- Uma pesquisa conduzida pelo JPMorgan, maior instituição de serviços financeiros do mundo, revelou que 41% dos clientes diz esperar que o Bitcoin volte a valer US$ 60 mil até o final de 2022
- Especialistas acreditam que o que vai ditar o preço do Bitcoin em 2022 é curva de juros do mercado americano, que pode desincentivar os investimentos de risco em caso de alta de juros
(Isabela Moya e Luíza Lanza) Uma pesquisa conduzida pelo JPMorgan, maior instituição de serviços financeiros do mundo, revelou que 41% dos clientes diz esperar que o bitcoin volte a valer US$ 60 mil até o final de 2022.
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Já 23% preveem que o preço da criptomoeda seja de US$ 20 mil e outros 23% acreditam que chegue a US$ 40 mil.
Os que acreditam que o valor do bitcoin não ultrapassa os US$ 10 mil neste ano somam 2%, enquanto 9% acham que a criptomoeda irá chegar a US$ 80 mil. Já 5% creem que o ativo irá alcançar os US$ 100 mil ou mais.
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Andrey Nousi, CFA e CEO da Nousi Finance, destaca que a pesquisa é feita entre os clientes do banco, por isso reflete mais as expectativas dos investidores do que de analistas que acompanham o setor. Apesar disso, para Nousi, o resultado faz sentido já que o bitcoin – atualmente cotado em cerca de US$ 41 mil – atingiu a máxima de US$ 68 mil em novembro de 2021.
De lá para cá, a criptomoeda se desvalorizou acompanhando um movimento de queda na bolsa de valores dos Estados Unidos, desde que o Fed, o Banco Central americano, anunciou que deve fazer de três a quatro novos aumentos na taxa de juros. Na opinião do especialista, para que o bitcoin volte a ser avaliado na casa dos U$$ 60 mil, é preciso que o cenário de inflação e juros do gigante americano volte a se alinhar.
“Seria preciso, nas próximas semanas, que as medições de inflação dos EUA saiam pelo menos em linha com o que está sendo esperado pelo mercado. Se possível, até saindo menor do que o esperado”, afirma. Este cenário, explica Nousi, indicaria ao Fed que a pressão inflacionária está com viés de baixa, o que reduziria as pressões para o aumento da taxa de juros. “Isso traria mais conforto para os investidores focarem no que mais importa: crescimento da economia e dos lucros”, explica.
O especialista afirma ainda que existem outros fatores que podem catalisar essa valorização ao longo de 2022, como a adoção de criptomoedas por países, como fez El Salvador, e aprovação de um ETF de Bitcoin físico por parte da SEC, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) americana. Nesse caso, a criptomoeda poderia fechar o ano atingindo a marca de US$ 100 mil.
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Apesar de acreditar na recuperação do setor, o CEO da Nousi Finance não descarta a possibilidade de um cenário revés: “Se a inflação americana permanecer alta a 5%, 6% ou 7%, é um cenário negativo para todos os investimentos de risco, incluindo ações, países emergentes, a cotação dólar real e as criptomoedas”, diz.
Bruno Bandiera, analista de Criptos da Genial Investimentos, concorda que o que vai ditar o preço do Bitcoin em 2022 é a curva de juros, um fator de mercado tradicional. “Nos últimos dois anos, o cenário foi de muita liquidez e juros baixos, o que favorece que o investidor busque ativos de risco, porque o título de renda fixa não está pagando o suficiente. Mas um cenário pressionado pela curva de juros alta gera um custo de oportunidade maior em se investir em um ativo de risco, o que levaria os investidores a irem para os títulos de renda fixa e deixarem de investir nas criptomoedas”, explica.
O analista destaca que as criptomoedas seguem um padrão de grande valorização em um período curto de tempo, de um a dois anos, e que esse cenário já se repetiu em outros momentos. Dessa vez, porém, o mercado está mais maduro e tem mais instrumentos para abrandar possíveis quedas no valor do ativo. “Se o cenário macro impressionar, o Bitcoin pode subir a patamares acima de US$ 60 mil”, afirma Bandiera.
Fabrício Tota, diretor do Mercado Bitcoin e colunista do E-Investidor, reforça o otimismo e diz que enxerga espaço para uma alta que ultrapasse os US$ 60 mil. “Curioso é ver essa pesquisa no relatório do banco cujo CEO já considerou o bitcoin “worthless” (sem valor). Ainda mais curioso é ver clientes otimistas, enxergando um potencial de quase 50% no preço do bitcoin”, pontua.
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Para o investidor interessado em criptos, Bandiera, da Genial, destaca que se a curva de juros surpreender negativamento, o cenário deve ser adverso principalmente para as pequenas criptomoedas. “O bitcoin é um índice de mercado, é menos volátil que as outras moedas. E geralmente ativos de menor volatilidade protegem mais em momentos de queda. Então o bitcoin seria o ativo ideal para se estar alocado em um momento ruim para criptomoedas, caso o investidor ainda queira investir no setor”, explica.
A pesquisa, que foi conduzida com 47 clientes da empresa entre 13 de dezembro e 7 de janeiro, perguntou aos entrevistados qual a meta de pontos que eles acreditam que o S&P 500 irá alcançar. 48% respondeu 5.000 e 22%, 5.200. Já 17% estimam um valor de 4.800, 7% apostam em 4.400 e 4% em 4.600. Apenas 2% acreditam que ultrapassa os 5.400.
Em relação à pandemia, 70% disseram acreditar que ela irá acabar após a atual onda da Ômicron, enquanto 30% discordam.
Recomendações de investimentos nos EUA
No documento de divulgação da pesquisa, a JPMorgan também deixou algumas recomendações sobre investimentos nos Estados Unidos. No curto prazo, a sugestão é comprar os índices norte-americanos na baixa, dadas as condições de sobrevenda. Já a médio prazo, vale a pena ficar atento à China, Europa e mercados emergentes. Ainda segundo analistas, pequenas e médias empresas estão em uma fase atrativa – baseando-se no valuation delas.
“Os retornos de títulos mais altos não devem ultrapassar ações, mas apoiamos a rotação de empresas que projetam crescimentos muito elevados para empresas de valor [energia, saneamento, água, por exemplo]”, diz o relatório.
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A empresa também recomenda os títulos de 10 anos do Tesouro Nacional dos EUA, apesar de sua recente liquidação, pois vê espaço para maiores rendimentos com a mudança hawkish nas expectativas do Fed.
“No crédito, apesar dos receios em relação à Ômicron o rendimento crescente dos títulos, vemos os spreads ficando mais apertados enquanto os negócios são bem absorvidos pelo mercado primário”, afirmam os analistas da empresa. “2022 deve oferecer oportunidades de compra com o ‘alargamento’ dos spreads.”
JPMorgan também se diz otimista em relação ao petróleo dada a forte demanda, que deve facilmente absorver o aumento de produção pela OPEP+.