universo como o Facebook, eu pensei: ‘Por que não entramos e compramos lotes de terrenos nesses metaversos, e, então, nos tornamos os proprietários?”, disse Andrew Kiguel, cofundador e CEO da Tokens.com.
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Desde essa aquisição, a Tokens.com abriu caminho digital em um arranha-céu em Decentraland. Louis Vuitton, Gucci, Burberry e outras marcas de luxo já entraram no metaverso via NFTs, um movimento que deixa os executivos da empresa otimistas quanto a perspectiva de que o edifício da Tokens.com em breve gerará receita por meio de locações e publicidade para marcas como essas.
Para aqueles se perguntando o motivo de uma empresa querer investir em um escritório virtual no metaverso, Michael Gord, cofundador da Metaverse Group, disse que os céticos deveriam checar as tendências desencadeadas pela pandemia.
“À medida que mais pessoas participam, é para lá que você vai com os amigos, onde você tem experiências como conferências e shows”, disse ele. “É inevitável que o metaverso seja a rede social nº 1 do mundo.”
A Metaverse Group tem um fundo de investimento imobiliário e planeja criar um portfólio de propriedades em Decentraland, assim como em outras regiões virtuais, entre elas Somnium Space, Sandbox e Upland. A Internet talvez seja infinita, mas os imóveis virtuais, não — Decentraland, por exemplo, tem 90 mil lotes de terreno, cada um deles com aproximadamente 200 metros quadrados. Entre os investidores, há uma sensação de que há ouro nessas colinas pixeladas, disse Gord.
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“Imagine se você fosse para Nova York quando ainda era só terra e tivesse a opção de comprar um quarteirão do SoHo”, disse ele. “Se alguém quiser comprar um quarteirão de imóveis no SoHo hoje, é valiosíssimo; não está no mercado. A mesma experiência vai acontecer no metaverso.”
Na semana passada, a Tokens.com fechou uma venda de terrenos ainda maior no distrito de moda de Decentraland por cerca de US$ 2,5 milhões. Segundo a empresa, essa foi a maior transação imobiliária na história do metaverso; ela planeja transformar a área em um centro de comércio virtual para marcas de moda de luxo, no estilo da Rodeo Drive ou da Quinta Avenida.
Kiguel estima que seu portfólio no metaverso seja avaliado em até 10 vezes mais do que seu preço de compra, e grande parte do raciocínio soará semelhante para qualquer pessoa que já comprou ou vendeu um imóvel. “É localização, localização, localização”, disse ele. “Um lote de terra no centro da cidade, que tem muito tráfego de visitantes, vale mais do que um nos subúrbios. Há um valor pela escassez.”
Muitos desses territórios digitais lembram mundos de fantasia de desenhos animados com cores que lembram guloseimas, enquanto outros são réplicas digitais do planeta que já conhecemos e amamos. A SuperWorld, uma plataforma imobiliária virtual que mapeou digitalmente todo o globo terrestre, oferece 64,8 bilhões de terrenos – cada um à venda como um NFT. O Taj Mahal está disponível, assim como, provavelmente, a casa onde você morou quando criança.
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Os proprietários podem comprar terrenos por razões sentimentais ou por astúcia, mas seja como for, assim que adquirem o NFT, eles passam a receber uma parte de qualquer tipo de negócio que ocorra naquele pedaço de propriedade. “Você pode comprar locais que você adora, seja no Central Park ou nas pirâmides do Egito”, disse Hrish Lotlikar, cofundador e CEO da SuperWorld. “O que você está comprando é o terreno virtual que cobre o mundo nesses locais.”
E conforme o metaverso entra mais profundamente na percepção cotidiana de nosso universo, há um novo território onde a divisão entre eles deixa de existir: o omniverso.
O mundo real e o mundo on-line se unificam em um universo híbrido, onde o fungível e o não fungível se encontram em vários pontos, disse Justin Banon, cofundador e CEO da Boson Protocol, que permite a venda de produtos físicos no metaverso como NFTs. Os imóveis no metaverso abrigarão o comércio que impulsionará essa transformação.
“Isso já está acontecendo, apenas em um grau diferente”, disse ele. “Mas acho que em cinco anos, minha filha não vai permitir que eu vá buscá-la na escola se eu não estiver usando um par de tênis que não tenha também um NFT.”
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Em junho, a Boson Protocol comprou um quarteirão inteiro do distrito de jogos de azar da cidade de Vegas em Decentraland. O espaço, segundo a empresa, se tornará um ponto de comércio onde produtos do mundo real podem ser trocados por NFTs; esses mesmos NFTs, fazendo as vezes de representações digitais de produtos físicos também poderão ser trocados por itens em lojas físicas.
“Todo mundo reconhece que estamos no início e essas coisas serão antiguidades dos dias modernos”, disse Banon. “Portanto, comprar nesse estágio é extremamente lucrativo”. Existem apenas alguns territórios digitais nos quais os investidores podem comprar e vender imóveis, e todos eles usam sua própria criptomoeda. A de Decentraland é chamada de MANA, por exemplo. Decentraland também tem um mercado onde as pessoas podem pesquisar NFTs, inclusive terrenos para venda. “É quase como um serviço de listagens múltiplas”, disse Kiguel.
A Wave, uma empresa de entretenimento que organiza shows interativos, como aquele de Bieber, obtém lucro com mercadorias virtuais e patrocínios de marca para os eventos, que são realizados em zonas neutras ao invés de uma arena digital. A empresa ainda não está monetizando imóveis, mas Adam Arrigo, cofundador e CEO, disse que está pesquisando as possibilidades.
“Essas plataformas, como o Decentraland e o Sandbox, são pioneiras em credenciar esses terrenos, essas vitrines”, disse ele. “Nos próximos anos, o que fazemos se tornará muito mais comum.” /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA